Bolsonaro é o primeiro líder político anti-vacina da história, diz pesquisador

Autor do livro Antivax - Resistência às vacinas do século 18 aos dias de hoje, o historiador Laurent-Henri Vignaud diz que "é uma situação excepcional, infelizmente para os brasileiros"

Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
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Autor do livro Antivax - Resistência às vacinas do século 18 aos dias de hoje e professor da Universidade de Borgogne, o historiador francês Laurent-Henri Vignaud afirmou que Jair Bolsonaro é o primeiro líder político da história a atuar contra a vacinação.

"É possível que Bolsonaro seja um exemplo único. Não saberia citar outro. É uma situação excepcional, infelizmente para os brasileiros", disse o historiador a Daniela Fernandes, da BBC Brasil.

Deparado com a declaração de Bolsonaro, de que as pessoas poderiam virar "jacaré" ao tomarem a vacina, Vignaud se surpreendeu e afirmou que esse é um argumento do "final do século 18".

"Ele disse isso? É incrível. Realmente esse é um discurso contra a vacina muito antigo, do final do século 18. Afirmava-se que o homem se transformaria em animal por causa do imunizante. Caricaturas da época da vacinação contra a varíola mostravam vacas que saíam de braços humanos e também vacas que cuspiam pessoas vacinadas", afirmou.

O historiador diz que a atitude de chefes de Estado é muito importante e que o discurso negacionista fez, por exemplo, Donald Trump perder as eleições nos EUA.

"Agora Bolsonaro mudou o discurso. Eles são obrigados a fazer isso porque estão numa lógica de seguir a vontade do povo. Se deixarem o povo morrer, como aconteceu com Trump, custa caro em termos políticos".

Segundo ele, os movimentos antivax ganharam força nos últimos tempos e grupos de teorias conspiratórias, que não se interessavam por discussões sobre vacinas, acabaram aproveitando a pandemia para roubar o espaço de movimentos antivacinas tradicionais para difundir teses delirantes.

Vignaud conta que na época em que o Instituto Pasteur foi inaugurado, em 1888, em Paris, os antivacinas alegavam que o local era uma "fábrica de vírus", onde se produziam doenças.

Esse mesmo tipo de alegação ressurgiu na pandemia de covid-19, com teorias conspiratórias que especulam que a doença foi inventada para fabricar vacinas que teriam como finalidade controlar ou até mesmo matar grande parte da população.