"Bolsonaro todos os dias me cria tensão", diz prefeito de Manaus

"Todo dia eu vejo mortes de pessoas que conheço", afirma Arthur Virgílio sobre a situação dramática vivida pela capital do Amazonas

Covas coletivas em Manaus, Amazonas - Foto: Reprodução
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Desesperado com a situação que a pandemia do coronavírus causa em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) diz que sua relação com Jair Bolsonaro é de tensão diária e diz que a ajuda federal só chegou à cidade após a visita do ministro da Saúde, Nelson Teich, no último final de semana.

"Vou te dizer como lido com o Bolsonaro. Bolsonaro todos os dias me cria tensão. Quando ele briga com fulano, com beltrano, com não sei quem. Ele tem um inimigo por dia. E eu crio de vez em quando problemas para ele quando respondo, quando falou ou dou uma entrevista", diz o tucano em entrevista à BBC, dizendo que não concorda com a política externa de Bolsonaro e, por isso, pediu ajuda a desafetos do presidente, como o mandatário francês Emannuel Macron, e a ativista Greta Thunberg.

"Eu me dirigi ao G7, aos líderes principais. Me dirigi a eles. Se ajudarem, ajudaram, se não ajudarem, é porque não compreendem a causa amazônica. E por que a Greta? O pessoal do Bolsonaro cai em cima de mim. Quando vejo a chamarem de pirralha, eu já sei de onde vem", diz Virgílio, que diz que a ativista mirim "está conversando conosco para chegarmos a alguma coisa objetiva, alguma coisa prática".

Choro
Virgílio voltou a chorar a falar da situação na cidade, que tem cerca de 120 enterros por dia - enquanto a média ficava entre 20 e 30 - durante a pandemia.

"Todo dia eu vejo mortes de pessoas que conheço. Ou pessoas humildes dos bairros, cujos nomes eu identifico, ou pessoas ricas que eu conheço também, pessoas de classe média que eu conheço", disse ele, lembrando ainda da tensão social causada pela pandemia.

"E a impotência, e a falta de recursos, os recursos não vinham, e não vieram ainda, nós estamos lutando com nossas próprias forças. E morrendo gente, morrendo gente. Coveiro quase espancado por filho de uma pessoa que ia ser enterrada. O coveiro! O coveiro! Se tivesse que espancar, espancasse o governador, espancasse a mim, mas o coveiro. Quer dizer, alguém não se condoer com isso, não se emocionar com isso… Me parece que pelo menos é alguém diferente de mim", afirmou.

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