Coronavírus explode em favelas e moradores vendem até celular para comprar comida

Na Rocinha, um homem morreu de Covid-19 17 dias após perder o pai para a doença. Lideranças contestam número de casos na comunidade

Alexandre Moreira Mariano morreu na Rocinha 17 dias após perder o pai (Foto: Arquivo pessoal)
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Conforme alertado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quinta-feira (16), o coronavírus já faz suas vítimas em países e comunidades pobres do mundo. Nas favelas do Brasil, a crise sanitária e econômica agravou o cenário de desemprego, e moradores vendem os próprios pertences para garantir comida em casa.

Em entrevista ao Buzzfeed Brasil, o jovem Arthur Carvalho, de 22 anos, morador da Rocinha, comunidade na Zona Sul do Rio de Janeiro, conta que ele e sua esposa perderam o emprego em restaurantes com a chegada da crise. Para sobreviver nos primeiros dias, a mulher precisou vender o próprio celular.

“Estou desempregado e pago aluguel. O dono da casa me aliviou mas pediu pra pagar as contas da casa, a água. Eu não consigo entrar no seguro desemprego porque preenchi alguma coisa errada e os locais estão fechados, não dá pra resolver nada”, lamentou.

Nesta segunda-feira (13), uma sequência de mortes trágicas por conta da doença chocaram a comunidade do Rio. O garçom Alexandre Moreira Mariano, de 45 anos, morreu vítima do coronavírus apenas 17 dias depois de perder o pai, o aposentado Antônio Edson Mesquita Mariano, de 67 anos, para a mesma doença.

A viúva do aposentado, Maria Lúcia Moreira Mariano, de 63 anos, também foi infectada pela Covid-19 e está internada desde o último dia 31 de março.

Na Rocinha, o Ministério da Saúde contabiliza ao menos 36 infectados e três óbitos por conta da doença. A superlotação das comunidades é um dos fatores que agrava o contágio do vírus, pois torna o distanciamento recomendado pelas autoridades de saúde algo quase impraticável.

Subnotificação

Em todas as favelas do Rio, ao menos 10 pessoas já morreram por causa da Covid-19. Lideranças das comunidades, no entanto, contestam o número. Para elas, a quantidade de infectados e de mortos pode ser muito maior, já que o país ainda não tem testes o suficientes para diagnosticar todos os doentes.