Após mais um capítulo do escândalo que envolve a compra de vacinas contra a Covid-19 pelo governo de Jair Bolsonaro, os integrantes do chamado grupo majoritário da CPI do Genocídio tomaram uma decisão, nesta sexta-feira (16).
Os senadores vão convocar para depor o empresário, identificado como John, que aparece em vídeo negociando com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a venda da CoronaVac, de acordo com reportagem de Renato Machado e Mateus Vargas, na Folha de S.Paulo.
Pazuello prometeu a um grupo de intermediários comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac, na época em que ainda era ministro da Saúde. As vacinas foram formalmente oferecidas ao governo por quase o triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan.
A reunião foi registrada em vídeo no qual Pazuello aparece ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior.
A reunião aconteceu no dia 11 de março, fora da agenda oficial dentro do ministério.
O vídeo obtido pela Folha já está de posse da CPI do Genocídio, no Senado. Ele foi realizado no gabinete do então secretário-executivo da pasta, o coronel da reserva Elcio Franco. Nela, Pazuello relata o que seria o resumo do encontro.
“Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população”, diz o então ministro, assegurando que a compra seria feita diretamente com o governo chinês.
A proposta da World Brands oferece 30 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac pelo preço unitário de US$ 28 a dose. Dois meses antes da reunião, o governo havia anunciado a aquisição de 100 milhões de doses da Coronavac do Instituto Butantan, pelo preço de US$ 10 a dose.
Hidra
“Estamos diante de uma hidra, que a gente corta uma cabeça e aparece uma outra”, comparou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.
Ele destacou que a comissão vai aproveitar o recesso para averiguar a atuação de John.
O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou a contradição de Pazuello, que disse, em depoimento à comissão, que em jamais negociou diretamente a compra de vacinas.
“Acho que é uma profunda contradição. Ele vai ter que se expressar diante dessa contradição quando voltar à CPI, provavelmente em agosto ou setembro. Demonstra mais uma vez que ele mentiu”, destacou.
“Dependendo de quem fosse a empresa, ele poderia, sim, sentar-se à mesa e negociar. E o que chama a atenção é que, geralmente, são empresas intermediárias e não àquelas que são produtoras de vacinas, levantando aí um véu de desconfiança sobre as intenções últimas de um tipo de negociação como essa”, acrescentou Costa.