Dr. Caseiro explica por que a vacina AstraZeneca/Oxford dá mais reação do que a CoronaVac

“Não existe vacina que não tenha um grau de efeito adverso, de maior ou menor intensidade”, relata o infectologista

Foto: Divulgação/AstraZeneca
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Conforme avança o desenvolvimento da vacinação contra a Covid-19, aumentam as opções em relação aos imunizantes à disposição da população. Nesse sentido foram observadas diferenças significativas no que se refere às reações adversas que podem ocorrer nos indivíduos que recebem, principalmente, a CoronaVac e a AstraZeneca/Oxford, as duas mais utilizadas até o momento no país.

O médico e doutor em infectologia, Marcos Caseiro, explica as razões que fazem com que a AstraZeneca provoque mais reação do que a CoronaVac, por exemplo.

“Cada vacina tem seus efeitos adversos próprios. Não existe vacina que não tenha um grau de efeito adverso, de maior ou menor intensidade. Esses efeitos adversos podem ser no local da injeção, porque só o fato de furar o braço com uma agulha vai dar dor local, injetar um líquido dentro pode provocar um edema. Isso é esperado”, conta.

“Agora, há algumas vacinas que dão efeitos sistêmicos. A Astra/Zeneca provoca mais efeito adverso, porque a lógica da construção indica que ela foi feita com um adenovírus de chimpanzé, que dá doença respiratória no animal, não no homem. Em resumo, a Astra/Zeneca é um adenovírus de chimpanzé manipulado e inativado. Quando entra em contato com o ser humano é mais reatogênico, a princípio. Esta é uma justificativa porque provoca mais reação”, relata Caseiro.

Segundo o infectologista, os estudos de fase 3 desse imunizante já mostravam isso: 60% das pessoas tinham efeitos adversos sistêmicos, como canseira e febre. Por isso, metade dos participantes dos testes tomava paracetamol (analgésico e antitérmico).

Efeitos idiossincráticos

A forma de reagir a um medicamento depende de cada um. “Esses efeitos adversos são idiossincráticos. As pessoas são diferentes. Há pessoas que tomam remédio e têm efeitos adversos severos e outras não sentem nada. Existe uma individualidade na resposta a qualquer substância. Isso é determinado geneticamente”, reforça Caseiro.

O médico destaca, ainda, que o imunizante da Pfizer, considerado um dos melhores, não deve ser usado por quem têm história de choque anafilático ou pessoas muito alérgicas. “Essas são aconselhadas a não tomarem essa vacina, a não ser em ambiente hospitalar, porque há registro de choques anafiláticos, embora raros”.

Caseiro menciona o caso da CoronaVac, que apresenta pouquíssima reação. “É uma vacina que é o próprio coronavírus inativado. É uma quantidade de vírus inativado que a pessoa inocula, que não se replica no corpo. Então, os efeitos da CoronaVac são muito menores”.

Sintomas transitórios

Ele ressalta que a grande maioria das vacinas apresenta efeitos locais: dor, vermelhidão, edema, inchaço, sensibilidade e efeitos sistêmicos, ou seja, cansaço, eventualmente febre e dor de cabeça. “Basta tomar dipirona (anti-inflamatório), paracetamol, hidratar bem, porque esses sintomas são transitórios e não duram mais do que um dia, normalmente”, diz.

Caseiro explica, ainda, que a eficácia da vacina não tem relação direta com a intensidade da reação provocada por ela. “É uma ideia atávica de que a pessoa que teve reação mais forte é sinal de que o organismo apresentou melhor resposta. Isso não é verdadeiro. Existe para algumas vacinas, mas na maioria das vezes isso não é uma relação linear. Não tem essa relação da intensidade provocada com a eficácia, ainda que as vacinas mais eficazes sejam as feitas com o vírus vivo atenuado, por exemplo, a da febre amarela, que pode dar reações maiores”, completa o médico.