Em meio à pressão da CPI e após e-mails ignorados, Bolsonaro faz reunião com a Pfizer

Governo tenta recuperar terreno depois de se negar a comprar 70 milhões de doses da vacina a um custo cerca de 50% menor do que foi oferecido a EUA, Reino Unido e União Europeia

Foto: Isac Nóbrega/PR
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Após ignorar 53 e-mails enviados pela Pfizer, desde agosto de 2020, nos quais a empresa cobrava resposta do governo de Jair Bolsonaro em relação à oferta de 70 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, o presidente se reuniu, nesta segunda-feira (14), com o representante da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo.

Pressionado pela CPI do Genocídio, Bolsonaro tenta recuperar terreno com a empresa e antecipar a entrega de 10 milhões de doses para julho. Além de retardar a decisão sobre a aquisição das vacinas, o presidente recusou comprar os imunizantes a um custo cerca de 50% menor do que foi oferecido aos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.

A Pfizer ofereceu ao Brasil os imunizantes ao preço de US$ 10 a dose. Países como EUA e Reino Unido pagaram US$ 20, enquanto para a União Europeia as doses do laboratório norte-americano custaram US$ 18,60.

No entanto, as vacinas foram consideradas caras pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em agosto de 2020.

Os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, também participaram do encontro, além do chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do secretário especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, entre outros assessores.

Alerta

Em carta, de setembro do ano passado, entregue à CPI pelo ex-secretário de Comunicações do governo, Fabio Wajngarten, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, afirmou que já havia feito uma oferta de venda da vacina ao Ministério da Saúde e alertou que a celeridade nas negociações era “essencial” e “crucial” em razão da alta demanda de outros países e ao número limitado de doses.

“Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020”, disse o texto.

Depoimento

Além disso, em depoimento à CPI do Genocídio, no dia 13 de maio, Carlos Murillo, já havia afirmado que o Brasil poderia ter recebido 18,5 milhões de doses da vacina até o segundo trimestre de 2021, caso o governo Bolsonaro tivesse aceitado a oferta feita pelo laboratório em 26 de agosto.