Enquanto Queiroga adia vacinação, morre uma criança de Covid a cada dois dias

O país contabilizou a morte de 301 crianças entre 5 e 11 anos em consequência do coronavírus desde o começo da pandemia até 6 de dezembro

Marcelo Queiroga (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou, nesta quinta-feira (23), que “os óbitos de crianças estão dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais”. Por isso, segundo ele, a pasta não precisa iniciar rapidamente a imunização contra a Covid-19 para a faixa etária de 5 a 11 anos.

Porém, enquanto a equipe de Jair Bolsonaro e o próprio presidente abusam do negacionismo, os números traduzem um cenário bem diferente no Brasil.

O país contabilizou a morte de 301 crianças entre 5 e 11 anos em consequência do coronavírus desde o começo da pandemia até 6 de dezembro. O dado corresponde a 14,3 óbitos por mês ou um a cada dois dias. As informações são da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI).

Essa faixa etária deveria estar sendo vacinada desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante da Pfizer na última semana. Entretanto, o Ministério da Saúde não deu o aval para o início da vacinação.

Os números mostram, ainda, que 2.978 crianças receberam diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19, com 156 mortes, em 2020. Em 2021, já foram contabilizados 3.185 casos, com 145 óbitos, totalizando 6.163 casos e 301 vítimas fatais.

De acordo com a Conitec, até o dia 27 de novembro, houve a confirmação de 1.412 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, também associada à Covid-19 em crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Desses, 85 morreram, segundo o Metrópoles.

A CTAI já havia se manifestado favoravelmente à vacinação de crianças de 5 a 11 anos. “Os benefícios são muito maiores do que os riscos, pilar central de avaliação de qualquer vacina incorporada pelos diversos programas de vacinação, seja no Brasil ou no mundo”, aponta um dos trechos do documento emitido pelo órgão.

As mortes de crianças em consequência da Covid-19 ultrapassam a média anual de vítimas fatais de doenças circulatórias, paralisia cerebral e câncer no cérebro, algumas das principais causas de mortalidade na faixa etária de 5 a 11 anos no país.

Ministério da Saúde oficializa consulta pública

Apesar desse panorama trágico, o Ministério da Saúde promoverá uma consulta pública sobre a vacinação de crianças contra a Covid. A medida foi oficializada nesta quarta (22).

“A faixa etária de 5 a 11 anos é onde se identifica menos óbitos em decorrência da Covid-19. Cada vida é importante. Nós lamentamos por todas as vidas. Agora, o Ministério da Saúde tem que tomar as suas decisões com base nas evidências científicas”, afirmou, sem convencer.

Queiroga mostrou um gráfico e disse que as mortes de crianças por Covid-19 “estão dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais”. Ele usou a frase para justificar a tese de que a pasta pode ter tempo para decidir sobre a vacinação de crianças.

“O lugar para se discutir esses temas é aqui no Ministério da Saúde. A consulta pública visa ouvir a sociedade, isso não é uma eleição, isso não é para opinião de grupo de ‘zap’. Nós queremos ouvir a sociedade, inclusive ouvir os especialistas. Nós não podemos ouvir os especialistas nos canais de televisão. O ministério não se guia pelas opiniões que são exaradas nos canais de televisão, embora respeitemos a imprensa. O lugar de se debater isso com especialistas é em uma audiência pública no Ministério da Saúde”, completou.