Governo Bolsonaro agiu contra CoronaVac e Pfizer, diz CPI da Covid

No dia em que a vacinação completa seis meses, comissão investiga supostos obstáculos do governo contra imunizantes

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Escrito en CORONAVÍRUS el

Por Eduardo Lima

CoronaVac, do Instituto Butantan e desenvolvida pela Sinovac, e Pfizer são as vacinas que respondem por 50,2% das doses aplicadas nos brasileiros depois de seis meses do início da vacinação contra a Covid-19 no país. Mas, se dependesse da vontade de Jair Bolsonaro, nenhuma delas teria sido adquirida pelo governo federal, de acordo com as investigações da CPI da Pandemia.

Os depoimentos e documentos colhidos até agora mostram inúmeros obstáculos impostos nas negociações do Ministério da Saúde na compra da CoronaVac e da Pfizer, enquanto avançava em tempo muito mais curto e sem nenhuma dose entregue, no contrato com a Covaxin, que acabou suspenso após os indícios de fraude apontados pela CPI.

Dificuldades à CoronaVac

A primeira vacina a sofrer com os ataques de Jair Bolsonaro foi a CoronaVac. Em vários momentos, o presidente fez críticas ao governo chinês, afirmou que não compraria nenhuma dose da CoronaVac e duvidava de sua eficácia.

Em 20 de outubro de 2020, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 46 milhões de doses do imunizante, mas foi desautorizado por Bolsonaro no dia seguinte, que mandou cancelar a compra. As negociações foram interrompidas de acordo com o depoimento do diretor do Butantan, Dimas Covas, à CPI. Eduardo Pazuello, ministro da Saúde na época, negou o ocorrido.

O componente político também interferiu nas negociações. João Doria, governador de São Paulo e ex-BolsoDoria, atualmente é adversário de Bolsonaro e pode concorrer contra o mandatário na próxima corrida presidencial.

Dificuldades à Pfizer

Bolsonaro sobre a vacina da Pfizer: “Se você virar um jacaré, é problema seu”.

Essa afirmação já deveria ser o suficiente para demonstrar as dificuldades que o governo Bolsonaro pretendia impor contra a vacina da Pfizer, mas teve muito mais, conforme a CPI da Covid-19 mostrou.

As inúmeras ofertas da Pfizer, que chegavam a 70 milhões de doses, sendo 1,5 milhão de vacinas ainda em 2020, ficaram meses sem resposta.

Em 15 de agosto de 2020 foi feita a primeira oferta, que colocaria o Brasil entre as prioridades da farmacêutica para o recebimento das doses. Sem resposta, a Pfizer cobrou o posicionamento brasileiro diversas vezes, mas sempre sem resposta.

O ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, contou à CPI que uma carta enviada pela Pfizer em setembro ficou dois meses sem resposta.

Pazuello, também em depoimento à CPI, disse que a demora ocorreu por causa de cláusulas abusivas e que só podia avançar na negociação após mudança na legislação com a isenção de responsabilidade em caso de efeitos colaterais por uma vacina de uso emergencial.

O ex-ministro, no entanto, não conseguiu convencer os senadores sobre o motivo para não responder às mensagens da Pfizer, já que uma negociação exige comunicação entre as partes envolvidas.

Em março de 2021, com a enorme pressão por vacinação, o contrato foi finalmente assinado.

Dificuldades à AstraZeneca

Nem a AstraZeneca escapou. Responsável por 46,6% das doses aplicadas até agora, a vacina AstraZeneca/Fiocruz teve sua produção prejudicada por conta dos atrasos nos insumos para sua fabricação.