Macrismo adota tática bolsonarista na Argentina: convoca marcha contra quarentena e “comunismo” de Fernández

Evento estimulado por líderes do partido macrista PRO está programado para esta quinta-feira e foi batizado como “Revolução das Máscaras”

Cartaz de evento macrista contra a quarentena (foto: reprodução)
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Até agora, a Argentina tem sido um dos melhores exemplos mundiais sobre como enfrentar a pandemia do coronavírus, com uma quarentena rígida que tem mantido o país com um baixo número de infectados e mortos.

Porém, esses bons resultados podem começar a desmoronar a partir desta quinta-feira (7), dia em que grupos macristas prometem realizar marchas em várias cidades do país, em um evento que foi chamado de “Revolução das Máscaras”.

A proposta dos seguidores de Mauricio Macri é fazer uma marcha massiva para violas a quarentena imposta pelo governo, e protestar não só contra o isolamento como também contra o “comunismo” que, segundo os idealizadores do evento, é o objetivo por trás dos planos do presidente Alberto Fernández.

As marchas estão programadas para acontecer na quinta-feira, a partir das 18h, (a hora local é a mesma de Brasília).

“Usando máscara e respeitando as distâncias, voltaremos às ruas: não queremos o comunismo”, diz um dos cartazes da campanha para promover o evento. Outro apela: “chega de dar poder absoluto ao governo”.

Há algumas semanas, diferentes figuras políticas macristas vêm tentando difundir boatos a respeito da quarentena e de outras medidas adotadas pelo governo de Fernández. Muitas delas se parecem às fake news típicas dos bolsonaristas – como, por exemplo, a de que os médicos cubanos solicitados pelo governo para ajudar a rede hospitalar pública seriam “espiões treinados para implantar o comunismo”.

A senadora macrista Felicitas Beccar Varela, do partido PRO (Proposta Republicana) foi a autora da teoria mais paranoica. Segundo ela, “o coronavírus é uma desculpa para fechar a economia, fechar as fronteiras e para que todos os negócios e a indústrias quebrem, e depois, eles começam a nacionalizar tudo, comprando as empresas a um preço muito barato, e se não puderem comprá-las, irão expropriar”.

Por sua parte, a presidenta do PRO, Patricia Bullrich (ex-ministra de Segurança Pública do governo de Mauricio Macri) acusou Fernández de estar “apaixonado pela quarentena”.

Alberto Fernández decretou quarentena em todo o país no dia 20 de março, e desde então já a prorrogou duas vezes. A última está programada para terminar no próximo domingo, 10 de maio. O presidente argentino disse que a estratégia do governo se baseia em diminuir as restrições a partir do dia 11 de maio, mas de forma paulatina.

Até esta terça-feira (5), a Argentina já registrou 4,9 casos de pessoas infectadas por covid-19, das quais 260 faleceram e 1,5 mil foram curadas, segundo dados do observatório da Universidade Johns Hopkins. Ainda há, portanto, pouco mais de 3 mil casos ativos no país.

O infectologista argentino Pedro Cahn contesta os organizadores da marcha, especialmente em um argumento que se parece muito ao do bolsonarismo: que o vírus não é tão perigoso assim, já que os números na Argentina são baixos, e que portanto não faria sentido continuar com o isolamento.

“Se não houve tantas vítimas (na Argentina), é justamente graças ao isolamento, e um evento de grande participação agora destruiria todo o trabalho que foi feito, e poderia levar o vírus a se propagar, talvez de forma incontrolável”, explica o cientista.

Em seguida, Cahn faz um comentário irônico: “na academia se usa uma máxima, que pede aos que duvidam da importância da educação que provem a ignorância. Eu diria àqueles que acham a quarentena ruim, que experimentem o coronavírus, a terapia intensiva e a morte, se acham que isso é melhor”.