Médicos que não receitam cloroquina têm sido ameaçados por pacientes

Profissionais relataram ao programa "Conversa com o Bial" que têm recebido ameaças de processos e lamentaram ações do governo

Foto: Reprodução/ Rede Globo
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Em entrevista ao programa "Conversa com o Bial" da última quinta-feira (18), médicos relataram que estão sendo ameaçados por pacientes por não prescrever cloroquina para tratar a Covid-19. O uso do medicamento foi suspenso nesta semana pela OMS para casos de infecção pelo coronavírus.

O programa contou com a presença de dois infectologistas e um médico que trabalha diretamente com o coronavírus para comentar sobre o assunto e sobre a postura da população e do governo Bolsonaro diante da pandemia de coronavírus.

Dr. João Assy trabalha na linha de frente contra a Covid-19 em Satarém, no Pará, e relatou que os médicos têm sido ameaçados pelos pacientes, dizendo que irão processá-los, por não utilizar cloroquina no tratamento. Foi organizada uma carta, com base no protocolo do Ministério da Saúde, para esclarecer e questionar a situação, mas segundo Assy "alguns médicos sentiram que, de alguma forma, nós estávamos interferindo no trabalho deles e reagiram de uma forma muito ruim".

O médico explicou que outros profissionais estariam deixando de prescrever o remédio exclusivamente por razões políticas, para se opor ao presidente Jair Bolsonaro. Contudo, não existe comprovação científica de eficácia da cloroquina no tratamento para coronavírus.

O Dr. Mauro Schechter também criticou a situação e outras posturas do governo: "Medicina não se faz por tuítes, palpites, rumores ou discursos presidenciais. O que nós vivemos foram três ou quatro meses de tuítes, palpites, rumores e discursos presidenciais".

Ele ressaltou a necessidade de se basear na ciência para lidar com a pandemia, e ainda lamentou os ataques que têm sido direcionados aos profissionais de saúde e a recomendação do presidente para que apoiadores invadissem hospitais e contassem os leitos ocupados por pacientes com Covid-19. "É tudo tão absurdo que ultrapassa qualquer ficção científica de péssima qualidade", considerou.

O Dr. Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, ainda acrescentou que acredita que parte das agressões e do medo que parte da sociedade apresenta é resultado da desinformação. "Eu acredito que, quando conseguirmos informar melhor a população, essa minoria voltará a aplaudir os profissionais de saúde", disse.