No Equador, Lenin Moreno segue lógica de Trump e Bolsonaro, e perde controle do coronavírus

Presidente equatoriano apostou em seguir cartilha neoliberal desde a chegada da pandemia ao seu país e adotou medidas como o isolamento vertical, intervenção militar e mais cortes em gastos públicos

Foto: Jonathan Miranda/Presidência Equador
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O Equador se transformou na nova grande tragédia causada pelo coronavírus no mundo. Em Guayaquil, cidade do litoral do paíz, que rivaliza com a capital Quito em importância política e econômica, se vive situação dramática: é a que possui a grande maioria dos casos no país, com mais de 70% do total nacional. A imagens que vêm da cidade chocam mais que os números, mas ambos mostram um cenário que a América Latina teme que possa se propagar por todo o continente.

Oficialmente, o governo reconhece somente 3,2 mil infectados e 120 mortos, mas as cenas de cadáveres empulhados em hospitais ou jogados nas ruas de Guayaquil fazem pensar que este número pode ser muito maior.

Quando apareceram os primeiros infectados, enquanto presidentes como o argentino Alberto Fernández e o peruano Martín Vizcarra decretavam quarentena total em seus países, no Equador, Lenín Moreno preferiu fechar as fronteiras (como fizeram quase todos os países) mas também apostar numa fórmula de militarização, com intervenção militar e toque de recolher das 14h às 5h. No resto do dia, foi mantido um modelo de isolamento vertical, seguindo o modelo de Donald Trump e Jair Bolsonaro, e um inexplicável reforço à política de austeridade, incluindo mais cortes de verbas para a saúde.

O médico Esteban Ortiz, da Universidade das Américas, comentou a situação com o jornal argentino Página/12. Segundo ele, o corte de verbas fez com que não houvesse quase nenhuma vigilância sanitária aos milhares de equatorianos que voltaram massivamente da Espanha nas últimas semanas, após o decreto de Moreno.

“Os que chegaram da Espanha foram os primeiros propagadores da doença, e não houve uma boa política de isolamento para essas pessoas”, afirma o médico.

Para Ortiz, o corte nos investimentos públicos, principalmente em saúde, é o principal problema do país neste momento em que precisa enfrentar a pandemia. “O governo diminuiu os gastos com todos os funcionários públicos, incluindo profissionais de saúde, que foram rotulados como burocratas, e muitos foram demitidos. Isso diminuiu muito a capacidade de resposta do país, agora, diante de uma crise desse tipo”, denunciou Ortiz.

Por sua parte, o economista Pablo Iturralde, do CDES (Centro de Direitos Econômicos e Sociais) do Equador, culpa o governo de Moreno de estar mais preocupado com priorizar o pagamento da dívida externa do que com a situação da saúde, e acusa o presidente de “fazer com que os trabalhadores paguem o custo da quarentena”.

“As reformas de austeridade recomendadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) nos levaram a essa situação. Esses programas são adotados com os resultados financeiros em mente, mas não as consequências para a população. E é isso que estamos vendo hoje”, enfatizou Iturralde.