“O que falta é conhecimento científico”, diz infectologista sobre polêmica com CoronaVac

Para Marcos Caseiro, a politização da vacina Sinovac/Butantan prejudica o debate: “Eu acho que a Anvisa vai esperar para aprovar as duas juntas, a CoronaVac e a de Oxford”

Doses da CoronaVac - Foto: Governo do Estado de São Paulo
Escrito en CORONAVÍRUS el

O centro dos debates entre os brasileiros, desde terça-feira (12), foi a divulgação, por parte do Butantan, dos dados referentes à eficácia da CoronaVac. O que chamou a atenção foi o número de 50,38% de eficácia global da vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o instituto brasileiro.

Para o infectologista Marcos Caseiro, a segurança da CoronaVac é indiscutível. "A grande questão é a politização”, disse, se referindo à disputa entre o governador João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro pela “paternidade” da primeira vacina.

“Infelizmente, o que falta é conhecimento científico e a discussão fica nesse ponto de vista absolutamente raso”, reflete Caseiro. “Eu, particularmente, acho que a Anvisa (Agência Nacional e Vigilância Sanitária) vai esperar para aprovar as duas vacinas juntas, a CoronaVac e a de Oxford”, avalia.

A chamada “politização” do tema, entre os governantes federal e estadual, acaba influenciando a população, que fica no meio do embate, precisando de esclarecimentos reais de quem verdadeiramente entende do assunto: os profissionais da Saúde.

A tentativa de desqualificação da CoronaVac, por parte de Bolsonaro e seus apoiadores, após a divulgação dos dados referentes à eficácia do imunizante, é um exemplo claro da priorização de interesses e conveniências das autoridades, em detrimento de conhecimento científico.

“Quando se vai ao posto de saúde para receber qualquer vacina, alguém pergunta qual é a porcentagem de eficácia ou a procedência dela? Certamente, ninguém”, reforça Caseiro.

O infectologista Marcos Caseiro - Foto: Reprodução/YouTube

Mortes e internações

O infectologista aprofunda a questão principal, que deveria ser o interesse maior dos governantes, e questiona: “Hoje, qual é o nosso principal problema relacionado ao coromavírus? São as taxas de mortalidade e as internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Este deve ser o entendimento fundamental no caso dos números da CoronaVac”.

Diante desse cenário, prossegue Caseiro, “o que acho pertinente é saber o quanto esta vacina protege de pegar ou não o vírus. Nos testes da CoronaVac apareceu o número de 50,38%, ou seja, quem recebeu a vacina tem quase 50% de chance de pegar e pouco mais de 50% de não pegar. Isso é eficácia global”, explica.

O número de 78% de eficácia se refere aos casos leves da doença. O infectologista avança nos esclarecimentos: “Das pessoas que receberam a CoronaVac e contraíram o vírus, 100% não apresentaram formas graves, não precisaram ser intubadas na UTI e nem morreram. Esse é o dado fundamental: 100% delas estarão protegidas de casos graves e morte”.

Vacilo

Além de todas essas razões para se confiar na CoronaVac, Caseiro lembra um dado que pensa ser fundamental: “O Brasil vacilou, pois não negociou com a Pfizer, com a Moderna. O mundo quer essas vacinas. Nós não teremos”.

O infectologista destaca, ainda, que todos os imunizantes que estão sendo produzidos no mundo contra a Covid-19 são seguros. “As vacinas do coronavírus são vacinas clássicas. Os cientistas separaram o vírus e o inativaram. É um modelo clássico de construção de vacinas. São muito seguras”, completa.