Para ganhador do Nobel, testagem em massa é mais barato do que destruir a economia

“O desligamento econômico por algumas semanas é necessário, mas é preciso ter melhores opções dentro de um mês, já que a economia não poderá ficar fechada por um ano”, diz Paul Romer

Paulo Romer: Foto: Divulgação
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Em meio às discussões sobre os efeitos que a pandemia do novo coronavírus vão provocar na economia mundial, o vencedor do Prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Paul Romer, diz que tem um plano para combater a crise.

Em entrevista a Rennan Setti, de O Globo, o professor da Universidade de Nova Iorque defende um investimento concentrado na produção em larga escala de testes para o vírus e equipamentos de proteção.

Romer publicou artigo na semana passada no New York Times, junto com o reitor da Universidade Harvard, Alan Garver. Ambos defenderam que é preciso achar uma alternativa à quarentena total, porque ela levará à “morte da economia”.

O artigo Will our economy die from coronavírus? foi mencionado pelos críticos à quarentena como justificativa para defender a abertura da economia.

De acordo com os autores do texto, o “desligamento econômico por algumas semanas é necessário, pois ajudará a salvar muitas vidas, mas é preciso ter melhores opções dentro de um mês, já que a economia não poderá ficar fechada por um ano, um ano e meio”.

Para eles, a solução é expandir maciçamente a capacidade de testagem da Covid-19, para que seja possível examinar parte importante da população a cada uma ou duas semanas. Seria a única maneira de permitir a retomada segura da economia, sem uma explosão de casos.

Veja abaixo alguns trechos da entrevista:

“Nossa ideia é que a única maneira segura de permitir que as pessoas voltem ao trabalho é promover testes em escala maciça e fornecer equipamentos de proteção em grandes quantidades à população. Se fizermos isso, não enfrentaremos a escolha terrível que enfrentamos agora, que é ou matar pessoas ou matar a economia. Isso levará algum tempo, um mês ou dois para conseguirmos mais testes e equipamentos, mas significa que precisamos investir urgentemente nessas duas soluções”.

“Há um consenso de que podemos sobreviver a um desligamento econômico por algumas semanas e que isso ajudará a salvar muitas vidas. Então, essa é a coisa certa a se fazer por enquanto. Mas precisamos ter melhores opções dentro de um mês, porque não podemos manter a economia fechada por um ano, um ano e meio”.

“Devemos ter o objetivo de testar as pessoas com muita frequência, talvez até toda a população a cada duas ou mesmo uma semana. Quanto isso vai custar? Não sabemos, porque seria um novo investimento. Mas o que sabemos é que custaria muito, muitíssimo menos do que vamos gastar lidando com o desligamento econômico. Porque, se gastássemos US$ 50 bilhões ou US$ 100 bilhões redimensionando os recursos para testar todo mundo a cada semana ou duas e ter equipamentos de proteção amplamente disponíveis, não estaríamos enfrentando esse custo multitrilionário de danos à economia”.

“Precisamos aumentar drasticamente a produção de kits de testes e equipamentos de proteção. E, sim, isso envolverá a conversão da capacidade produtiva existente para esse objetivo. Não será barato nem fácil, mas será muito mais barato do que deixarmos nossas economias entrarem em colapso”.

“Não há nenhuma evidência que sugira que um isolamento de semanas ou meses seguirá funcionado depois que for relaxado. Os modelos sugerem que, quando relaxamos o isolamento, a epidemia volta a se desenvolver. O que o sr. Garber e eu propomos é algo que pode ser feito ao longo de 12, 18 ou 24 meses. Porque a realidade é que não podemos seguir de quarentena por um ano e tampouco podemos impor um isolamento total e depois simplesmente relaxá-lo, porque o vírus volta. Mas você pode fazer o que estamos propondo, investindo durante dois ou três meses. Mas as pessoas não estão pensando seriamente sobre esse horizonte de tempo, estão muito preocupadas apenas com o que fazer nas próximas duas semanas”.