Projeção que calcula subnotificações estima que Brasil já teria superado os 8 milhões de casos de coronavírus

Segundo modelo matemático da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), casos não comprovados por falta de teste ou registrados como “doença respiratória desconhecida” podem ser até 9 vezes maiores que os oficiais

Cemitério em São Gabriel da Cachoeira (AM), que teve muitas mortes por Covid-19 (Foto: Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real)
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Os números oficiais dizem que o Brasil acaba de superar a marca de um milhão de contagiados pelo novo coronavírus, mas a subnotificação é uma realidade dada como certa por todos os especialistas no país, e cuja dimensão alguns tentam imaginar.

A partir desses números oficiais, o país é o segundo do mundo com mais casos, atrás apenas dos Estados Unidos, que têm 2,2 milhões de infectados. Porém, se considerados os casos que não foram comprovados por falta de testes, ou que foram registrados como “doença respiratória desconhecida”, se estima que os números brasileiros superariam por muito os norte-americanos.

Baseado em um modelo matemático desenvolvido na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, se suspeita que os números da pandemia no Brasil seriam até nove vezes mais que o registrado oficialmente, o que levaria a um total de casos de covid-19 superior a 8 milhões, o que representa cerca de 4% da população.

“A primeira vez que rodamos a equação, em março, a subnotificação estava em 12 vezes. Até o início de junho, houve uma pequena ampliação na testagem, o que reduziu essa diferença para uma média de nove vezes”, explica o pesquisador Rodrigo Weber, do Departamento de Ciência da Computação da UFJF.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil realiza uma média de 8,7 mil de testes de covid-19 para cada milhão de habitantes – o que daria um total aproximado de 1,08 milhão de testes desde o início da pandemia. Como comparação, a Coreia do Sul faz 22 mil testes para cada milhão de habitantes, e a Itália 80 mil.

“Para fazer uma testagem mais ampla, é preciso envolver a atenção básica, as Unidades Básicas de Saúde, que existem em diversos bairros do Brasil. Os agentes de saúde também poderiam fazer visitas nas casas para orientar os moradores, mas não há previsão de nada disso”, reclamou a médica sanitarista Ana Freitas, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

O número de mortes, que oficialmente é de pouco mais de 48 mil até agora, também seria muito maior se considerada a subnotificação.

Segundo análise feita pela revista Exame, o Brasil teria cerca de 2 mil óbitos por semana descritos como casos de “doença respiratória desconhecida”, o que permite especular com um total de mais de 30 mil mortes acima do número oficial, nas cerca de 15 semanas desde que se sabe da chegada do vírus ao país.