Residentes da USP denunciam jornadas de 60h por semana

Em carta aberta, associação diz que profissionais em formação foram usados para suprir falta de médicos no tratamento de Covid-19

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Reprodução)
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Médicos residentes da Faculdade de Medicina da USP lançaram carta aberta nesta quarta-feira (12) denunciando jornadas muitas vezes superiores a 60 horas semanais e que, no atendimento a pacientes com Covid-19 no Hospital das Clínicas, supriram a falta de médicos para o acompanhamento dos internados.

Com o manifesto, a Associação dos Médicos Residentes da Faculdade de Medicina da USP (Amerusp) pretende chamar a atenção para as condições de trabalho impostas aos cerca de 700 residentes direcionados para o atendimento a pacientes com Covid-19, muitos dos quais deslocados de suas especialidades para socorrer as vítimas do novo coronavírus. Eles pedem, no documento, melhores condições de trabalho, contratação de profissionais para o serviço e retomada de suas atividades de acordo com a especialidade escolhida para a residência.

Na carta aberta, a associação diz que os residentes supriram a falta de profissionais médicos para o atendimento a pacientes com Covid-19 permitindo que o HC não precisasse fazer mais contratações de médicos, e que muitas vezes ficaram responsáveis por “mais leitos que o ideal para um médico em formação”.

Além disso, dizem que estão sem garantia de reposição de conteúdo das especialidades para as quais tinham prestado a residência, ameaçando sua formação.

Quando a situação parecia se regularizar, com informe de retomada das atividades normais em 1° de setembro por causa da queda dos índices de infecção pelo novo coronavírus na capital, a associação diz que os residentes foram surpreendidos com um comunicado extraoficial dando conta de que seriam mantidos no esquema atual 350 residentes para atendimento de pacientes do interior do estado, onde os números da doença passaram a piorar.

Para a entidade, como não há prazo para a retomada das atividades normais, os residentes correm risco de ter sua formação profissional específica prejudicada.

Em nota, o Hospital das Clínicas disse que a escala de trabalho dos residentes na pandemia ficou limitada a um plantão de 12 horas seguido sempre por 36 horas de descanso, sendo que a partir de 3 de agosto, a escala na área de atendimento à Covid passou a ser de dois plantões de 12 horas por mês, sendo o restante dedicado às respectivas especialidades, em áreas não-Covid.

O hospital escreve ainda que "os residentes faziam parte de equipes que contavam com médicos especialistas 24 horas por dia".

Sobre a reposição de aprendizado, o HC informa que fez uma proposta que previa o aumento de um mês, com bolsa, no período de residência, avaliada em assembleia pela Amerusp, com mais de 600 residentes, que decidiu pela não extensão de um mês e que a reposição fosse feita na grade remanescente. "Diante dessa decisão, para as áreas que ainda foram avaliadas como necessárias, foi oferecido um curso de três meses na Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas", diz a nota.