Residentes do Hospital das Clínicas pedem reposição das atividades suspensas pela pandemia

Cerca de 700 residentes foram deslocados para ajudar na linha de frente do combate ao coronavírus e correm o risco de não ter a reposição de atividades necessárias para a formação como especialistas

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Reprodução)
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A Associação dos Médicos Residentes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Amerusp) publicou uma carta aberta na última quarta-feira (1º) criticando a suspensão da reposição das atividades dos residentes no Hospital das Clínicas com a "normalização" das atividades no centro médico. Eles afirmam que pode haver um impacto na formação.

"Apesar da perspectiva positiva de retomada das atividades da residência médica, no dia 24 de junho de 2020, [...] foi colocado que o término da residência médica acontecerá na data previamente colocada, dia 28 de fevereiro de 2021, mesmo que isso significasse déficit na nossa formação", diz trecho da carta.

A Amersusp afirma que "ao longo do período dedicado para contingenciamento da pandemia, nossas atividades relacionadas à capacitação para formação como especialistas foi profundamente modificada, quando não completamente anulada - ambulatórios de especialidades, cirurgias e procedimentos eletivos e atividades didáticas foram". Cerca de 700 residentes atuaram exclusivamente no combate à Covid.

"Sempre foi-nos garantido pela COREME-FMUSP e pelo próprio Comitê de Crise Institucional a reposição das atividades relacionadas à residência, necessárias para aquisição de competências necessárias para a formação como especialistas", completam.

Em entrevista à Fórum, Heloana Marinho, integrante da gestão da Amerusp, aponta que os residentes tiveram um papel muito importante durante o tratamento do coronavírus no HC, mas destaca que a não-reposição do último período pode sim causar um impacto na formação dos especialistas.

"Esse impacto perpassa uma série de questões, que dependem da especialidade do residente e de como essa especialidade vai se organizar após a pandemia", afirmou. "Por exemplo, os residentes de cirurgia deixaram de fazer cirurgias eletivas e foram deslocados para clínica médica e isso vale para todas as cirurgias. Um residente de anestesiologia que chegaria para aprender dentro do centro cirúrgico passou os últimos cinco meses dentro de uma UTI, muito diferente do que era pretendido antes da crise", detalhou.

"Os residentes de clínica de infectologia talvez tenham sido menos afetados, mas as particularidades são imensas entre cada programa de residência", completou.

Heloana comentou ainda sobre o atraso nas bolsas dos residentes que recebiam através do Governo Federal. "Nesse período o Governo Federal atrasou o pagamento de até dois meses de todos os residentes, multiprofissionais e médicos do país. No HC, nós tivemos 37 residentes que deixaram de receber bolsas e continuaram no atendimento. No estado de São Paulo foram 200 no total", finalizou.

Confira aqui a carta da Amerusp na íntegra