CINEMA

Thaís Araújo diz que sofreu racismo e ameaça de morte nas eleições de 2018

Atriz contou os bastidores da produção do filme Medida Provisória - que  precisou esperar cerca de dez meses na fila da Ancine.

Thaís Araújo diz que sofreu racismo e ameaça de morte nas eleições de 2018.Taís AraújoCréditos: Reprodução Youtube
Escrito en CULTURA el

Na pele de uma personagem que marca a a luta antirracista no Brasil, a atriz Taís Araújo estreia em Medida Provisória, o primeiro longa-metragem como cineasta do marido e ator Lázaro Ramos. O filme Medida Provisória, previsto para estrear nas salas de cinema, na quinta-feira (14) foi filmado em 2019 e é uma adaptação da peça “Namíbia, Não!” de Aldri Anunciação. 

Com um elenco como Seu Jorge, Alfred Enoch, Mariana Xavier e Emicida o filme retrata uma realidade distópica na qual o governo brasileiro emite uma medida provisória obrigando os negros brasileiros a retornarem compulsoriamente aos países de ascendência. Diante da decisão arbitrária, os personagens se rebelam contra o governo, pelo direito de permanecer no Brasil. 

Ao revelar os bastidores da produção do filme - que  precisou esperar cerca de dez meses na fila para ter sua estreia liberada pela Ancine - a agência reguladora do cinema controlada pela ala ideológica do governo Bolsonaro - Taís Araújo disse à revista Veja que o lançamento de Medida Provisória sofreu censura.  Não por acaso, a perseguição da extrema-direita já havia começado na vida do casal, no final de 2018 no calor da eleição de Jair Bolsonaro. Taís e Lázaro foram ameaçados de morte, porém o casal optou por não procurar a polícia para investigar a origem da carta que havia sido endereçada aos veículos de imprensa, revela à publicação. 

Indagada sobre um trecho do filme em que um personagem diz: “Como deixamos chegar a esse ponto?" como uma  indireta sobre Bolsonaro, a atriz afirma que mesmo tendo sido escrito muito antes do Bolsonaro, o longa não deixa de ser uma crítica ao desastre político e social  que o Brasil vive.  " Não por acaso, o país que a gente não quer se assemelha ao país em que a gente está vivendo. Mas o filme não é sobre o governo Bolsonaro, porque a gente não trabalha para ele", afirmou. 

Em relação ao engajamento dos artistas  nas eleições deste ano, para Araújo  "não faz sentido ser uma artista e não ser engajada. Eu adoraria que os meus colegas se motivassem, como eu, a achar lindo o movimento do Fernando Henrique Cardoso apertando a mão de um Lula", disse. "Mas entendo: que tem gente que não se engaja porque tem medo", ponderou. 

Racismo

O Medida Provisória mostra um Brasil do futuro como sendo um pesadelo para os negros e nesta referência com o racismo estrutural, Taís Araújo vê uma ponta de cinismo e imaturidade do brasileiro. "O Brasil é racista e cínico, né? Pois insiste em dizer que não. É curioso, porque durante algum tempo a gente se dizia um país miscigenado e tinha orgulho", relembra. E a atriz prossegue:  "O Brasil parece um adulto que se recusa a crescer. Porque tem dificuldade de olhar para suas feridas, de se autocriticar. E aí cai nessa — não tem outra palavra — desgraça que o país virou", lamenta. 

Veja o trailer de Medida Provisória