BOLSONARISTA ARREPENDIDO

Lobão "zen": "Não vou mudar o país, mas pelo menos vou ficar um luxo”

Músico que abandonou o ódio bolsonarista ainda em 2019, Lobão diz ter "mergulhado" em uma "viagem interior" e que tem "admiração" por Caetano, Chico Buarque e Gilberto Gil, que atacou em seus tempos de "fanatismo"

Lobão.Créditos: Reprodução/Instagram
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Mais "zen" e 25 quilos mais magro, o músico Lobão - um dos maiores apoiadores do golpe de 2016 e do processo que levou Jair Bolsonaro (PL) ao poder em 2018 - diz que "mergulhou numa viagem interior" para se livrar do "fanatismo" político que se meteu.

"Pensei: 'Não vou mudar o país, mas pelo menos vou ficar um luxo'", disse o músico com ar blasé em entrevista ao jornal O Globo.

"Mergulhei muito numa viagem interior. Reli [o escritor francês Marcel] Proust, foi uma aventura enorme. Não tenho mais paciência pra viver com esse tipo de fanatismo. É uma cegueira dos dois lados", relativizou em seguida.

Lobão foi um dos primeiros artistas a abandonar o bolsonarismo, ainda em 2019 e diz que deu um "timing moral" aos amigos da ultradireita conservadora.

"Em abril de 2019, eu disse no Twitter que havia um timing moral pra qualquer um deixar de ser Bolsonaro. E quem não fizesse autocrítica, eu daria um “block”, alijaria do meu convívio. Foi o que aconteceu com o Roger [Moreira, do Ultraje a Rigor]".

Regravando clássicos da música brasileiras, incluindo composições de artistas que ele atacou durante sua época mais hard, Lobão sinaliza uma reaproximação a figuras como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, alvo de sua ira ultraconservadora de tempos atrás.

"Todas as críticas que fiz são absolutamente pertinentes. Mas são artistas pelos quais tenho tremenda admiração. E externar essa admiração só faz bem para a alma. E só faz bem ter na periferia do meu ser pessoas das quais eu posso divergir, mas podem refletir sobre a importância deste gesto".

Ao final, o músico se mostra como um guru e faz uma ode ao "recolhimento" a que se propôs.

"Você começa a perceber o que é e o que não é razoável. E que existe a elegância, que é um acumulo de harmonia, ritmo, distensão, relaxamento. Isso me ensina tudo na vida. E me torna uma pessoa menos desagradável, menos conflitante com as pessoas. Do jeito que eu me colocava, era destrutivo. Esse recolhimento foi muito saudável".

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