O Prêmio Jabuti, um dos maiores prêmios da literatura brasileira, incluiu uma obra gerada por inteligência artificial como semifinalista na categoria de melhor ilustração na 65º edição. A lista foi divulgada em 9 de novembro e a obra em questão é a capa da edição do clássico "Frankenstein", de Mary Shelley, ilustrada por Vicente Pessôa e lançada pela editora Clube de Literatura Clássica em 2022.
Quando foi lançada, o gerente editorial Zé Lima e Pessôa realizaram uma transmissão ao vivo e explicaram o processo tecnológico que resultou na obra final, após aproximadamente 50 tentativas.
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Na legenda, a editora destaca que, pela primeira vez, não apenas no Brasil, mas no mundo, um clássico foi completamente ilustrado por inteligência artificial na edição de Frankenstein. Pessôa estava na disputa pelo prêmio junto com os ilustradores André Neves, Bruna Ximenes, Cris Eich, Fayga Ostrower, Letícia Lopes, Fran Matsumoto, Odilon Moraes e Rogério Coelho e Daniel Kondo.
Somente nesta sexta (10), a Câmara Brasileira do Livro, responsável pelo Prêmio Jabuti, optou por desclassificar a obra da competição pelo prêmio. Segundo eles, “as regras da premiação estabelecem que casos não previstos no Regulamento sejam deliberados pela Curadoria, e a avaliação de obras que utilizam IA em sua produção não estava contemplada nessas regras”, informaram em nota.
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‘Categoria para IA’
A CBL está avaliando possíveis alterações no regulamento da premiação, incluindo a consideração da criação de uma categoria exclusiva para obras produzidas com inteligência artificial. A organização ainda não definiu como abordará as obras produzidas com auxílio da inteligência artificial em 2024, mas não descarta a possibilidade, como apontou ao Estadão Hubert Alquéres, curador do Prêmio Jabuti.
"Na época, [que fizemos o regulamento de 2023], essa questão da inteligência artificial, principalmente a chamada IA generativa, que ajuda a criar, estava sendo muito pouco debatida. Então, na ocasião, isso ainda não existia como questão", diz ele.
Mais obras desclassificadas
O Prêmio Jabuti anunciou a desclassificação de outras duas obras semifinalistas, após a polêmica com “Frankenstein”. A justificativa foi pelo fato de não serem inéditos.
Os livros "Indivisível" de Marília Marz, lançado pela Conrad, e "A Inf??ncia do Brasil" de José Aguiar, publicado pela Nemo, estavam competindo na categoria HQ. Ambas foram desclassificadas pela violação ao regulamento que estabelece a publicação das obras pela primeira vez entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2022.
"Infância do Brasil" já havia sido publicada pela editora Avec em 2017, chegando a ser finalista do Prêmio Jabuti na mesma categoria naquela ocasião. Já "Indivisível" foi desclassificada por ter sido lançada em edição digital em 2020, o que não atende às regras que consideram a primeira edição no ano de 2022.
No regulamento da premiação, consta "aquelas que nunca tenham sido publicadas no Brasil, em formato de livro, impresso ou digital, e que disponham de ISBN e ficha catalográfica emitidos no Brasil".