LUTA ANTIRRACISTA

Websérie “Enití Lànà - Aquele que abre o caminho” resgata memória da luta antirracista no Brasil por Rafael Pinto

Produção dividida em 4 capítulos apresenta a trajetória de uma das lideranças mais importantes do movimento negro brasileiro e conta com depoimentos de Sueli Carneiro, Milton Barbosa, Edna Roland, entre outros.

Websérie “?nití Lànà - Aquele que abre o caminho”.Créditos: Nego Júnior
Escrito en CULTURA el

A história do Brasil é carregada pelo apagamento histórico de líderes e lutas sociorraciais, o que serve para manter a dominação de mentes e corpos a partir da desvalorização da resistência frente os efeitos pré e pós escravização. Da mesma forma, o status quo tira o valor do enfrentamento à ditadura pelos movimentos negros e desmerecem a cultura negra fundadora do que hoje temos por nação. Mesmo ante este cenário, o ativismo negro foi capaz de realizar importantes avanços, como a política de cotas sociorraciais, a criminalização do racismo e a contínua busca pela ocupação de espaços de poder tanto na esfera cível quanto na institucional.

Em tempos de revisionismo histórico é preciso exaltar os vultos que ajudam a construir uma identidade condizente com o legado povo negro. “?nití Lànà - Aquele que abre o caminho” é uma websérie documental que vai ao encontro dessa valorização da luta e da cultura afro-brasileira. Em 4 episódios, o documentário apresenta parte da trajetória de Osvaldo Rafael Pinto Filho, uma das lideranças mais importantes do movimento negro de nosso país e está disponível no canal do Youtube da Ocupação Cultural Jeholu.

A série, seguindo essa premissa, traz, em cada um de seus episódios, os mais importantes alicerces da trajetória de vida de Rafael Pinto que mais tarde se tornaria figura fundamental do Movimento Negro contemporâneo. De início é abordada desde a estrutura afetiva que cercou Rafael, partindo, num segundo momento, para seu papel na luta político social, seu ativismo cultural e sua relação com as matrizes africanas. O documentário conta com depoimentos de Sueli Carneiro (filósofa e escritora), Edna Roland (psicóloga), Bianca Santana (jornalista, escritora, professora), Milton Barbosa (ativista), Doné Oyaci, Pedro Borges (editor do site Alma Preta), Juarez Xavier (professor universitário e ativista), e entre outras importantes lideranças da luta antirracista no Brasil. “?nití Lànà - Aquele que abre o caminho” tem por proposta resgatar a memória de resistência de Rafael Pinto, que apesar de importante liderança sofreu com o apagamento e invisibilidade por parte da história.

?nití Lànà é um projeto desenvolvido pela Ocupação Cultural Jeholu, movimento cultural antirracista fundado em 2018 pelo jornalista e ativista cultural e antirracista Felipe Brito e de realização pelo 2° Edital de Cultura Negra da Prefeitura Municipal de São Paulo.

"Rafael Pinto foi para mim um tutor que, com a paciência e generosidade que lhe são tão peculiares, fez minha iniciação no ativismo negro. Minha gratidão para sempre.” Sueli Carneiro, filósofa e escritora.

Rafael Pinto

Osvaldo Rafael Pinto Filho, cientista social, nasceu na capital paulistana no dia 28 de abril de 1949. No final da década de 60 se aproximou do teatro por meio da peça “E agora... Falamos nós”, estruturado pelo sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira e Thereza Santos, atriz, dramaturga, filósofa, escritora, ativista e carnavalesca. Uma vez inserido nesse ambiente cultural nasce sua amizade com o Hamilton Cardoso, que atuava nessa peça. 

Rafael Pinto e Hamilton Cardoso, junto com outros aliados de luta antirracista, como Milton Barbosa, Neusa Maria Pereira, Ricardo Adão, Lélia Gonzales, Wanderley José Maria, José Adão e Abdias do Nascimento fundam o Movimento Negro Unificado (MNU), organização pioneira na luta do Povo Negro no Brasil. Fundada em plena ditadura militar a MNU é uma referência histórica na luta contra a discriminação racial no país.

“Minha formação está totalmente ligada à militância. Eu sou quadro formado pelo movimento negro, muito jovem, que tive contato com essa militância negra da década de 30 e 50”.

De 1984 a 1987, Rafael integrou o corpo de funcionários da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, a antiga FEBEM. Com a parceria de companheiros do movimento estudantil, atuou na participação e promoção do protagonismo dos trabalhadores negros na instituição.

Incansável na luta pela população negra brasileira, Rafael Pinto, passa a integrar, nos anos 2000, o Coletivo Nacional de Entidades Negras - CONEN, através de sua participação nos movimentos Fala Negão/Fala Mulher, Soweto - Organização Negra e pelo Centro Nacional de Africanidades de Resistência Brasileira - CENARAB, importante articulação nacional pelos povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas no Brasil, do qual passa a ser coordenador estadual por São Paulo.

Atualmente, tem se dedicado à organização política e o avanço no diálogo institucional, nacionalmente, junto à pauta do afroempreendedorismo. Osvaldo Rafael Pinto Filho é professor de muitos antigos e ainda mais de outros jovens negras, negros e negres, com os quais generosamente e com profunda sabedoria, planta a semente da luta antirracista.

Temas