Um estrondoso sucesso, 'Ainda Estou Aqui' dominou as bilheterias brasileiras na estreia, arrecadando R$ 8,6 milhões e atraindo mais de 350 mil espectadores entre os dias 7 e 10 de novembro. O longa histórico de Walter Salles e com a atuação de Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro, e que já representa o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, consolidou-se como um dos maiores sucessos do cinema nacional em 2024. E com razão.
Cinquenta anos após o desaparecimento de Rubens Paiva durante a ditadura, o Brasil revisita sua história em três frentes. O filme Ainda Estou Aqui retrata o impacto da perda na família Paiva, enquanto o governo reabriu a investigação sobre o caso, que segue sem solução.
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A denúncia, apresentada há dez anos, está paralisada no Supremo Tribunal Federal, com três dos cinco militares acusados já falecidos. A estagnação do processo está ligada à controvérsia sobre a Lei da Anistia, que impede a punição de crimes cometidos durante a ditadura. O filme reflete a luta de Eunice Paiva para reconstruir sua vida e a necessidade de confrontar o passado violento do país.
“O nosso papel como cineasta, escritor, roteirista, pessoa das artes é falar aquilo que os vencidos não conseguem falar”, declarou Marcelo Rubens Paiva.
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Para o cineasta e professor do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Luís Rocha Melo, o sucesso pontual de filmes nacionais é uma história que se repete, uma vez que a dificuldade de reconhecimento de longas nacionais segue persistindo no país.
“Significa que o cinema brasileiro vive de exceções"
"Os eventuais sucessos de público chamam a atenção para a existência do cinema brasileiro, mas não resolvem o problema central, que é a existência de uma verdadeira indústria cinematográfica no Brasil, em que grandes sucessos de público possam conviver com filmes médios e com filmes experimentais e o público possa ter acesso a todos esses filmes”, disse Rocha Melo à Fórum.
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O documentário Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, esteve nesse mesmo caminho. Foi amplamente divulgado e comentado no final de 2023, chegando a disputar o Oscar, e porém filmes independentes produzidos por brasileiros seguem caindo no esquecimento.
“Eles podem fortalecer a carreira do diretor, dos atores e da equipe. Mas não creio que exceções fortaleçam a regra; elas só confirmam. Enquanto as reivindicações mais básicas dos produtores independentes, que são inúmeros, organizados ou não em associações, não forem contempladas, é pura ilusão achar que apenas um filme 'fortalece' uma cinematografia”, diz.
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‘Encarar audiovisual com seriedade’
Rocha Melo destaca que o que fortalece o cinema nacional é justamente a implementação de políticas que valorizem essas produções como elas devem ser valorizadas.
“É o enfrentamento pelos espaços nas plataformas, nas televisões e nas salas de cinema, é a batalha pela visibilidade do filme nacional nos canais de streaming, é a existência de uma televisão pública realmente atuante no Brasil, é a continuidade das políticas de produção, distribuição e exibição (incluindo salas de cinema, televisão e internet), é encarar com seriedade a preservação do audiovisual”
Em 2016, mais de 180 milhões de brasileiros compareceram às salas de cinema, no entanto, o número foi apenas caindo após o desenvolvimento de novas tecnologias e mais recentemente, das plataformas de streaming, e por outras questões sociais, chegando hoje a poucos 42 milhões de pessoas por ano. Os dados são da Agência Nacional de Cinema (Ancine), via Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual.
Desde 1975, a presença de telespectadores vem caindo. De acordo com a pesquisa, a perda do poder aquisitivo das camadas sociais menos favorecidas, que compunham a maior parte do público cinéfilo, fez com que deixassem de frequentar as salas de cinema com o tempo, em diversas regiões. Segundo o professor, isso faz com que o próprio público desconheça o audiovisual brasileiro e dê margem para a popularização de filmes estrangeiros.
“O grande público continua desconhecendo 90% do cinema feito no Brasil (seja do passado ou do presente) e gostando (ou não) daquilo que se torna mais visível e de fácil acesso. Mais do mesmo”, conclui.
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Brasil é potência no cinema
De acordo com os dados da Ancine, só em 2021, aproximadamente 50% dos filmes exibidos no circuito nacional brasileiro foram produções independentes, número que não para de crescer. Muitas dessas obras são produzidas com orçamentos reduzidos ou dos próprios artistas, mas são a base de grande parte das produções audivisuais do país. As produções independentes frequentemente recorrem a leis de incentivo, como a Lei Rouanet e a Lei Paulo Gustavo (que abrange vários segmentos culturais), ou a plataformas de financiamento coletivo.