CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

Diretor de 'Bacurau' critica classificação de sexo explícito no Brasil

Kleber Mendonça vê influência do puritanismo dos EUA na nova classificação brasileira

Créditos: Imagem do perfil no X, ex-Twitter
Escrito en CULTURA el

Kleber Mendonça, diretor (junto com Juliano Dornelles) de "Bacurau" — Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 2019 —, criticou a classificação indicativa de sexo explícito no Brasil.

Kleber é crítico, professor e diretor de cinema, com vários filmes de sucesso de crítica lançados, como "O Som ao Redor", "Aquarius", o citado "Bacurau" e o recente "Retratos Fantasmas". Ele vê influência do puritanismo dos EUA na nova norma indicativa brasileira, cópia da classificação made in USA.

Sua crítica foi publicada em seu perfil no X, antigo Twitter, em vários tweets, agrupados a seguir.

 

 

 

“SEXO EXPLÍCITO” - Poor Things tem “sexo explícito”? Acho que houve no Brasil uma americanização e puritanização de um termo que sempre teve significado claro no Brasil, como referência à representação da sexualidade no cinema.
Sexo Explícito” no período de reabertura saindo da ditadura em 1980 era aplicado aos filmes que tinham imagens de sexo real (hard core, penetração, etc). Com a chegada dos multiplexes de grupos estrangeiros e americanos nos anos 90 gradualmente a “censura 18 anos” que sempre foi vista com naturalidade no Brasil passou a ser combatida, adquirindo um certo estigma para filmes em multiplexes. Especialmente filmes brasileiros...
E de anos para cá, percebi o uso cada vez maior do termo “sexo explícito”, não mais como ele sempre foi usado no Brasil (sexo real filmado), mas como é usado nos EUA (“explicit sex”), sexo simulado soft core…
Me parece que isso é uma revisão puritana da ideia de um filme ter alguma sexualidade e nudez ser imediatamente descrita como “explícita” (imagino que o bom seria não ter, ficar subentendida, implícita?).
Ver que o órgão federal de classificação etária adota esse termo em 2024 para descrever filmes onde o sexo obedece a simulações comuns de sexualidade cinematográfica me faz pensar que termo seria aplicado a filmes como “Calígula” ou “O Império dos Sentidos” (que inaugurou o aviso/slogan publicitário “sexo explícito” em 1980)? Como pode que a imprensa brasileira em peso publique que um filme como POBRES CRIATURAS seja descrito como “sexo explícito”?
NAPOLEÃO de Ridley Scott [classificado no Brasil como A16: Sexo explícito / Violência] tem “sexo explícito”?

Antonio Mello é autor de "ELA", "Madame Flaubert" e outros, escreve no Blog do Mello e aqui na Fórum. Conheça os livros do Mello

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