MINAS GERAIS

‘Capirotinho’: Artista mineiro é censurado em festa literária de Alfenas após ataques de pré-candidato do PL

Em vídeo de pré-campanha, Amadeu Peloso diz que personagem de Guilherme Infante “quer tirar e desconstruir a fé cristã das crianças”; usuários saem em defesa do cartunista

Guilherme Infante foi impedido de participar da Feira Literária de Alfenas.Créditos: Reprodução e Wikimedia Commons
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Um artista e quadrinista mineiro de Campos Gerais, conhecido por seu personagem Capirotinho, Guilherme Infante foi impedido de participar da Feira Literária de Alfenas (FliAlfenas) neste fim de semana, após sofrer uma série de ataques nas redes sociais orquestrados pelo pré-candidato a prefeito Amadeu Peloso (PL), filho de um ex-prefeito da cidade ligado à extrema direita, que teriam sido motivados pelas críticas sociais e políticas presentes no trabalho do artista.

Capirotinho, personagem conhecido na cultura local, aborda temas como desigualdade social, corrupção e autoritarismo em forma de quadrinhos. Em suas redes sociais e desenhos, o artista é conhecido por satirizar figuras políticas e realizar críticas ao status quo.

O pré-candidato à prefeitura de Alfenas, em Minas Gerais, divulgou um vídeo em seu Instagram dizendo que o personagem “quer tirar e desconstruir a fé cristã” e atacando o governo, que tem como prefeito Fábio Marques Florêncio (PT)

“Agora o PT passou de todos os limites na nossa cidade. Esta semana acontece a feira literária e o PT, através de sua secretaria municipal de educação está trazendo um personagem de um cartunista chamado Capirotinho. Isso mesmo. Dá um Google aí. Convido vocês pais para verem o que esse personagem traz para as nossas crianças: uma apologia, uma satanização”. Veja vídeo:

Infante escreveu uma declaração em suas redes sociais após o ocorrido e afirmou que não iria mais participar de oficinas na feira. A prefeitura de Alfenas teria cedido à polêmica criada pela extrema direita no local, segundo o cartunista.

“Alguém com poder baixou a cabeça diante das denúncias. As pessoas do evento com as quais tive contato prontamente se colocaram contra essa decisão e lamentaram”, afirmou.

Créditos: Reprodução/Instagram

Usuários nas redes sociais saíram em defesa do artista após as acusações e tentativas de censura. “A extrema direita (PL) de Pelosos, já tem planos de expulsar Dante Alighieri, por ter escrito O Inferno. Vai também expulsar Mauricio de Souza pelos personagens Penadinho, Dona Morte e Demo. Vai expulsar Seymour, Reit e Oriolo, por terem criado o personagem Brasinha”, diz Marcos do Marcofer.

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“Uma festa literária baixando a cabeça para a censura? Mas a arte tá aí justamente para isso: incomodar, refletir e transformar”, disse outra internauta. “Que paia! Um atraso, no seu corre e na mentalidade de quem prejudicou as oficinas educativas”, comenta Paulo Bruno, outro cartunista em apoio à Infante.

Fórum entrou em contato com o autor para apurar o caso. Em resposta, Infante afirmou que preparou outro material para as oficinas no FliAlfenas. "Eu tenho material publicado para adultos, para público infantojuvenil e, nas oficinas, para público infantil. Eu iria levar, para as oficinas, exercícios práticos e um pouco de teoria sobre a linguagem dos quadrinhos, com classificação etária livre e sem abordar críticas a religiões ou espectros políticos, justamente por saber que estou lidando com público jovem", disse o quadrinista.

"Esses espaços ajudam a despertar, principalmente no público mais jovem, o interesse por arte, cultura e hábitos de leitura. Isso é, indiscutivelmente, necessário"

Os ataques aos quadrinhos de Capirotinho não são de hoje, explica Guilherme. "Começaram logo que o movimento bolsonarista começou a crescer, por volta de 2017. Desde aquela época eu já me posicionava categoricamente contra essa barbárie na política."

"Entretanto, apesar desses ataques constantes, foi a primeira vez que vi um evento recuando, por ordens superiores, para evitar desgaste político"

O artista reafirmou à revista o sentimento de desânimo em relação ao ocorrido e destacou que os feedbacks dos leitores também costumam ser bem positivos. "Sentimento é de desapontamento. Pelas pessoas da cidade, pelas pessoas que trabalham na organização do evento e pelas mentiras que disseram sobre mim. Os feedbacks costumam ser os melhores possíveis. Eu me sinto genuinamente abraçado, literal e metaforicamente, pelas pessoas que gostam dos meus quadrinhos. E, para quem trabalha nessa área, isso é inspirador e um combustível para seguir adiante", completa. 

*Matéria atualizada