Entre figurinos, adereços e objetos de cena, repousa - e pulsa - parte da história do teatro brasileiro. No Bixiga, em São Paulo, a Casa de Acervo.Oficina abriga mais de 3 mil peças criadas pelo grupo fundado por José Celso Martinez Corrêa, preservando três décadas de invenção cênica e resistência cultural.
O espaço foi inaugurado em 2023 e, com apoio do ProAC, iniciou um processo inédito de organização, catalogação e digitalização do acervo. A missão é clara: manter viva a memória do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e, ao mesmo tempo, abrir caminho para novas pesquisas e criações. “O acervo é fundamental não só pela memória, mas porque também alimenta as novas produções. Um figurino de décadas atrás pode voltar à cena - é um patrimônio vivo”, resume Elisete Jeremias, diretora-geral da Casa.
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Situada a menos de um quilômetro da sede projetada por Lina Bo Bardi e Edson Elito, a Casa tornou-se uma extensão orgânica do próprio Oficina. Lá, a história se renova a cada cabide, croqui e costura: peças usadas em montagens icônicas como Hamlet (1993), Cacilda! (1998), Os Sertões (2002), O Rei da Vela (2017) e Roda Viva (2019) dividem espaço com novas produções, revelando o diálogo contínuo entre o passado e o presente.
Um projeto de memória e formação
Com o ProAC 38/2024, o espaço deu início ao Plano de Preservação e Catalogação do Acervo do Teatro Oficina, que inclui oficinas de conservação, catalogação digital e adequação da infraestrutura. A especialista Cláudia Nunes, referência internacional em restauração têxtil, conduziu a oficina de conservação e ajudou a equipe a criar condições ideais para armazenar as peças.
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Já a catalogação dos figurinos ocorre por meio da plataforma Tainacan, ferramenta da Universidade de Brasília em parceria com o Ibram, que permitirá o acesso público ao acervo digital. “Estamos deixando um bem cultural para o futuro. Estudantes, figurinistas e pesquisadores vão poder consultar esse material completo”, afirma Victor Rosa, ator e coordenador do projeto.
A Casa também se prepara para lançar um canal no YouTube, reunindo depoimentos de artistas, figurinistas e criadores que marcaram a trajetória da companhia — uma espécie de arquivo vivo em formato audiovisual.
Herança coletiva
A história do acervo começou em 1992, após o incêndio que atingiu o Teatro Oficina. Desde então, artistas, técnicos e colaboradores se revezam na tarefa de preservar esse patrimônio. “Esse acervo só existe porque muita gente se dedicou a ele, como a camareira Cida Melo, que há mais de 25 anos cuida de cada figurino com uma memória impressionante”, destaca Elisete.
A lógica coletiva criada por Zé Celso segue viva: artistas que atuam também costuram, restauram, catalogam, divulgam — e formam novas gerações de criadores. “O Oficina sempre foi uma bigorna: a gente forja o teatro e se forja nele”, define Larissa Silva, atriz e coordenadora de acessórios, que hoje também atua como diretora de cena.
Apesar do apoio do ProAC, a manutenção do espaço ainda é um desafio. “Precisamos de novos apoios, públicos e privados, para garantir a continuidade desse trabalho”, alerta Elisete.
Mais que um arquivo, a Casa de Acervo.Oficina é um gesto de resistência — um lugar onde a história não dorme, mas ensaia novos atos.
Serviço
- Casa de Acervo.Oficina — Visitas guiadas
Datas: 27 e 28/09; 04, 05, 11, 12, 18 e 19/10
Horário: 15h
Duração: 1h
Lotação: 8 pessoas
Classificação: Livre
Local: Rua Maria José, 503, Bixiga – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 50 (inteira) | R$ 25 (meia)
Moradores do Bixiga têm meia-entrada com comprovante de residência.
- Visitas ao Teat(r)o Oficina
Datas: 27 e 28/09; 04, 05, 11, 12, 18 e 19/10
Horário: 11h
Duração: 2h
Lotação: 50 pessoas
Ingressos: R$ 70 (inteira) | R$ 35 (meia)
Local: Rua Jaceguai, 520, Bixiga – São Paulo/SP
Observação: a visita do dia 28/09 será em inglês.
Pix para apoio: [email protected]