LANÇAMENTO

Cultura totalitária é uma forma capitalista de pensar e alçam figuras como Trump ao poder, diz Dennis de Oliveira

Professor da USP analisa discursos de figuras extremistas e seu impacto na sociabilidade humana em novo livro. Dennis de Oliveira ministra cursos de Racismo Estrutural e Zygmunt Bauman na OMPlay.

Créditos: IA
Escrito en CULTURA el

Em um tempo em que a "banalidade do mal" se manifesta nas pequenas ações cotidianas e em democracias, o professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Dennis de Oliveira, lança um alerta em forma de livro. Intitulado Cultura Totalitária – a sociabilidade humana em questão, o pocket-book será lançado no dia 15 de novembro no Sacrilégio Bar (Av. Pedroso de Moraes, 52 - Pinheiros), às 16h, em São Paulo, e promete provocar debates incômodos, e necessários, diante da ascensão continua de figuras extremistas no mundo.

“É a internalização da ideologia capitalista, uma forma capitalista de pensar”, define o autor ao explicar o conceito central da obra. Para ele, cultura totalitária é aquela que transforma tudo, relações, saberes, instituições e até pessoas, em meios para fins pessoais. “Como se tudo em torno fosse validado única e exclusivamente como um 'insumo' para os interesses pessoais”, completa.

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Dividido em seis capítulos com títulos provocativos como "Militância ou limitância?" e "Liberdade e indiferença", o livro navega por experiências concretas vividas por Dennis tanto na militância quanto no ambiente acadêmico. E é exatamente esse choque entre o vivido e o teórico que torna a leitura urgente. Sobre o capítulo “Militância ou limitância?”, Dennis afirma: “Chamo de ‘limitância’ uma militância que ocorre dentro dos parâmetros da realpolitik, por isso é instrumental, se afasta da ideia de ‘camaradagem’ naexperiências das organizações revolucionárias conforme afirma Jodi Dean.”

Ele observa que a régua dos “resultados imediatos” tem levado organizações progressistas a tolerar ou até reproduzir práticas discriminatórias, como o racismo, o machismo e a LGBTfobia, sob o pretexto de objetivos eleitorais. A crítica é direta: sem horizonte utópico, a luta política se esvazia de sentido ético e coletivo.

"Palavra cultura vem do latim colere que quer dizer cultivar, tais práticas cultivam um tipo de pessoa e um tipo de sociabilidade. E totalitária porque as relações instrumentais interditam outras possibilidades, inclusive éticas, de se pensar tanto em outras formas de ser como de se relacionar. Com isto, criam-se as bases para que ideologias autoritárias tenham apelo na sociedade"

No capítulo “Liberdade e indiferença”, o autor vai além e compartilha dois episódios que marcaram sua percepção sobre a frieza das relações humanas na contemporaneidade — de uma mulher ferida em uma feira ignorada pelos transeuntes, à omissão em uma organização antirracista diante de falhas graves.

“Nos dois casos, observei uma retórica funcional e instrumental que se aproxima daquilo que Hannah Arendt chama de ‘banalidade do mal’”, afirma Dennis. Para ele, a “liberdade” hoje é confundida com o direito de ser indiferente ao sofrimento coletivo, algo que o bolsonarismo explicitou durante a pandemia, e que, segundo ele, persiste na atual indiferença ao genocídio em Gaza. "A liberdade aqui é apropriada pelo direito de ser indiferente a processos coletivos, , coisa que o bolsonarismo fez na pandemia e atualmente vários setores fazem em relação ao genocídio em Gaza."

Ao ser questionado sobre o uso da democracia para alcançar o totalitarismo — como no caso de Donald Trump — Dennis é enfático: “Com certeza. O fascismo se alimenta desta degradação das sociabilidades com a imersão desta cultura totalitária.”

Inspirado por Tzvetan Todorov em “Os inimigos íntimos da democracia”, o professor observa que lideranças como Trump, Viktor Orbán e Benjamin Netanyahu ascendem ao poder respeitando as regras democráticas, mas depois corroem suas bases.

“São produtos de uma sociabilidade que o capitalismo vem construindo e muitas vezes internalizamos sem qualquer visão crítica”, alerta.

O livro, publicado de forma independente pelo Instituto Abya Yala, não é apenas uma crítica, mas também um convite à reconstrução. “Ao final do meu livro elenco possibilidades de construção de alternativas mas é sempre necessário não perdermos a capacidade de análise crítica”, destaca Dennis. E faz questão de sublinhar que, apesar do tom duro, Cultura Totalitária não é um lamento. “Espero que contribua para este debate.”

Além do lançamento presencial, haverá uma live com o autor no dia 8 de novembro, às 14h, exclusiva para quem adquirir o livro até o final de outubro. A obra está à venda por R$35,00 no site de Dennis de Oliveira. Os seis capítulos do livro têm os seguintes títulos: “Liberdade e indiferença", “Busca-se a verdade?", “A desresponsabilização", “Uma crise civilizatória”, “Militância ou limitância?” e “Perspectivas existem?”.  

Segundo o autor, “trata-se de um pequeno ensaio composto de um conjunto de reflexões a partir de experiências pessoais na trajetória da militância e na vida acadêmica que foram refletidas a luz de conceitos filosóficos". O prefácio da obra foi escrito por Célio Turino,escritor e historiador, doutor em Humanidades pela USP que destaca que "Dennis não escreve apenas para romper o silêncio, mas para analisar, refletir e aprender com a experiência vivida".  

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