Originária da região de Mata Atlântica que cerca a bacia dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, a erva-mate (Ilex paraguariensis) tem feito parte da cultura latino-americana há séculos, bem antes da colonização europeia.
Com a chegada dos colonizadores à região, no entanto, o mate, que cobre uma extensão significativa do território continental (mais de 500 mil quilômetros quadrados), tornou-se um importante produto econômico para as províncias do Império Espanhol, que abrangiam partes do território brasileiro.
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Na antiga Província do Guayrá, região que abarcava o Brasil meridional na região em que hoje é o Paraná, desenvolveu-se, a partir do século 17, uma extração intensiva da erva, cuja árvore pode atingir até 12 metros de altura em regiões de muita sombra.
Os povos guaranis e caingangues, além dos quíchuas peruanos, que já consumiam a infusão do mate (o caá-í, “erva-água”), foram os transmissores da prática: as folhas secas da árvore eram moídas e transformadas em pó, que então se misturava à água para beber.
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Créditos: Wikipedia
Inicialmente, entretanto, os jesuítas que vinham ao continente sul-americano olhavam a prática com desconfiança: percebiam que, após consumir a infusão do mate, os povos originários da região do Guayrá, que a consideravam sagrada, tornavam-se mais ativos e dispostos.
Relatos coloniais contam que alguns padres jesuítas chegaram a proibir e desencorajar o consumo do mate infusionado, ligando-o à sacralidade dos rituais indígenas e a “comportamentos que deveriam ser eliminados”, associados ao paganismo. Denominado “erva do diabo”, o mate foi, então, considerado uma ameaça ao controle colonial.
A meta dos jesuítas era restringir sua produção e consumo autônomo pelos nativos e reorientar a produção do mate às rotas comerciais lucrativas que se apresentavam nas trocas com a Europa.
A partir do século 17, o cultivo e o beneficiamento do mate deixaram de ser exclusivamente indígenas e se tornaram mercadoria colonial. O monopólio da produção passou aos jesuítas, cujas missões eram responsáveis por supervisionar o plantio, a coleta e a exportação da erva.
“Durante o período das missões jesuíticas (1610–1768), uma grande extensão do território onde a erva-mate era originalmente encontrada foi ocupada. Os jesuítas conseguiram obter um monopólio para a exploração da erva-mate junto às autoridades espanholas, mantendo esse controle até 1768”, conta, em artigo, o pesquisador e historiador Fernando César Gouveia.
Créditos: Museu Paulista da USP
De acordo com o Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul, “Por mais de século e meio (1610–1768), os padres mantiveram o comércio de seus produtos na forma de chás e chimarrão. Há registros de que houve plantações de 500 hectares na região das missões jesuíticas.”
O monopólio jesuíta só cessou quando, na segunda metade do século 18, os portugueses expulsaram os espanhóis do território. Mas a produção extensiva do mate prosseguiu. Em 1852, o estado do Paraná se tornou independente de São Paulo, e a erva e sua infusão foram difundidas como prática comum entre a população, sob o apelido de “congonha”.
Em 1920, a erva-mate foi um dos principais produtos da exportação brasileira, e sua produção mobilizava imigrantes à região do Alto Uruguai, vindos de diversas partes da Europa.
“O mate estimulou o desenvolvimento de uma nova classe social: a burguesia do mate”, conta Gouveia. “Ao encontrar áreas onde a erva-mate abundava, essas famílias se instalavam e iniciavam a produção, seguindo o antigo modelo indígena até meados do século XX, que era extremamente trabalhoso e geralmente realizado durante os meses de inverno.”
Em 1938, início do Estado Novo de Getúlio Vargas, foi criado o Instituto Nacional do Mate (INM), a fim de regular a economia e a produção da erva, que funcionou durante 29 anos.
Hoje, o chimarrão se tornou patrimônio regional e cultural do Rio Grande do Sul. Rica em cafeína, teofilina, ferro, fósforo e uma série de aminoácidos essenciais, além de vitaminas dos complexos B, C e D, a erva-mate regula o organismo, combate a fadiga e dá sensação de saciedade, facilitando a digestão.
O modo mais comum de consumo é no chimarrão, que usa uma cuia cheia de água morna para infusionar a erva e tomar quente.