Os bonobos, ou chimpanzés-pigmeus (Pan paniscus), são os parentes vivos mais próximos dos seres humanos. Eles compartilham esse 'status' com os chimpanzés (Pan troglodytes), e têm mais de 98% de seu DNA semelhante ao nosso.
Eles partiram de um ancestral em comum há cerca de seis milhões de anos, e, além do DNA, também partilham algumas características sociais e emocionais com os seres humanos, como sua empatia apurada, seu senso de cooperação e resolução de conflitos — e, agora, de acordo com estudos liderados por pesquisadores da Universidade de Zurique e conduzidos na Reserva de Bonobos de Kokolopori, na República Democrática do Congo, também características da linguagem.
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Quer dizer, de acordo com Simon Townsend, psicólogo da Universidade de Zurique responsável pela pesquisa, em entrevista à NBC News, não é possível dizer que os bonobos têm linguagem, que é "um sistema de comunicação específico dos humanos".
O que se pode dizer, no entanto, é que esses primatas carregam um estilo de comunicação que se assemelha estruturalmente ao nosso, uma função de seu parentesco e suas marcas evolutivas compartilhadas.
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De acordo com o pesquisador, os bonobos conseguem entender um dos princípio linguísticos que integram a nossa comunicação: a composicionalidade, que determina o sentido de uma frase pelo significado das palavras que a formam.
Por exemplo: ao se dizer "Um homem alto fala", o sentido da frase é composto tanto pelo sentido da palavra "homem" (ser da espécie humana, do sexo masculino) como da palavra "alto" (algo de altura elevada) e da palavra "fala" (o ato de falar). O sentido é uma composição de várias palavras que, juntas, formam seu significado específico — ou seja, são consideradas em conjunto para gerar um novo sentido compartilhado. Isso se chama composicionalidade não trivial.
Ao estudar bonobos da Reserva Kokolopori, no Congo, os pesquisadores foram capazes de perceber pelo menos 700 vocalizações dos primatas, nos diferentes contextos em que eram empregadas, e lançaram mão de técnicas linguísticas para investigar seu significado.
O experimento lembra os esforços da pesquisadora Dra. Louise Banks (representada por Amy Adams) no filme "A Chegada", de 2016, dirigido por Denis Villeneuve, em que uma linguista ajuda o Estado norte-americano a compreender a linguagem falada por extraterrestres a partir de sinais.
No caso dos pesquisadores da Universidade de Zurique, as observações dos chamados dos bonobos gerou um dicionário com várias categorias de sons, entre pios e grunhidos, latidos e sons mais ou menos graves.
Eles perceberam que cada um desses sons significava um chamamento específico, ou uma ordem, como "olhe para mim" ou "vamos fazer isso".
Além disso, eles perceberam que os chamados eram dotados de uma espécie de composicionalidade não trivial: se uma série de chamados fosse ordenada de uma certa forma, eles significavam algo; e, se eram ordenados de outro jeito, mudavam de significado. Isso demonstrou que os sons não eram apenas dotados de um significado específico, mas que sua ordem de emissão os dotava de um significado combinado em que o sentido de cada um dos sons importava à produção de um novo sentido reunido.
Por exemplo: um grunhido alto que, sozinho, significava "olhe para mim" e um grunhido baixo cujo significado singular era "estou animado", quando usados juntos numa mesma "frase" (sequência de sons), podiam significar "olhe para mim porque estou em perigo".
Ou, quando um assobio que sozinho significasse "eu queria isso" fosse usado junto a um assobio que significasse "fique comigo", o resultado era "vamos ficar juntos" num sentido sexual, ou em representações de dominância.
É claro que essa interpretação não é incontestável entre a comunidade de linguistas. De acordo com a revista Smithsonian, pesquisadores da Universidade Centro-Europeia criticam os resultados do estudo e seus critérios para a representação da composicionalidade não trivial, que foram usados de maneira "muito arbitrária".
Se considerada nesse sentido, a composicionalidade não trivial poderia ser identificada como uma característica até mesmo das bactérias, que apresentam um comportamento comunicativo similar na emissão de sinais, sugerem.