A turnê “Tempo Rei”, do cantor e compositor Gilberto Gil, anunciada como a sua despedida dos palcos, tem emocionado o Brasil. Vários elementos colaboram para manter a comoção ao máximo, entre eles o repertório monumental, a participação dos seis filhos na banda e, é claro, o próprio clima de despedida.
Nada, no entanto, causou abalo tamanho, tanto para quem estava naquela noite no Allianz Park, ou para quem viu nas redes sociais, quanto a participação da cantora e apresentadora Preta Gil durante a canção “Drão”.
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Drão é o apelido dado por Maria Bethânia a Sandra Gadelha, terceira esposa de Gilberto Gil, que vem a ser irmã de Dedé, ex-esposa de Caetano Veloso. Sandra e Gil tiveram três filhos: Preta, Pedro, baterista que morreu em um acidente de automóvel em 1990, aos 19 anos, e Maria.
Preta, por sua vez, está se tratando de um câncer colorretal e havia saído de uma internação de 15 dias na UTI, quando se apresentou com o pai na noite do último sábado. Para completar o forte quadro emocional, a própria homenageada pela canção estava na plateia e foi citada pela filha.
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A canção “Drão” foi lançada por Gil em “Um Banda Um”, de 1982. O álbum quase todo é uma homenagem à Sandra e cita as dores da separação do casal em vários momentos. Nenhuma das canções, no entanto, tem um significado tão forte, traz uma tradução tão intensa do amor idealizado por Gil, que, por ser amor de fato, nunca morre. Um amor que “é como um grão, Morre, nasce, trigo, Vive, morre, pão”.
Os meninos são todos sãos
A própria Sandra afirma: “a primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'.”
“Drão”, enfim, é isto. Fala de maneira densa, leve e muito poético sobre um amor que nunca termina, mas se transforma de outras formas. E quando Preta Gil, que neste momento luta pela vida, a cantou ao lado do pai, diante de milhares de pessoas, ela instantaneamente assumiu mais um significado.
Leia a letra e ouça a canção abaixo:
Drão (Gilberto Gil)
Drão, o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar n'algum lugar
Ressuscitar no chão, nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminha dura
Dura caminhada pela estrada escura
Drão, não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão, estende-se infinito
Imenso monolito, nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminha dura
Cama de tatame, pela vida afora
Drão, os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce, trigo
Vive, morre, pão
Drão