CRÍTICAS

Cena de novela da Globo revolta ciganos: “Racismo”

Quatro entidades ligadas à comunidade cigana denunciaram a emissora pelas redes sociais

Cena de "Êta Mundo Melhor!".Créditos: Reprodução de Vídeo/TV Globo
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Menos de uma semana após sua estreia, a nova novela das 18 horas da Globo já se envolveu em polêmica e acusações. “Êta Mundo Melhor!” está no centro de uma briga com a comunidade cigana.

O folhetim escrito por Walcyr Carrasco causou tanta indignação que quatro organizações ligadas à defesa dos direitos dos ciganos publicaram, nas redes sociais, uma nota conjunta de repúdio.

O problema surgiu depois da exibição logo do primeiro capítulo, que foi ao ar na segunda-feira (30). A personagem Carmem, uma cigana interpretada pela atriz Cristiane Amorim, convence um casal a lhe entregar um bebê que havia sido sequestrado de Candinho, protagonista vivido por Sérgio Guizé.

Em seguida, Carmem negocia a criança com Zulma (Heloísa Périssé), vilã que comanda um falso orfanato. Com o dinheiro recebido da venda, a personagem deixa a cidade.

A cena foi extremamente criticada pelas entidades Instituto Cigano do Brasil (ICB), Urban Nômades Brasil, International Romani Union Brasil (IRU) e Associação Mayle Sara Kali Brasil (AMSK).

As instituições publicaram um comunicado no Instagram e no Facebook, em que acusam a emissora de promover uma imagem preconceituosa da cultura cigana. Além disso, classificam o episódio como um caso claro de romafobia, termo usado para definir o racismo contra povos ciganos.

“Essa representação é mais do que um erro artístico — é um ato de discriminação. A novela reforça um estereótipo antigo e violento: o da cigana envolvida em crimes como sequestro ou tráfico de crianças. Isso não apenas ignora a realidade dos nossos povos, mas perpetua uma visão desumana que tem servido de justificativa para séculos de exclusão”, destaca a nota.

As entidades ressaltaram, ainda, que a Rede Globo é uma concessão pública e, por isso, deveria ter responsabilidade social e legal sobre o que veicula. Elas cobram um posicionamento do Ministério da Igualdade Racial e exigem providências contra o que classificam como racismo étnico-cultural.

“Povo de história, conhecimento e dignidade”

Não somos personagens folclóricos nem vilões exóticos. Somos um povo de história, conhecimento e dignidade. E cansamos de ver nossa identidade ser usada como vilania em roteiros de ficção”, aponta o texto.

A nota é concluída com um apelo: “Não em nosso nome. Chega de usar o entretenimento como escudo para o preconceito. Isso é racismo e precisa ser tratado como tal”.

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