A magia de Bethânia e Zeca Pagodinho juntos ao vivo

O álbum “De Santo Amaro a Xerém” é um lindo registro de um encontro inusitado e, por essas manobras do destino, revela muito mais semelhanças do que as diferenças aparentes

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[caption id="attachment_147272" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução[/caption] A princípio parece o casamento da raposa com o rouxinol ou vice-versa. Aparentemente são dois universos absolutamente distintos. Dois artistas com personalidades muito diferentes também. Maria Bethânia é extremamente disciplinada, sem excessos, com a voz sempre em dia e ele, enfim, é o Zeca Pagodinho. A despeito disso, e talvez até por isso mesmo, as coisas funcionam e o álbum “De Santo Amaro a Xerém”, com os dois artistas juntos, é um lindo registro de um encontro inusitado e, por essas manobras do destino, revela muito mais semelhanças do que as diferenças aparentes. Fórum precisa ter um jornalista em Brasília em 2019. Será que você pode nos ajudar nisso? Clique aqui e saiba mais A canção que alinhava o espetáculo foi feita sob encomenda por Caetano Veloso. “Amaro a Xerém” tirou o compositor de um certo ostracismo. Ele conta que não compunha nada há um tempo e não resistiu ao pedido da irmã. Além disso, Caetano é fã confesso de Zeca Pagodinho. O resultado, com os lindos versos: “Aí amor amor amaro, Aí cheirinho de Xerém, Ai amor — paro, Ai amor — vem” foi imediatamente aprovado por Zeca, que o aprendeu a cantar rapidamente, segundo conta Bethânia. O formato do espetáculo é muito simples. Os dois abrem para, logo a seguir, cada um deles fazer um show à parte, com as suas respectivas bandas para, ao final, voltarem juntos. Os dois repertórios em separado não trazem grandes novidades a quem acompanha os dois artistas. A ligação entre eles é que nos traz o prazer e a curiosidade da viagem descrita na canção de Caetano. Bethânia é a maior intérprete e divulgadora do samba de roda do recôncavo. Graças a ela o ritmo se tornou muito mais conhecido e executado em todo o Brasil. Mas ela não fica só por aí. Canta como ninguém Noel Rosa, Paulo Vanzolini, entre outros clássicos da nossa música, até a tropicalista “Marginália II”, de Gilberto Gil e Torquato Neto. Zeca Pagodinho, por sua vez, ataca com o repertório onde é soberano. Os clássicos do samba carioca como “A Voz do Morro”, de Zé Kéti, até os que ele mesmo consagrou como “Verdade”, de Nelson Rufino e Carlinhos Santana, e “Lama nas Ruas”, de Almir Guineto, entre outros. Os dois se reencontram lá na frente, onde Zeca faz um pot-pourri de sambas exaltando a Portela, enquanto Bethânia homenageia a Mangueira. Na disputa entre as duas tradicionais escolas do Rio de Janeiro quem ganha é o público. Antes do grande final, os dois juntos ainda reservam boas surpresas para o público. O lindo samba “E daí (Proibição inútil e ilegal)”, de Miguel Gustavo; “Desde que o samba é samba”, de Caetano e Gil; “Naquela Mesa”, de Sérgio Bittencourt, este só com o Zeca, e o clássico “Chão de Estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, em lindo dueto. Para encerrar, de presente para a plateia, Zeca e Bethânia cantam “Deixa a vida me levar”, de Serginho Miriti e Eri do Cais, e “O que é, o que é”, de Gonzaguinha. Ao final, a desconfiança do início permanece. São dois mundos distintos mesmo que juntos produzem a mágica de traduzir o Brasil de ponta a ponta, como insinua Caetano. Agora que você chegou ao final deste texto e viu a importância da Fórum, que tal apoiar a criação da sucursal de Brasília? Clique aqui e saiba mais