Acabou Chorare: Os Novos Baianos estão de volta

Os alegres e talentosos vovôs invadem o palco em uma réplica da “velha fubica”. Daí pra frente tudo é alegria e se reproduz quase como se não tivesse passado tanto tempo

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Os alegres e talentosos vovôs invadem o palco em uma réplica da “velha fubica”. Daí pra frente tudo é alegria e se reproduz quase como se não tivesse passado tanto tempo Por Julinho Bittencourt O que parecia distante e quase impossível, acabou acontecendo. O reencontro dos Novos Baianos, algo que – comentava-se – seria apenas um show, virou turnê, com o álbum e DVD ao vivo “Acabou Chorare – Novos Baianos se Encontram (Ao Vivo)”. A pergunta que não quer calar é se o lançamento vale apenas aos saudosos ou se tem algo de fato ali que a molecada pode ainda se esbaldar. A resposta vem logo na entrada. Os alegres e talentosos vovôs invadem o palco em uma imitação da “velha fubica” que, para quem não sabe, é o primeiro trio elétrico de Dodô e Osmar, citado, cantado e requentado por Moraes Moreira sempre que pode e, diga-se de passagem, com toda a justiça. Estão ali todos eles, alguns em plena forma e, o que é melhor, fazendo música boa, como sempre. O antigo casal mais cobiçado pelos malucos do século XX – Baby, agora do Brasil, antes Consuelo e o mega-guitarrista Pepeu Gomes – são, disparado e com todas as honras, os mais radiosos, os que sobreviveram melhor às intempéries do tempo. Baby está cantando como sempre e Pepeu tocando como nunca. Há que se ressaltar também a banda de apoio, com direito até ao leãozinho Dadi no contrabaixo e guitarra. Uma suingueira só. Se dependesse só deles, a gente jurava que era 1975, ainda em pleno verão baiano. No entanto, e é impossível não ressaltar, as vozes de Paulinho Boca de Cantor e, sobretudo, Morais Moreira, falham imperdoavelmente. Nada que as excelente composições e arranjos não empurrem à frente e façam desse “Acabou Chorare – Novos Baianos se Encontram (Ao Vivo)” uma festa para os olhos e ouvidos. A abertura, com a canção “Anos 70”, pinçada do reencontro “Infinito Circular”, de 1997, é uma ode às grandes influências, com um refrão que mata a charada: “E Beatles, viver ouvindo João, assim como John/Deixando marcas na imagem e no som”. Dai pra frente, eles desfiam o rosário de seus maiores sucessos. Canções que marcaram gerações, são gravadas, cultuadas e regravadas até hoje reaparecem como se tudo fosse ontem. “Dê um Rolê”, que na verdade era a abertura do repertório do antológico álbum “Fa-Tal – Gal a Todo o Vapor”, de Gal Costa, regravada (e muito bem) pela também baiana Pitty, aparece pela primeira vez com os seus autores, numa explosão de guitarras e vitalidade. Puro rock baiano. E eles pulam com a maior naturalidade para os sambas de Ataulfo Alves, Ary Barroso, o chorinho de Waldir Azevedo (Baby como sempre soberba em “Brasileirinho”), o antológico presente de Caetano que deu nome ao disco “Farol da Barra”, enfim, a cândida e inesquecível “Acabou Chorare”, “Besta é Tu” e muitas outras mais. Um petardo divertido que, além de nos fazer relembrar um dos grandes momentos da nossa música contemporânea, coloca a garotada de agora de volta na velha e boa rebeldia, num infinito circular. Foto: Divulgação