“Antena da Raça”, sobre o programa “Abertura”, de Glauber Rocha, é indicado a prêmio em Cannes

Documentário dos diretores Paloma Rocha (filha de Glauber) e Luís Abramo Campos conta sobre a experiência transgressora e o contexto político e cultural do programa “Abertura”

Foto: Divulgação
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A produção brasileira “Antena da Raça”, dos diretores Paloma Rocha e Luís Abramo Campos, integra a lista dos 7 documentários da seleção oficial na edição de 2020 da Mostra Cannes Classics.

A obra, de 80 minutos de duração, conta a experiência transgressora, o contexto político e cultural em que o programa “Abertura”, de Glauber Rocha, exibido por pouco mais de um ano entre 1979 e 1980, quando foi extinta a TV Tupi.

Na época, Glauber ousou na linguagem televisiva, quebrando as regras das entrevistas na TV, propondo temas polêmicos em um período que o país passava por um processo de redemocratização.  A linguagem utilizada por Paloma e Abramo dialoga com o estilo de Glauber, provocando uma reflexão crítica sobre o processo democrático, o papel da sociedade e sua relação com os meios de comunicação.

“Não é um documentário sobre Glauber ou um tributo a ele, até porque a relação com meu pai desmistificou essa coisa de tributo, de ele ser gênio etc. Aliás, a genialidade dele era justamente essa, a de saber se aproximar e falar às pessoas de forma simples e direta. Nesse sentido, quisemos resgatar essa efervescência cultural e o desejo de liberdade do final dos anos 70 para hoje, e a própria obra do Glauber permite isso, pois, nela, o passado transita pelo presente como se todos estivessem no mesmo plano. Utilizamos os personagens das obras dele como um contraplano ao Brasil de hoje”, diz Paloma.

“Fomos às ruas, eu e Abramo, para entender os temas que Glauber prenunciava 40 anos atrás e estabelecemos um diálogo com o que está acontecendo. Os personagens de Glauber são atemporais, permitindo fazer esse paralelo com a atualidade”, complementa. Paloma destaca, ainda, que “Antena da Raça” resgata a inspiração, o vigor de seu pai e, sobretudo, seu legado de coragem e lucidez, como disse o cineasta e escritor Orlando Senna.

Quanto à inclusão do filme entre os finalistas do Cannes Classics, a diretora identifica motivos de satisfação. “Além de ser um dos mais representativos festivais do mundo e Glauber ter sido premiado nele, a França é um país que se preocupa em preservar e divulgar seu cinema. E permitir a Glauber voltar a esse evento nos dá uma sensação de dupla realização: levar a mensagem dele para esse festival e ter conseguido experimentar uma nova linguagem que lida com essa atemporalidade e não se enquadra em nenhum gênero de cinema. Um filme que mostra Glauber como ele era realmente, todo descabelado e sem camisa. Não é uma obra para inglês ver, como costumamos dizer. É um filme sem paletó, sem smoking, mas com a alma dele sempre presente”, diz.

Complementarmente, a diretora afirma que este reconhecimento também significa a possibilidade de dar continuidade ao trabalho, pois, segundo ela, o filme não se encerra em si. “É uma reflexão aberta e fico muito feliz pelo fato de Cannes compreender essa proposta de fazer algo totalmente sem concessões por meio da nossa percepção de como vemos o mundo pelo olhar do Glauber”.

Ficha técnica

Antena da Raça

Duração: 80 minutos

Ano: 2020

Produtores: Paloma Cinematográfica e Luba Filmes

Diretores: Paloma Rocha e Luís Abramo

Edição: Alexandre Gwaz

Elenco: Glauber Rocha, Brizola, Severino, Caetano Veloso, José Celso Martinez, Helena Ignez e Paloma Rocha.