Canções que falam de canções em lindo disco de estreia de Patricia Souza

Vale cada canção, cada releitura, cada tom de delicadeza e beleza que Patricia Souza nos entrega neste disco que, apesar de ser de estreia, nos mostra uma artista pronta

A cantora Patricia Souza. Foto: Priscila Costa/Divulgação
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A cantora paulista Patricia Souza foi viver na Argentina, mas carregou a canção brasileira junto. Ela acaba de chegar ao seu primeiro álbum, o lindo “ENTRE”, que tem um conceito curioso e instigante. Ela reuniu canções brasileiras que falam sobre ou foram inspiradas por outras canções. O disco conta com dez regravações de canções brasileiras, entre elas “Dom de iludir”, de Caetano Veloso, “Preciso aprender a só ser”, de Gilberto Gil, “À beça”, de Vítor Ramil, além de uma composição da cantora em parceria com o baixista argentino Martin Pantuso, a inédita “Queixume”, baseada na letra de "As rosas não falam", de Cartola. [caption id="attachment_136371" align="alignnone" width="342"] A capa de Entre. Foto: Divulgação[/caption] Martin Pantuso é o responsável pela produção musical, direção e arranjos de “ENTRE” e contou com o violonista e guitarrista Pedro Rossi, o percussionista Horacio Vázquez e o baterista Pablo Favazza, Eduardo González (piano), Matías Gobbo (bandoneón), Mercedes Morello (fagote), Emanuel Brusa (sax e flauta), Santiago Castellani (trombone), Andrés Ollari (trompete), Juan Pablo Isaía (guitarra portuguesa) e María Laura Rojas (voz). Patricia Souza traz o Brasil e a canção brasileira impregnados na sua maneira de interpretar. Tem uma voz delicada, suave, afinada e com muito senso rítmico. Mas nem por isso se furtou a misturar sons, misturar ritmos brasileiros e argentinos. A sua voz, apesar de vigorosa, se contém na medida das canções. Ela transita com destreza entre frases ricas de metais, solos de guitarra, bandoneón e mais um sem fim de instrumentos extremamente inventivos e bem tocados. Tudo funciona com muita naturalidade, como se músicos e cantora tivessem tocado juntos por toda a vida. Entre algumas canções bastante conhecidas e outras nem tanto, Patricia relê achados como a bela e intrigante “À Beça”, do compositor gaúcho Victor Ramil. A gravação intercala com maestria uma certa tensão com o relaxamento da batida da bossa nova, no limiar da letra impressionantemente bem construída e um tanto debochada. Vale ressaltar também o diálogo de voz e bandoneón na reflexiva “Preciso aprender a só ser”, que resgata uma fase meditativa de Gilberto Gil onde letra, harmonia, melodia e tudo o mais caminham num mesmo sentido sinuoso e complexo. Patricia matou a charada e conseguiu enxergar a canção de maneira definitiva. A inédita “Queixume”, que teria tudo para sumir diante de um repertório tão valioso, consegue jogar de titular e vale para esperar da parceria da cantora com o produtor um álbum de inéditas. Outro diálogo digno de nota acontece no clássico “Chão de Estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, entre Patricia e a cantora María Laura Rojas. As duas dão uma dimensão nova à canção tantas vezes regravada. Em um dueto comovente, as cantoras, ponteadas por Juan Pablo Isaía na guitarra portuguesa, levam a linda melodia para além-mar, em uma visão tanto nova quanto inusitada. Vale cada canção, cada releitura, cada tom de delicadeza e beleza que Patricia Souza nos entrega neste disco que, apesar de ser de estreia, nos mostra uma artista pronta, madura, que sabe o que quer e consegue fazer. Que venham muitos e muitos outros.