Carnaval sem deboche não é carnaval, talquey?

“A culpa é do PT”; “Nossa bandeira jamais será vermelha”; “Essa mamata vai acabar”: frases repetidas à exaustão pelo novo governo serviram de base para marchinhas satíricas da Família Passos que, diretamente da terra da Lava Jato, tem levado a internet ao delírio

A Família Passos (Reprodução/Facebook)
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O carnaval, historicamente, é um respiro para que os brasileiros brinquem e riam dos seus próprios problemas. Em 2019 não poderia ser diferente e, neste sentido, a Família Passos já se adiantou e compôs uma série de marchinhas satíricas ao governo Bolsonaro quem têm levado internautas ao delírio. Diretamente de Curitiba, terra da Lava Jato, pai, mãe e as duas filhas tem divulgado em seu canal do YouTube vídeos de marchinhas que satirizam Jair Bolsonaro, Damares Alves, Sérgio Moro, Fabrício Queiroz e cia. A piada não perdoa nem mesmo o “pobre de direita”, a “Barbie fascista” e usa frases prontas e jargões repetidos à exaustão pelos membros no novo governo e seus apoiadores que, nas marchinhas, servem com um dos principais componentes das letras. Talquey? “A culpa é do PT e dessa corja vagabunda de artistas. Essa mamata vai acabar. O bozo é o mito. Fora, fora, comunistas! Nossa bandeira jamais será vermelha, quem garantiu foi Jesus na goiabeira. Chegou a hora da nossa oração, partiu igreja com a arma na mão. Bandido bom é bandido morto. Sou cidadão de bem porque sou cristão”, diz a letra da marchinha “Talquey Talquey”, a primeira a ser divulgada no canal, em janeiro, e que atingiu o maior número de visualizações. Lígia Passos, uma das filhas, contou à Fórum que a ideia de fazer marchinhas satíricas conectadas com o cenário político surgiu dos próprios memes das redes sociais. Violinista e envolvida em projetos sociais com música, Lígia ajuda a mãe, Marília Passos, na criação das letras. Marília, por sua vez, que deu aulas de música por mais de 25 anos em escolas públicas, é a responsável pela composição da melodia. O pai, Nilton Passos, toca percussão desde criança mas trabalha no Sindicato dos Metalúrgicos. A outra filha, Isis, assim como o pai, não trabalha com música mas herdou a afinação da mãe e da irmã. “Não esperávamos tamanha repercussão. A gente sempre fez paródias e composições, tirando sarro de primos, tios, tias. A gente resolveu fazer isso com política e acabou se alastrando nas redes”, conta Lígia. A Família Passos há anos faz marchinhas de carnaval e já ficou, inclusive, entre os finalistas de um concurso em 2008 no Rio de Janeiro com a marchinha do “ET de Copacabana”. O teor político, no entanto, é novidade. Para Lígia Passos, a sátira política vem agora até como uma forma de lidar com as “situações bizarras” deste governo. “Estamos vivendo um absurdo atrás do outro, chega a ser bizarro. E a gente nem sabe o que vem pela frente. Então para dar conta de tudo isso, só dando risada. A gente tem que rir para não chorar. O humor é essencial”, explica. Antenada ao noticiário político, a Família Passos não deixa escapar nada. A partir do sucesso de “Talquey Talquey”, os músicos seguiram acompanhando o noticiário político e as redes sociais e criando novas marchinhas de acordo com a própria ordem dos fatos e acontecimentos. Um exemplo é a “Marchinha do Foro Privilegiado”, lançada bem à época que Flávio Bolsonaro recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar um foro privilegiado contra a investigação que é alvo no Ministério Público do Rio de Janeiro. “Bolsokid, tão moralista. Um exemplo para todos nós. Hoje ele usa o foro, para esconder as cagadas do Queiroz”, diz a letra. O mesmo pode se dizer da marchinha “Cuidado capitão”, lançada durante o período em que Bolsonaro estava internado e que muitos setores aventavam um racha entre o presidente e o vice, o general Hamilton Mourão. “Coloca a farda vem curtir o carnaval. Conheço alguém que vai perder para o general. O nosso mito está preocupado, o seu querido vice está descontrolado. Cuidado, capitão, com a bota do Mourão”. Da internet para as ruas Se nas redes sociais os vídeos viralizaram, no carnaval propriamente dito as marchinhas devem tomar as ruas. Uma dos vídeos da Família Passos chegou a ser compartilhado por Felipe Neto, considerado um dos maiores youtubers do Brasil, com milhões de seguidores. A repercussão, naturalmente, deve levar a sátira para além do âmbito virtual. Lígia contou à reportagem que uma série de blocos de carnaval já procurou a Família Passos para pedir autorização para executar suas músicas, autorização essa que foi dada. A própria família deve se apresentar em alguma festa ou bloco de carnaval com “Talquey Talquey” e outras marchinhas mas, segundo Lígia, ainda “não há nada definido”. Confira todos os vídeos da Família Passos aqui.