De romances a linchamentos, Zeca Baleiro apresenta o primeiro volume de seu amor no caos

“Bandido bom é bandido morto, esse argumento é tão perigoso, vejo pecado julgado pelo criminoso”, canta Rincon Sapiência em participação no novo álbum de Zeca Baleiro

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“Se lembre, Todo Super-Homem tem seu dia de Clark Kent.” Com este verso o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro abre o seu novo álbum “O Amor no Caos, Vol. 1”, onde tenta, aparentemente, revelar as suas e as nossas fragilidades, sobretudo as que vêm do coração. Suas novas canções são desprendidas, boas de cantar e dançar, ao mesmo tempo em que dialogam aqui e ali com os dias atuais e a necessidade geral de afeto. Zeca optou, desta vez, por falar do amor e suas mazelas, com a exceção talvez da comovente “O Linchador”, feita em parceria com o poeta conterrâneo Fernando Abreu e o rapper paulista Rincon Sapiência, um ponto alto e fora da curva do disco. Nela, o texto de Abreu abre o ato musicado por Zeca Baleiro onde o protagonista dissimula um linchamento: “Bati um pouco sim...” ou “Quase não encostei nele...”, até que finaliza respondendo de maneira contundente: “acho que nem parecia com meu filho mais novo, linchador o caralho”. O outro lado da conversa é revelado por Rincon, com uma breve reflexão da justiça: “Eles dizem: ‘bandido bom é bandido morto, esse argumento é tão perigoso, vejo pecado julgado pelo criminoso”, para encerrar com o mesmo verso de antes, mas desta vez do avesso, com uma pequena alteração: “linchador do caralho”. O álbum é, antes de mais nada, muito bem produzido, gravado, executado e divertido. Produzido pelo próprio Zeca e banda, conta com um som predominantemente pop, onde tanto a destreza do compositor na feitura de suas canções quanto a execução se misturam. Zeca é um craque da nossa música que conseguiu criar um som próprio, repleto de detalhes e invenções que sempre passam também e muito pela criatividade dos músicos que o acompanham já de longa data: Adriano Magoo (pianos e sanfona), Fernando Nunes (contrabaixos), Kuki Stolarski (bateria e percussão), Pedro Cunha (teclados e synths) e Tuco Marcondes (guitarras, violões e tambura). O disco traz também vários parceiros além de Fernando Abreu e Rincon Sapiência. Paulinho Moska participa com “Pela milésima vez”, já gravada por ele em seu disco do ano passado, O Barão Vermelho Frejat em "Te amei ali", a linda “Mais Leve”, feita em parceria com Cynthia Luz que também faz participação especial. Além delas, tem ainda a “Balada do amor em chamas”, com Celso Borges e cantada em duo com Ana A. Duártti, “Dia quente”, com Joãozinho Gomes e “Por minha rua”, com Dany Lopez. Esta última, uma das mais belas canções do álbum, na tradição das baladas românticas pós-Jovem Guarda, poderia muito bem ter saído de um álbum de Roberto Carlos ou Tim Maia. Ao chegar ao final de “O Amor no Caos, Vol. 1”, resta voltar ao começo enquanto se espera pelo número dois, que, assim como o seu “O Coração do Homem-Bomba”, de 2008, Zeca Baleiro garante que também virá.