O luthier, compositor, instrumentista e pesquisador da cultura negra Mestre Lumumba acaba de lançar o álbum “Ifé Bogbo Aiye”. Produzido no estúdio Kalakuta, quilombo urbano localizado na periferia da zona oeste de São Paulo, o disco conta com a direção musical de João Nascimento e participação de importantes artistas e produtores da cena cultural preta de São Paulo, que se reuniram de forma colaborativa para a realização desta obra.
O álbum consiste no registro fonográfico de uma pesquisa cultural/musical que vem sendo realizada pelo artista Lumumba a mais de 30 anos em suas andanças, trajetórias e experiências percorridas em terreiros de candomblé, nos quintais de barro batido de seus bisavós, em espaços de resistência negra, em quilombos e vivências artísticas na cena da música brasileira.
“Registrar essa obra é manter viva a história e o legado cultural de Mestre Lumumba, bem como, materializar a memória de um povo que ao longo do tempo historicamente vem sendo invisibilizado, de maneira simbólica, violentado pela cultura colonialista hegemônica”, destaca João Nascimento produtor musical.
“Ifé Bogbo Aiye” significa “Amor para a Terra Toda” em língua de preto, como define Mestre Lumumba. “Em tempos de pandemia, o amor pode ser um caminho viável para um mundo que ainda insiste em violentar as populações negras e indígenas, que naturaliza a morte de centenas de milhares de pessoas, principalmente os mais idosos, que extermina as principais riquezas naturais do planeta que são nossas florestas, nossas águas e animais, que demoniza o culto às deusas e aos deuses de religiões não eurocentradas, reflete Mestre Lumumba, sobre a importância de lançar essa obra em tempos de crise acentuada no universo.
O álbum conta com canções de domínio público recolhidas nos terreiros de matrizes afro-ameríndias da região sudeste do Brasil, cantadas em “língua de preto” que compreende a junção dos troncos étnicos banto, jeje e nagô, ainda falados nos chamado enquistamentos culturais afro-brasileiros, sendo uma língua difundida no Brasil desde o processo de escravização na diáspora africana, antes mesmo da língua nacional ser oficializada como o português, sendo conhecida como “língua geral brasileira”. O álbum será organizado em formato de “Suíte Negra em Si menor”, uma “coleção-conjunto” de peças musicais ligadas a interlúdios compostos sobre o tema IFÉ BOGBO AIYE.