Miguel Silveira mostra filmes sobre eleições nos EUA com o coração brasileiro

O cineasta carioca, que participa do Festival do Rio com dois longas feitos nos EUA, falou com exclusividade à Fórum

Cena de American Thief. Foto: Divulgação/JOHN WAKAYAMA CAREY
Escrito en CULTURA el

O cineasta brasileiro Miguel Silveira estava exultante com a estreia de seu filme “American Thief”, na tarde desta quinta-feira (16), no Festival do Rio 2021. A sessão, de acordo com ele, estava lotada e o longa foi muito bem recebido.

Sua alegria, no entanto, não é para menos. Nascido no Rio de Janeiro e criado e apaixonado por Niterói, Miguel volta para casa pela porta da frente, com dois filmes totalmente feitos nos Estados Unidos, ambientados nas duas últimas eleições americanas em uma situação política que, para ele, tem tudo a ver com o Brasil.

“São filmes feitos nos EUA, mas que têm um coração brasileiro, um coração político brasileiro”, revelou ele com exclusividade à Fórum, em um pequeno intervalo da correria que tem sido o festival.

O cineasta Miguel Silveira. Foto: Divulgação/Melissa Hernadez

Dois filmes

Miguel participa com dois filmes. Além de “American Thief”, que se passa durante as eleições americanas de 2016, que estreou no festival nesta quinta-feira, ele também trouxe “The Last Election and Other Love Stories”, uma trama que ocorre durante as eleições seguintes (veja mais detalhes sobre os filmes e a programação abaixo).

O diretor afirma que se sente como se o fato de voltar para casa com os dois filmes é “quase como se isso tivesse que ter acontecido. Fazer os filmes lá fora, com o intuito quase que único de mostra-los agora no Brasil, no Rio”, explica. “São filmes que foram feitos nos EUA, mas têm um coração brasileiro, um coração politico brasileiro. Também têm influências do cinema brasileiro, principalmente dos anos 60 e 70, que são muito presentes nos filmes. Então vir pra cá e mostrar os filmes é como se eu tivesse assistido a filmes feitos aqui. E de certa forma, eles foram, através de mim, do produtor Michel, que também é brasileiro, o Felipe Bretas, que é co-produtor, a Mayra Auad entre outros. Teve essa sensação de estar voltando pra casa sem nunca ter saído e isso foi fantástico”, comemora.

Previsão de futuro

Para Miguel, seus filmes têm uma certa previsão de futuro. “A gente sabia instintivamente antes da eleição que o Trump ganharia. A gente tinha um outro final pro filme caso a Hillary tivesse ganho, mas a gente sabia que não tinha jeito”, lamenta. “E filmamos ao vivo, enquanto a eleição acontecia, já preparando pra essa vitória dele. O filme é decupado nesse sentido ao vivo pra acompanhar a vitória desse cara. A maneira que eu pensava tinha muito a ver com o que aconteceu no Brasil em 2013 e principalmente durante o impeachment da Dilma”.

O cineasta afirma que com “a leitura do que estava acontecendo no Brasil, ficava fácil prever o que estava pra acontecer nos EUA. A base pra essa vidência nossa teve muito a ver com o processo brasileiro e as coisas se repetem no mundo”.

“Quando você vê o filme hoje, falando mais especificamente do American Thief, ele basicamente está descrevendo o Brasil de 2018. Ele descreve o Brasil da eleição do Bolsonaro, perfeitamente. É um filme que atravessa o oceano nesse sentido”, afirma.

“Quanto ao segundo filme”, explica, “mais do que o primeiro, chega a ser ridículo o que estava acontecendo na rua com o que eu tenho observando agora na eleição no Brasil do ano que vem. Junta esses dois países, que pra mim agora são os dois países mais importantes do mundo pra quem tá querendo ler o que vai acontecer com a política lá pra frente”. Para ele, a relação desses dois filmes com o Brasil é muito forte, inclusive têm cenas de brasileiros contra o Bolsonaro na Times Square. Qualquer brasileiro que assistir vai entender a relação entre os dois países na hora”, encerra.

Ficha técnica

“American Thief” foi produzido pelo cineasta brasileiro Michel Stolnicki. Outros colaboradores brasileiros incluem a produtora Mayra Auad, os produtores associados Felipe Bretas e Ilda Santiago e a musicista/atriz Cacau da Rosa "Lady Acid". “The Last Election and Other Love Stories” apresenta entrevistas com as ativistas brasileiras Natalia de Campos e Myriam Marques, além de outros membros do grupo Defend Democracy in Brazil, que atuam em Nova York.

Os filmes combinam ficção, documentários e os gêneros ação/ suspense em American Thief e comédia e romance em The Last Election and Other Love Stories. Os longas foram feitos durante as duas últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos e acompanham a ascensão do Presidente Donald Trump e a ruptura política sentida globalmente. Além de compartilhar temas semelhantes, os filmes são estrelados pelos mesmos jovens atores: Xisko Maximo Monroe (nos papéis de Toncruz e Xisko) e Khadim Diop (nos papéis de Diop e Khadim). Silveira vê estes projetos como parte de uma série de filmes sobre eleição, que buscam capturar a verdade emocional de uma era de fortes mudanças políticas, sob a perspectiva de pessoas comuns. 

O trabalho de Silveira, que está radicado nos EUA há mais de 20 anos, foi pensado para abrir caminho para perguntas e discussões recorrentes em tópicos que não possuem uma "resposta correta", explica a roteirista e produtora Missy Hernandez, que colaborou com Miguel nos dois filmes. "Existe uma curiosidade e um humanismo que permitem que as pessoas se envolvam com os filmes e se sintam vistas, independentemente de suas crenças."

Miguel Silveira

Miguel Silveira é um premiado cineasta independente e educador que atualmente ensina direção de ficção e de documentários na Columbia College de Chicago. Miguel também ensinou em instituições como a Universidade de Columbia, em Nova York, e na Escola de Cinema e Televisão de San Antonio de Los Baños, em Cuba e já dirigiu e escreveu mais de dez filmes, entre eles o premiado Devil's Work (2015) e a série documental Rebel Music (2013).

Os filmes:

AMERICAN THIEF (2020) - Filmado e roteirizado em torno de eventos reais entre 2015-2019, American Thief segue seus protagonistas em uma trama voltada a manipular a eleição presidencial Americana de 2016. Toncruz, um hacker adolescente, usa a internet para tentar vingar a morte de seu pai, enquanto seu melhor amigo, Diop, usa o hackeamento como ferramenta na luta por justiça racial. Paul Hunter, um influenciador digital enfurecido conhecido como “Homem da van”, e Toncruz são contatados por um usuário não identificado na “dark web” que afirma ter acesso aos segredos que eles procuram desvendar. 

Quinta, 16/12 | 17:00 | Cinepolis Lagoon 4

Sexta, 17/12 | 16:00 | Estação NET Rio 5

https://www.youtube.com/watch?v=EGvS_R8aCmg&ab_channel=FilmMovement

THE LAST ELECTION AND OTHER LOVE STORIES (2021) - Como finalistas em uma competição de podcasts com um prêmio no valor de 20 mil dólares, Khadim Diop e seu parceiro criativo, Xisko Monroe, criam uma etnografia em áudio sobre a eleição presidencial Americana de 2020. Trabalhando exclusivamente na Times Square entre o amanhecer do dia 3 de novembro de 2020 até o amanhecer do dia 4 de novembro de 2020, eles fazem três perguntas a todos os entrevistados: Onde você estava na última eleição? Quais são as questões mais importantes nesta eleição? Você acha que esta será a última eleição? 

Sexta, 17/12 | 17:00 | Cinepolis Lagoon 4

Sábado, 18/12 | 17:00 | Estação NET Rio 5

O cartaz de “The Last Election and Other Love Stories”. Foto: Divulgação/YER CREATIVE