Morre Bibi Ferreira, uma das mais completas artistas do Brasil

A atriz acordou e pediu um copo d'água. A enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo, chamou um médico, mas não houve tempo para levá-la para o hospital

Foto: reprodução / Vimeo
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Bibi Ferreira, grande diva do teatro brasileiro, morreu no Rio nesta quarta-feira (13), de acordo com a filha, dormindo. A atriz, cantora, apresentadora, diretora e compositora foi um dos maiores fenômenos artísticos do Brasil e tinha 96 anos. A informação foi confirmada pelo empresário Marcos Montenegro. Tina Ferreira, filha de Bibi, informou que ela morreu no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio. A atriz acordou e pediu um copo d'água. A enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo, chamou um médico, mas não houve tempo para levá-la para o hospital. Tina acredita que a mãe morreu dormindo. Bibi deve ser cremada, mas ainda não há informações sobre velório e enterro. Bibi foi contra o golpe que derrubou Dilma Bibi Ferreira se posicionou, em 2016, contra o golpe que tirou Dilma Rousseff do poder. Na ocasião, ela lembrou: “Todos me conhecem e sabem que nos meus 93 anos de vida nunca fui dada a emitir opiniões de cunho político. Contudo, enquanto cidadã brasileira e mulher sinto obrigação de alertar as pessoas sobre o que está acontecendo. Muito do que vemos é o mais puro e repugnante machismo, pois tristemente muitos conseguem cultivar a ideia de que as mulheres não são capazes de ocupar cargos de importância e por isso na primeira dificuldade já querem substituí-la. Só assim pode se explicado a falta de respeito não só com uma presidenta que obteve nas urnas mais de 54 milhões de votos e com toda população. Querer retirá-la da presidência sem que ela tenha praticado qualquer crime é inaceitável. É muito triste constatar que muitas pessoas não conseguem enxergar que as emissoras de TV são empresas, e como qualquer empresa, o seu compromisso maior é com quem lhe garante vultuosos recursos financeiros e não com o povo. Confio que a presidenta representa hoje os valores da Democracia e do Estado Democrático de Direito no só no nosso querido Brasil como no mundo. Viva a Democracia e abaixo o golpe.” Trajetória

Bibi nasceu Abigail Izquierdo Ferreira, em 1º de julho de 1922. Era filha do ator Procópio Ferreira, e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido que ganhou ainda na infância – já estava no palco com apenas 20 dias de vida, no colo da madrinha Abigail Maia, em encenação de "Manhãs de sol", de Oduvaldo Vianna.

[caption id="attachment_166648" align="alignnone" width="300"] Procópio e Bibi Ferreira. Foto: TV Globo[/caption]

Seu primeiro personagem propriamente teatral foi Mirandolina, de “La Locandiera”, de Goldoni, em 1941. Três anos depois, com o teatro brasileiro em fase de modernização, já tinha sua própria companhia, por onde passaram iniciantes como Cacilda Becker.

Bibi fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão. Foi enredo de escola de samba (Viradouro, em 2003) e teve recentemente a vida e obra contadas em musical escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães e dirigido por Tadeu Aguiar.

Seu maior personagem, Edith Piaf, nasceu de outra peça da Broadway, que acabou se concentrando nas canções, na adaptação dirigida por Flávio Rangel. Estreou em 1983 e ficou sete temporadas em cartaz, voltando em cenas pontuais de outros espetáculos.

Gota D'Água

[caption id="attachment_166646" align="alignnone" width="227"] Foto: Arquivo[/caption] Bibi Ferreira ficou imortalizada e recebeu o Prêmio Molière no papel de Joana, na peça Gota D'Águade Paulo Pontes e Chico Buarque, a partir de Medeia, de Eurípedes, com direção de Gianni Ratto. O espetáculo estreou em dezembro de 1975, no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro. Ambientada numa favela carioca, a tragédia grega era, na verdade, uma crítica social e política. Tratava-se de um teatro de resistência, mas a censura liberou a peça, pois as cenas se passavam no contexto da vida privada. A montagem foi um grande sucesso de público e de crítica.
Com informações da Folha e do G1