Morre mestre Badia Medeiros, um dos artistas populares mais importantes do Brasil

Seu Badia gravou, em 2003, ao lado de Paulo Freire e Roberto Corrêa, o álbum “Esbrangente”, um dos mais significativos da nossa cultura

Foto: Um Brasil de Viola
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O violeiro e artista popular Badia Medeiros nos deixou, na madrugada de sábado (3), após sofrer um infarto. Seu Badia nasceu em Unai (MG), em 1940. Foi Capitão de Folia do Divino, Dançador de Catira e Lundu, tocava a Viola Caipira e o Violão e também uma Sanfoninha de Oito Baixos (a chamada "Pé-de-Bode"). [caption id="attachment_143912" align="alignnone" width="439"] Com a Bandeira do Divino. Foto: Blog de Badia Medeiros[/caption] Sobre a sua morte, o violeiro Paulo Freire postou em sua conta do Facebook, ao lado de uma foto feita durante apresentação recente que fizeram juntos: “o menino do meio é o Mestre Badia Medeiros. Bem felizes com nossa apresentação, mais Mestre Manelim, dia 21/10, no Itaú Cultural. Hoje cedo seu Badia partiu. Encantou-se. Muito amor por esse grande homem”, lamentou. Badia Medeiros aprendeu a tocar bem cedo, numa violinha do pai. A partir disso, virou apaixonado pelas canções, trovas e festas que circundavam sua vida. É ele próprio quem conta: "nessa época eu tava com 9 anos e rádio num tinha, não. Música que eu ouvia era Música tocada na Viola. Ninguém nem ouvia falá em fita, nem disco. Vitrola de corda, eu conheci já tinha 13 anos. Foi uma novidade e aí eu ia prá cima, prá iscutá e aprendê alguma coisa", disse. Por conta de seu isolamento involuntário, seu legado é de fato imaterial, carente de registros. Badia Medeiros, a sua arte e tudo o que recolheu ao longo dos anos aparece através de interlocutores contemporâneos como os violeiros Paulo Freire e Roberto Corrêa. Com os dois gravou, em 2003, o álbum “Esbrangente”, um dos mais lindos e significativos da nossa cultura seminal. Em 2004, lançou o seu único álbum solo, pelo selo de Roberto Corrêa, Viola Corrêa Produções: "Badia Medeiros – Um Mestre do Sertão", que se tornou uma raridade. [caption id="attachment_143911" align="alignnone" width="350"] A capa de "Esbrangente". Foto: Divulgação[/caption] Por ocasião do relançamento de “Esbrangente, em 2008, esta coluna comentou: A palavra "Esbrangente" de acordo com o violeiro Paulo Freire surgiu assim: "...um dia, Badia Medeiros precisava dizer algo além de abrangente, que fosse mais para a frente, que atingisse um tanto de légua adiante. Então soltou: 'esbrangente'!". O termo batizou o disco. Nele ouvimos algumas das mais belas modas, causos e ponteados de viola que se tem notícia pelo Brasil afora. Foi gravado e lançado em 2003 e depois disso desapareceu das prateleiras. Desde então é disputado a tapas pelos admiradores da viola de dez cordas e da cultura caipira. Ouvido assim, pouco mais de cinco anos depois do seu lançamento, já pode ser tido como um clássico, um dos discos brasileiros mais importantes de todos os tempos. E isto ocorre por várias razões que começam por contar com três dos maiores artistas populares brasileiros que, de certa forma, se completam, cada um numa ponta. E o texto encerra assim: O estado de graça que os artistas se encontravam durante a sua feitura é indisfarçável. A amizade entre eles e a paixão pela música que fazem transborda de cada nota emitida. E é por conta disso tudo que "Esbrangente", a despeito de ser ancestral e abrangente, alcança de fato várias léguas lá adiante. Descanse em paz, mestre Badia.