Morre Pelão, o produtor que teve coragem de gravar Cartola

Em fevereiro deste ano, o jornalista Celso de Campos Jr. lançou o imprescindível livro “Pelão – A Revolução pela Música”, em que conta a sua história musical

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O produtor musical João Carlos Botezelli, conhecido como Pelão, morreu no início da tarde desta quarta (1º), aos 78 anos, em decorrência de um infarto. O produtor é o responsável, entre vários outros, de ter tido a coragem de fazer o primeiro disco do cantor e compositor Cartola, aos 66 anos.

Mas Pelão fez muito mais. Gravou Nélson Cavaquinho, Adoniran Barbosa, Radamés Gnattali, Pixinguinha, Carlos Cachaça, Donga, Nelson Sargento e muitos outros. Sua contribuição para a música brasileira é diametralmente oposta ao reconhecimento que recebeu em vida. Ele é tão importante para nós quanto Quincy Jones para os americanos.

Em fevereiro deste ano, o jornalista Celso de Campos Jr. lançou o imprescindível livro “Pelão – A Revolução pela Música”, em que conta a sua história musical e detalha os principais álbuns que produziu.

Na ocasião escrevi: E esse tempo parte da obstinação de um indivíduo absolutamente apaixonado, não só pela música brasileira, mas pela possibilidade de traduzir a sua sonoridade, assim como ele a ouvia em botecos, rodas e vielas, para o disco. Aqui vale uma pequena nota de rodapé para o leitor. Disco, desde sempre, é uma coisa maquiada, repleta de efeitos e truques que, muitas vezes, não revelam nem de longe a alma e a música do artista.

E foi contra isso que Pelão lutou, e todas as vezes venceu, nos antológicos álbuns que fez. O primeiro de todos, pelo selo Odeon, traz um Nélson Cavaquinho nunca antes ouvido nos bolachões, com a mesma voz rouca e o seu violão, tocado com dois dedos, com sonoridade ímpar.

Pelão não tinha formação musical alguma, mas sabia ouvir. Sabia também o que queria. E, com toda a empáfia do mundo, se enfiava entre os maiores músicos da época e os regia, dizia quem ia entrar aqui, sair ali etc. Celso de Campos descreve vários desses momentos. Coloca o leitor entre o estúdio e os anseios do produtor que, com bom humor irresistível debocha de si, de tudo e de todos.

O enterro de Pelão ocorrerá nesta quinta (2), às 11h, no Cemitério Gethsêmani, no bairro paulistano do Morumbi. Não haverá velório.