Música de Resistência – As canções de protesto do Século XX

Um pequeno texto que destaca, com vídeos, suas respectivas letras e traduções, algumas das mais emblemáticas canções de protesto do Século XX

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As canções sempre foram uma grande arma na luta pelos direitos civis, pela democracia, nas guerras e conquistas. O hino francês, a bela “Marselhesa”, composto pelo oficial Claude Joseph Rouget de Lisleem, em 1792, e popularizado durante a Revolução Francesa, que o diga. Este pequeno artigo, baseado no espetáculo “Música de Resistência – As Canções de Protesto do Século XX”, tem como objetivo, como assinala o próprio nome, demarcar um tempo. E este tempo escolhido – o Século XX – não foi sem razão. A era em que o compositor Chico Buarque sabiamente decretou como o “Século da Canção” pode ter as suas revoltas, movimentos populares e de resistência muito bem contados através do canto de seus povos. O pano de fundo escolhido é a canção “Bandiera Rossa”, de Carlo Tuzzi, composta em 1908, é uma das mais famosas do movimento operário italiano, que exalta a bandeira vermelha, símbolo do socialismo e do comunismo. Bandiera Rossa Avanti o popolo, alla riscossa, Bandiera rossa, bandiera rossa Avanti o popolo, alla riscossa, Bandiera rossa trionferà. Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Evviva il comunismo e la libertà! Degli sfruttati l'immensa schiera La pura innalzi, rossa bandiera, O proletari, alla riscossa Bandiera rossa trionferà. Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Il frutto del lavoro a chi lavora andrà. Dai campi al mare, alla miniera, All'officina, chi soffre e spera, Sia pronto, è l'ora della riscossa. Bandiera rossa trionferà. Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Soltanto il comunismo è vera libertà. Non più nemici, non più frontiere, Sono i confini rosse bandiere. O comunisti, alla riscossa, Bandiera rossa trionferà. Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Bandiera rossa la trionferà Evviva il communismo e la libertà!   Bandeira Vermelha   Avante povo, para o resgate Bandeira vermelha, bandeira vermelha Avante povo, para o resgate A bandeira vermelha vencerá   Do imenso conjunto de explorados A ascensão pura, a bandeira vermelha Proletários, ao resgate A bandeira vermelha vencerá   A bandeira vermelha vencerá A bandeira vermelha vencerá A bandeira vermelha vencerá O fruto do trabalho a quem trabalha   Do campo ao mar até a mina, E na oficina, quem sofre e espera, Esteja pronto, é hora do resgate A bandeira vermelha vencerá   Não há mais inimigos, nem fronteiras Apenas bandeiras vermelhas nas fronteiras Socialistas, ao regaste A bandeira vermelha vencerá   A bandeira vermelha vencerá A bandeira vermelha vencerá A bandeira vermelha vencerá E viva o socialismo e a liberdade!   Daí em diante começa a nossa história: No Pasarán "É melhor morrer em pé, que viver de joelhos. Eles (os franquistas) não passarão!" – A frase é de Isidora Dolores Ibárruri Gómez, “La Passionária”, líder e heroína comunista basca. A frase virou lema e inspiração dos republicanos que lutaram contra as tropas do general Franco nos anos 30 na Guerra Civil Espanhola. A vitória de Franco afundou a Espanha em 35 anos de ditadura. Franco venceu a guerra, mas a frase continuou popular entre as tropas aliadas na guerra contra o nazi-fascismo e inspirou a canção “No Pasarán”, um poema de José Herrera Aguilera, mais conhecido como José Herrera Petere, e a melodia de Hanns Eisler.   No Pasarán Los moros que trajo Franco En madrid quieren entrar Mientras queden milicianos Los moros no pasarán ¡No pasarán! ¡No pasarán! Aunque me tiren el puente Y también la pasarela Me verás pasar el ebro En un barquito de vela ¡No pasarán! ¡No pasarán! Diez mil veces que los tiren Diez mil veces los haremos Tenemos cabeza dura Los del cuerpo de ingenieros ¡No pasarán! ¡No pasarán! En el ebro se han hundido Las banderas italianas Y en los puentes sólo quedan Las que son republicanas ¡No pasarán! ¡No pasarán!   Não Passarão!   Os mouros trazidos por Franco Querem entrar em Madri Enquanto houver milicianos Os mouros não passarão Enquanto houver milicianos Os mouros não passarão Não passarão! Não passarão!   Ainda que tirem a ponte E também a passarela Me verão cruzar o Ebro Em um barquinho de vela Me verão cruzar o Ebro Em um barquinho de vela Não passarão! Não passarão!   Dez mil vezes que nos tirem Dez mil vezes nós faremos Nós temos cabeça dura E corpo de engenheiros Não passarão! Não passarão!   Elas afundaram no Ebro As bandeiras italianas E nas pontes ficam apenas As que são republicanas E nas pontes ficam apenas As que são republicanas Não passarão! Não passarão! Não passarão! Não passarão!   L’Estaca A canção L’Estaca foi composta pelo catalão Lluis Llach, no ano de 1968, em plena ditadura de Franco. Cantada originalmente em catalão, ela já foi traduzida em várias línguas e é usada até hoje na Espanha e no mundo como um hino de resistência. Há poucos anos, foi cantada no lendário estádio Camp Nou por uma multidão de apoiadores do novo partido que surgia, o Podemos. Nela, o personagem principal, o velho Siset aponta para uma estaca, a qual estamos todos atados sem poder prosseguir e a única maneira é ele forçar por um lado e os jovens forçarem por outro, que um dia ela cai e todos poderão seguir. Um dia, o velho Siset morre, e o interlocutor que ouviu a canção a repete aos jovens, avisando o mesmo refrão novamente, a mesma canção que o velho Siset o ensinou. L’Estaca L'avi Siset em parlava de bon matí al portal mentre el Sol esperàvem i els carros vèiem passar. Siset que no veus l'estaca a on estem tots lligats? Si no podem desfer-nos-en mai no podrem caminar! Si estirem tots ella caurà i molt de temps no pot durar, segur que tomba, tomba, tomba, ben corcada deu ser ja. Si tu l'estires fort per aquí, i jo l'estiro fort per allà segur que tomba, tomba, tomba, i ens podrem alliberar. Però Siset fa molt temps ja, les mans se'm van escorxant, i quan la força se me'n va ella és més ampla i més gran. Ben cert sé que està podrida però és que Siset pesa tant, que a cops la força m'oblida. Torna'm a dir el seu cant! Lavi Siset ja no diu res, mal vent que se l'emportà, ell qui sap a quin indret i jo a sota el portal. I mentre passen els nous vailets estiro el coll per cantar el darrer cant que en Siset el darrer que van ensenyar.   A Estaca   O velho Siset conversava comigo De manhã no portão Enquanto esperávamos a saída do sol e os carros passavam   Siset, não vês a estaca Onde estamos todos amarrados? Se não conseguirmos nos livrar dela Nós nunca poderemos andar!   Se puxarmos forte, a faremos cair Já não pode resistir por muito tempo É certo que tomba, tomba, tomba Pois já deve estar bem podre   Se eu puxo com força daqui E tu puxas com força daí É certo que tomba, tomba, tomba E poderemos nos libertar   Mas Siset, já faz tempo minhas mãos estão esfolando E quando a solto um instante Se faz mais forte e maior   Já sei que está podre Mas, Siset, pesa tanto, Que as vezes me abandonam as forças Repete-me a tua canção!   Se puxarmos forte, a faremos cair Já não pode resistir por muito tempo É certo que tomba, tomba, tomba Pois já deve estar bem podre   Se eu puxo com força daqui E tu puxas com força daí É certo que tomba, tomba, tomba E poderemos nos libertar   O velho Siset já não diz nada Um mau vento o levou Sabe lá para onde E eu continuo sob o portão   E quando passam os jovens Ergo a voz para cantar A última canção Que Siset me ensinou   Se puxarmos forte, a faremos cair Já não pode resistir por muito tempo É certo que tomba, tomba, tomba Pois já deve estar bem podre   Se eu puxo com força daqui E tu puxas com força daí É certo que tomba, tomba, tomba E poderemos nos libertar   Bella, Ciao Essa linda melodia já era cantada, em meados do século dezenove, no trabalho da colheita nos campos da Itália. Ganhou várias letras ao longo dos anos para, nos anos 30 e 40, virar o hino da luta antifascista e, a partir da segunda guerra mundial, se tornar mundialmente famosa. Nela, o partigiano – o guerrilheiro da resistência antifascista – se despede da amada antes de partir para a luta. Se por acaso morrer, pede que o enterrem no alto da montanha. No local, nascerá uma flor. A flor do guerrilheiro, morto pela liberdade. A canção voltou a ganhar popularidade recentemente por conta da série espanhola “Casa de Papel”, onde um bando toma de assalto a Casa da Moeda da Espanha para fazer o mesmo que governos de todo o mundo fazem sem lastro, ou seja, imprimir dinheiro. Bella, Ciao Una mattina mi son svegliato, o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! Una mattina mi son svegliato, ed ho trovato l'invasor. O partigiano, portami via, o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! O partigiano, portami via, ché mi sento di morir. E se io muoio da partigiano, o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! E se io muoio da partigiano, tu mi devi seppellir. E seppellire lassù in montagna, o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! E seppellire lassù in montagna, sotto l'ombra di un bel fior. E le genti che passeranno, o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! E le genti che passeranno, Mi diranno «Che bel fior!» «È questo il fiore del partigiano», o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao! «È questo il fiore del partigiano, morto per la libertà!   Bela, adeus! Esta manhã, acordei Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus Esta manhã, acordei É chegado o invasor Oh, guerrilheiro, me leve embora Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus Oh guerrilheiro, me leve embora Pois sinto que vou morrer E se eu morro como guerrilheiro Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus E se morro como guerrilheiro Você deve me enterrar Enterrar lá em cima, na montanha Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus Enterrar lá em cima na montanha Embaixo da sombra de uma bela flor E as pessoas que passarão Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus E as pessoas que passarão Dirão: que bela flor! Esta é a flor do guerrilheiro Bela, adeus, Bela, adeus, Bela, adeus, adeus, adeus Esta e a flor do guerrilheiro Morto pela liberdade   The Partisan Os Partisans, ou partigianos, se espalharam por toda a Europa, todos homens do povo voluntários para lutar contra o nazi-fascismo que assolava o continente e ameaçava dominar o mundo. Na França, ocupada pelo exército alemão, muitos heróis anônimos lutaram para livrar o mundo do exército de Hitler. Um deles, solitário, atravessa o país com fome, frio e um verso na garganta: Mudei o meu nome uma centena de vezes Perdi a mulher e os filhos Mas eu tenho muitos amigos Toda a França The Partisan   When they poured across the border I was cautioned to surrender, This i could not do; I took my gun and vanished.   I have changed my name so often, I've lost my wife and children But i have many friends, And some of them are with me.   An old woman gave us shelter, Kept us hidden in the garret, Then the soldiers came; She died without a whisper.   There were three of us this morning I'm the only one this evening But i must go on; The frontiers are my prison.   Oh, the wind, the wind is blowing, Through the graves the wind is blowing, Freedom soon will come; Then we'll come from the shadows.   Les allemands e'taient chez moi, Ils me dirent, "résigne toi," Mais je n'ai pas peur; J'ai repris mon âme.   [the germans were at my home They said, "sign yourself," But i am not afraid I have retaken my soul.]   J'ai change' cent fois de nom, J'ai perdu femme et enfants Mais j'ai tant d'amis; J'ai la france entie`re.   [i've changed names a hundred times I have lost wife and children But i have so many friends I have all of france]   Un vieil homme dans un grenier Pour la nuit nous a cache', Les allemands l'ont pris; Il est mort sans surprise.   [an old man, in an attic Hid us for the night The germans captured him He died without surprise.]   Oh, the wind, the wind is blowing, Through the graves the wind is blowing, Freedom soon will come;     O Partisan Quando eles se derramaram pela fronteira Eu fui avisado para me render, Mas isto eu não poderia fazer Peguei minha arma e desapareci   Eu mudei meu nome tantas vezes, Eu perdi minha esposa e filhos Mas eu tenho muitos amigos E alguns deles estão comigo   Uma senhora nos deu abrigo, Nos manteve escondidos no sótão Então os soldados vieram Ela morreu sem um suspiro   Havia três de nós esta manhã, Sou o único esta tarde Mas eu preciso ir em frente A fronteira é minha prisão   Oh, o vento, o vento está soprando Através das sepulturas ele está soprando, A liberdade virá em breve Então nós chegaremos das sombras   Os alemães estiveram em minha casa Eles disseram: "Identifique-se", Mas eu não estou com medo Eu recuperei minha arma.   Eu mudei meu nome uma centena de vezes Eu perdi minha esposa e filhos Mas eu tenho tantos amigos, Eu tenho toda a França.   Um velho homem num sótão Nos escondeu à noite, Os alemães o capturaram, E ele morreu sem surpresa   Oh, o vento, o vento está soprando Através das sepulturas ele está soprando, A liberdade virá em breve Então nós chegaremos das sombras   The Times They are a Changin Na segunda metade da década de 60, a indústria cultural cria o seu corvo, a grande mídia, com seus discos, filmes, programas de televisão e heróis. Entre os novos xamãs eletrônicos, surge nos Estados Unidos um bardo solitário, filho de judeus, que, para homenagear o poeta Dylan Thomas, cria um nome artístico que seria ouvido por gerações pelas próximas décadas: Bob Dylan. A sua canção simples e de poesia rebuscada anunciava aos pais e políticos da velha geração que os tempos, eles estavam, definitivamente, mudando. The Times They are a Changin Come gather 'round people, wherever you roam And admit that the waters around you have grown And accept it that soon you'll be drenched to the bone If your time to you is worth savin' Then you better start swimmin' or you'll sink like a stone For the times they are a-changin' Come writers and critics who prophesize with your pen And keep your eyes wide, the chance won't come again And don't speak too soon for the wheel's still in spin And there's no tellin' who that it's namin' For the loser now will be later to win For the times they are a-changin' Come senators, congressmen, please heed the call Don't stand in the doorway, don't block up the hall For he that gets hurt will be he who has stalled There's a battle outside, and it is ragin' It'll soon shake your windows and rattle your walls For the times they are a-changin' Come mothers and fathers throughout the land And don't criticize what you can't understand Your sons and your daughters are beyond your command Your old road is rapidly agin' Please get out of the new one if you can't lend your hand For the times they are a-changin' The line, it is drawn, and the curse, it is cast The slow one now will later be fast As the present now will later be past The order is rapidly fadin' And the first one now will later be last For the times they are a-changin'   Os Tempos Estão Mudando Juntem-se, pessoas, onde quer que estejam E admitam que as águas à sua volta estão subindo E aceitem que logo vocês estarão cobertos até os ossos Se para vocês, seu tempo vale a pena ser poupado Então é melhor que comecem a nadar ou afundarão como pedras Pois os tempos estão mudando Venham escritores e críticos que profetizam com suas canetas E mantenham seus olhos abertos, a chance não virá novamente E não falem sem pensar pois a roda ainda está girando E não há como dizer quem será nomeado Pois o perdedor de agora mais tarde vencerá Pois os tempos estão mudando Venham senadores, deputados, por favor escutem o chamado Não fiquem parados no vão da porta, não congestionem o corredor Pois aquele que se machuca será aquele que nos impediu Há uma batalha lá fora, e ela não vai parar E logo ela irá balançar suas janelas e fazer ruir suas paredes Pois os tempos estão mudando Venham mães e pais de todos os lugares E não critiquem o que vocês não conseguem entender Seus filhos e filhas estão além de seu comando Seu velho caminho está rapidamente envelhecendo Por favor saiam da frente se não puderem ajudar Pois os tempos estão mudando A linha está traçada e a maldição está lançada E o mais lento agora será o rápido mais tarde Assim como o presente de agora será mais tarde o passado A ordem está rapidamente se esvaindo E o primeiro agora será o último depois Pois os tempos estão mudando     The Luck of the Irish Em janeiro de 1972, o exército inglês mata, na Irlanda do Norte, 14 ativistas católicos, entre eles duas crianças, além de deixar 26 pessoas feridas. Sobre o conflito, que ficou conhecido como Domingo Sangrento, o ex-Beatlle John Lennon e a sua esposa Yoko Ono escreveram uma linda canção que fala sobre a sorte dos Irlandeses. The Luck of the Irish   If you have the luck of the irish, You'd be sorry and wish you were dead You shold have the luck of the irish And you'd wish you was English instead! A thousand years of torture and hunger Drove the people away from their land, A land full of beutty and wonder Was raped by the british brigands! Goddman! Goddman! If you could keep voices like flowers There'd be aharmock all over the world. If you could drink dreams like the irish streams Then the world would be high as the mountain of morn In the Pool they told us the story How the english divided the land, Of the pain, the death and the glory And the poets of auld Eireland If we could make chains with the morning dew The world would be like galeway Bay Let's walk over rainbows like leprechauns The world would beone big Blarney stone Why the hell are the English there anyway? As they kill with god on their side! Blame it all on the kids and the IRA! As the bastards commit genocide Aye! Aye! Genocide! If you had the luck of the irish You should have the luck of the irish You'd be sorry and wish you were dead And you's wish you were english instead! Yes you'd wish you was english instead!!   A sorte dos irlandeses   Se você tivesse a sorte dos irlandeses, Você estaria triste e com desejo de morrer Se você tivesse a sorte dos irlandeses, Ao invés disso você desejaria ser inglês São mil anos de tortura e fome Que levou o povo a partir de sua terra Uma terra cheia de beleza e encanto Foi estuprada pelos bandidos britânicos. Malditos! Malditos! Se você pudesse manter vozes como flores Haveria um trevo sobre o mundo Se você pudesse beber sonhos como os rios irlandeses O mundo seria alto como a montanha na manhã Numa reunião eles nos contaram a história Como os ingleses dividiram a terra Da dor, da morte e da glória E os poetas da velha Irlanda Se pudéssemos fazer correntes com o orvalho da manhã O mundo seria como a Baia de Galeway Vamos caminhar sobre um arco-íris como duendes O mundo será como a grande Blarney Stone Por que diabos os ingleses estão lá desta forma? Matando com Deus ao seu lado Culpando as crianças e o IRA! São bastardos cometendo genocídio, genocídio! Se você tivesse a sorte dos irlandeses, Você estaria triste e com desejo de morrer Se você tivesse a sorte dos irlandeses, Ao invés disso você desejaria ser inglês   Redemption Song O jamaicano Robert Nesta Marley, conhecido por todos como Bob Marley, talvez seja o único grande astro da música pop vindo do terceiro mundo. Suas canções são, em quase sua maioria, hinos de luta e libertação dos povos afro-americanos. Quando estava quase para morrer, com terríveis dores de cabeça por conta de um câncer no cérebro, compôs aquele que seria o seu canto do cisne. Um desabafo contra o flagelo da escravidão e, sobretudo, a reação secular de seu povo através de suas crenças, dor e resiliência. Uma canção de redenção. Redemption Song Old pirates, yes, they rob I Sold I to the merchant ships Minutes after they took I From the bottomless pit But my hand was made strong By the hand of the Almighty We forward in this generation Triumphantly Won't you help to sing These songs of freedom? 'Cause all I ever have Redemption songs Redemption songs Emancipate yourselves from mental slavery None but ourselves can free our minds Have no fear for atomic energy 'Cause none of them can stop the time How long shall they kill our prophets While we stand aside and look? Some say it's just a part of it We've got to fulfill the Book Won't you help to sing These songs of freedom? 'Cause all I ever have Redemption songs Redemption songs Redemption songs   Canção de Redenção Velhos piratas, sim, eles me roubaram Me venderam para navios mercantes Minutos depois de eles terem me tirado Do poço sem fundo Mas, minha mão foi fortalecida Pela mão do Todo-Poderoso E a nossa geração avançou Triunfantemente Você não vai me ajudar a cantar Estas canções de liberdade? Pois, tudo que eu sempre tenho Canções de redenção Canções de redenção Libertem-se da mentalidade escravocrata Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossas mentes Não tenha medo da energia atômica Porque nenhum deles pode parar o tempo Até quando vão matar nossos profetas Enquanto nós permanecemos de lado, olhando? Alguns dizem que isso faz parte Nós temos que cumprir o Livro Ajude-me a cantar Estas canções de liberdade? Pois, tudo que eu sempre tenho Canções de redenção Canções de redenção Canções de redenção   Nkosi sikelel' iAfrika Esta pequena canção é um símbolo tão forte da libertação de vários povos da África, que acabou se tornando o hino oficial de muitos deles, como a Namíbia, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzânia e a África do Sul. Na África do Sul foi consagrada após a libertação de um dos maiores líderes de massa do Século XX: Nélson Mandela, evocando a sua incansável luta contra a separação de negros e brancos e o ódio racial. Nkosi sikelel' iafrika era o hino do Congresso Nacional Africano, o CNA, partido criado no seio da luta contra o apartheid na África do Sul. Ela ficou proibida durante vários anos até, um tempo depois da eleição de Mandela, em 1994, se tornar o Hino Oficial do País. Nkosi sikelel' iAfrika   Nkosi sikelel' iafrika Nkosi sikelel' iafrika Maluphakanyisw' uphondo lwayo, Yizwa imithandazo yethu, Nkosi sikelela, thina lusapho lwayo     Deus abençoe a África   Deus abençoe a África Para que sua Glória seja exaltada Ouça nossas preces Deus nos abençoe, porque somos seus filhos     Pequeña Serenata Diurna A Revolução Cubana, em 1959, foi um sopro de esperança para a América Latina e o mundo. Depois dos seus difíceis primeiros anos, a distensão social, uma economia galopante e próspera e um grande clima de alegria tomaram conta da ilha de Fidel. Um movimento musical denominado Nova Trova Cubana lançou ecos deste novo e pequeno mundo para todos. Entre as inúmeras canções produzidas, uma pequena serenata diurna, do jovem cantor Sílvio Rodriguez, irradiava felicidade e pedia perdão por isso aos seus tantos mortos nos campos de batalha. Pequeña Serenata Diurna Vivo en un país libre Cual solamente puede ser libre En esta tierra, en este instante Y soy feliz porque soy gigante. Amo a una mujer clara Que amo y me ama Sin pedir nada -o casi nada, Que no es lo mismo Pero es igual-. Y si esto fuera poco, Tengo mis cantos Que poco a poco Muelo y rehago Habitando el tiempo, Como le cuadra A un hombre despierto. Soy feliz, Soy un hombre feliz, Y quiero que me perdonen Por este día Los muertos de mi felicidad   Pequena Serenata Diurna Vivo em um país livre Que só pode ser livre E nesta terra, e neste instante Eu sou feliz porque sou gigante. Amo a uma mulher clara Que amo e me ama Sem pedir nada - ou quase nada, Que não é o mesmo Mas é igual. E como se não bastasse Tenho meus cantos Que pouco a pouco Moo e refaço Habitando o tempo Como cabe A um homem acordado. Sou feliz, Sou um homem feliz E quero que me perdoem Por este dia Os mortos de minha felicidade   Hasta Siempre, Comandante Ao invés de se encastelar no poder, logo após a revolução cubana, onde foi nomeado ministro da indústria e segundo homem do governo revolucionário de Fidel Castro, Ernesto Chê Guevara partiu para lutar na selva boliviana onde, já capturado e desarmado, foi brutalmente assassinado pelo exército daquele país, numa grande operação que contou com a colaboração da CIA, a central de Inteligência americana. A sua memória e imagem, no entanto, nunca foram esquecidas e percorrem o mundo até hoje, como um símbolo de resistência e luta. Inúmeras canções foram compostas em sua homenagem. Hasta Siempre, Comandante, do poeta cubano Carlo Puebla, é a mais significativa e lembrada. Hasta Siempre, Comandante   Aprendimos a quererte, Desde la histórica altura, Donde el sol de tu bravura Le puso cerco a la muerte. Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia De tu querida presencia, Comandante Che Guevara. Tu mano gloriosa y fuerte sobre la historia dispara, cuando todo Santa Clara Se despierta para verte. Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia De tu querida presencia, Comandante Che Guevara. Vienes quemando la brisa con soles de primavera para plantar la bandera con la luz de tu sonrisa Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia De tu querida presencia, Comandante Che Guevara. Tu amor revolucionario te conduce a nueva empresa, donde espera la firmeza de tu brazo libertario. Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia De tu querida presencia, Comandante Che Guevara. Seguiremos adelante como junto a ti seguimos y con Fidel te decimos : "¡Hasta siempre Comandante!" Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia De tu querida presencia, Comandante Che Guevara.   Até sempre comandante Che Guevara Aprendemos a te amar Desde a histórica altura Onde o sol de sua bravura Te colocou perto da morte Aqui fica a clara A querida transparência De sua querida presença Comandante Che Guevara Sua mão gloriosa e forte sobre a história dispara quando toda Santa Clara Se desperta para ver-te Aqui fica a clara A querida transparência De sua querida presença Comandante Che Guevara Vens esquentando a brisa com o sol da primavera para plantar a bandeira com a luz de seu sorriso Aqui fica a clara A querida transparência De sua querida presença Comandante Che Guevara Seu amor revolucionário te conduz a uma nova empreitada onde esperam a força de teu braço libertário Aqui fica a clara A querida transparência De sua querida presença Comandante Che Guevara Seguiremos adiante como junto à ti seguimos E com Fidel te dizemos: "Até sempre, comandante!" Aqui fica a clara A querida transparência De sua querida presença Comandante Che Guevara   Gracias a La Vida Dentre as ditaduras mais sangrentas ocorridas na América Latina, entre as décadas de 60 e 70, está, sem dúvida alguma, a de Pinochet, no Chile. A voz de Violeta Parra se tornou um símbolo da luta do povo chileno, ecoou pelo país e ganhou o mundo. Entre as suas inúmeras composições, aquela que agradece à vida por tudo o que é recebido, foi imortalizada por vários cantores em diversas línguas. Gracias A La Vida Gracias a la vida, que me ha dado tanto Me dio dos luceros, que cuando los abro Perfecto distingo, lo negro del blanco Y en el alto cielo su fondo estrellado Y en las multitudes el hombre que yo amo Gracias a la vida, que me ha dado tanto Me ha dado el sonido del abecedario Con él las palabras que pienso y declaro Madre amigo hermano Y luz alumbrando, la ruta del alma del que estoy amando Gracias a la vida, que me ha dado tanto Me ha dado la marcha de mis pies cansados Con ellos anduve ciudades y charcos Playas y desiertos, montañas y llanos Y la casa tuya, tu calle y tu patio Gracias a la vida, que me ha dado tanto Me dio el corazón, que agita su marco Cuando miro el fruto, del cerebro humano Cuando miro el bueno tan lejos del malo Cuando miro el fondo de tus ojos claros Gracias a la vida que me ha dado tanto Me ha dado la risa y me ha dado el llanto Así yo distingo dicha de quebranto Los dos materiales, que forman mi canto Y el canto de ustedes que es el mismo canto Y el canto de todos que es mi propio canto Gracias a la vida, gracias a la vida Gracias a la vida, gracias a la vida   Graças à Vida Obrigado à vida que me deu tanto Me deu dois olhos que quando os abro Distingo perfeitamente o preto do branco E no alto céu, seu fundo estrelado E nas multidões, o homem que eu amo Obrigado à vida que me deu tanto Me deu o som do alfabeto E com ele as palavras que eu penso e declaro Mãe, amigo, irmão E luz iluminando, o caminho da alma de quem estou amando Obrigado à vida que me deu tanto Me deu a marcha dos meus pés cansados Com eles andei cidades e charcos Praias e desertos, montanhas e planícies E a sua casa, sua rua e seu pátio Obrigado à vida que me deu tanto Me deu o coração, que agita o teu destino Quando olho o resultado do cérebro humano Quando olho o bom tão longe do mal Quando olho o fundo de teus olhos claros Obrigado à vida que me deu tanto Me deu o sorriso e me deu o pranto Assim eu distingo fortuna de quebranto Os dois materiais que formam meu canto E o canto de vocês que é o mesmo canto E o canto de todos que é o meu próprio canto Obrigado à vida, obrigado à vida Obrigado à vida, obrigado à vida     Los Hermanos Assim como no Chile, na vizinha Argentina, outra ditadura militar sangrenta, também financiada pelo tesouro ianque, matou milhares de pessoas e subjugou seu povo por várias décadas. Por lá, e posteriormente pelo mundo também se ouvia e se cantava a voz do músico, violonista e pesquisador Atahualpa Yupanqui, a lembrar que tinha muitos irmãos e uma irmã muito bela chamada liberdade.     Los Hermanos Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar En el valle en la montaña En la pampa y en el mar Cada cual con sus trabajos Con sus sueños cada cual Con la esperanza delante Con los recuerdos detrás Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Gente de mano caliente Por eso de la amistad Con um lloro para llorarlo Con un rezo para rezar Con un horizonte abierto Que siempre esta más allá Y esa fuerza pa buscarlo Con tezón y voluntad Cuando parece más cerca Es cuando se aleja más Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Y asi seguimos andando Curtidos de soledad Nos perdemos por el mundo Nos volvemos a encontrar Y asi nos reconocemos Por el lejano mirar Por las coplas que mordemos Semillas de imensidad Y así seguimos andando Curtidos de soledad Y en nosotros nuestros muertos Pa que nadie quede atrás Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Y una hermana muy hermosa Que se llama libertad   Os Irmãos Eu tenho tantos irmãos Que nem posso contar No vale, na montanha No pampa e no mar Cada qual com seus trabalhos Com seus sonhos, cada qual Com a esperança diante Com as lembranças pra trás Eu tenho tantos irmãos Que não os posso contar Gente de mão quente Por isso de amizade Com um choro para chorar Com uma reza para rezar Com um horizonte aberto Que sempre está mais além E essa força pra buscar Com tesão e vontade Quando parece mais perto É quando se afasta mais Eu tenho tantos irmãos Que não os posso contar E assim seguimos andando Calejados de solidão Nos perdemos pelo mundo Voltamos a nos encontrar E assim nos reconhecemos Pelo longínquo olhar Pelas palavras que inventamos Sementes de imensidão E assim seguimos andando Calejados de solidão E em nós mesmos nossos mortos Pra que ninguém fique para trás Eu tenho tantos irmãos Que não os posso contar E uma irmã muito formosa Que se chama Liberdade   Grândola Vila Morena À meia noite, vinte minutos e dezoito segundos do dia 25 de Abril de 1974, a canção Grândola Vila Morena foi transmitida pelo programa independente “Limite” através da “Rádio Renascença”. Era a senha para confirmar o início da “Revolução dos Cravos” e o fim de 40 anos da ditadura de Salazar. Até hoje, na parte do mundo em que estiverem, os portugueses se levantam e cantam solenemente a canção, saudando a revolução e a democracia. Grândola Vila Morena   Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina, um amigo Em cada rosto, igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto, igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola, a tua vontade Grândola a tua vontade Jurei ter por companheira À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Caminhando (Pra não dizer que não falei das Flores) A ditadura dos militares, o golpe de farda, não poupou o Brasil, o maior país da América Latina. As forças interessadas na hegemonia da região sabiam – e sabem até hoje – que sem o Brasil não têm nada. A quartelada começou lentamente, em 1964, e se tornou cada vez mais violenta. No início de seu auge, em 1968, o cantor e compositor Geraldo Vandré plantou uma canção que se tornou uma espécie de hino informal dos que lutam pela liberdade. Caminhando Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Nas escolas, nas ruas, campos, construções Caminhando e cantando e seguindo a canção Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Pelos campos há fome em grandes plantações Pelas ruas marchando indecisos cordões Ainda fazem da flor seu mais forte refrão E acreditam nas flores vencendo o canhão Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Há soldados armados, amados ou não Quase todos perdidos de armas na mão Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição De morrer pela pátria e viver sem razão Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Nas escolas, nas ruas, campos, construções Somos todos soldados, armados ou não Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Os amores na mente, as flores no chão A certeza na frente, a história na mão Caminhando e cantando e seguindo a canção Aprendendo e ensinando uma nova lição Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora, que esperar não é saber Quem sabe faz a hora, não espera acontecer   Apesar de Você No auge da ditadura militar no Brasil, um refrão tomou conta do país. Aparentemente um samba de amor descomprometido, a poderosa canção burlou a censura, ganhou as ruas e passou a ser repetida a cada autoridade que atravessasse o caminho do povo: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia” Apesar de Você Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Eu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Este samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza De desinventar Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Inda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir Que esse dia há de vir Antes do que você pensa Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear De repente, impunemente Como vai abafar Nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai se dar mal Etc. e tal Lá lá lá lá laiá     O Bêbado e a Equilibrista Aqui termina o espetáculo, mas não as canções. Estas sempre serão compostas e cantadas. Em vários lugares, inclusive hoje, aqui e agora, o povo vai estar pronto e disposto a cantar em coro seus hinos de resistência. O canto de todos que será sempre o mesmo canto. Um canto de redenção Único, uníssono, que agrega, une e reage. Um grito de liberdade e esperança. A esperança equilibrista, que cai e se levanta, olha em frente, segue e seguirá sempre. A saudar seus mortos e semear vida nova. Aqui, agora e sempre O Bêbado e a Equilibrista   Caía a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto Me lembrou Carlitos... A lua Tal qual a dona do bordel Pedia a cada estrela fria Um brilho de aluguel E nuvens! Lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas Que sufoco! Louco! O bêbado com chapéu-coco Fazia irreverências mil Pra noite do Brasil. Meu Brasil!... Que sonha com a volta Do irmão do Henfil. Com tanta gente que partiu Num rabo de foguete Chora! A nossa Pátria Mãe gentil Choram Marias E Clarices No solo do Brasil... Mas sei, que uma dor Assim pungente Não há de ser inutilmente A esperança... Dança na corda bamba De sombrinha E em cada passo Dessa linha Pode se machucar... Azar! A esperança equilibrista Sabe que o show De todo artista Tem que continuar...