O lindo Arraial do grupo Vento em Madeira

É um daqueles discos instrumentais que passam longe do vetusto, sério, da chatice. É divertido, bonito, elaborado e simples. São músicos raros, daqueles que conhecem a linguagem de maneira profunda e a entregam de mão beijada ao ouvinte

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É um daqueles discos instrumentais que passam longe do vetusto, sério, da chatice. É divertido, bonito, elaborado e simples. São músicos raros, daqueles que conhecem a linguagem de maneira profunda e a entregam de mão beijada ao ouvinte Por Julinho Bittencourt O quinteto instrumental Vento em Madeira chega ao seu terceiro disco, o “Arraial”, pelo bravo selo Maritaca, com ótimas surpresas e, ao mesmo tempo, tudo o que a gente espera do grupo. A melhor definição do álbum fica mesmo por conta do seu material de divulgação: “O nome sintetiza o espírito no qual ele foi criado, uma festa de quintal, entre família, com música, comida e bebida. Na reunião de cinco grandes amigos, que se divertem e gostam muito de fazer música juntos. Arraial é um disco festivo”. E por falar nos amigos, o grupo é formado por Léa Freire nas flautas, Teco Cardoso nos saxofones e flautas, Tiago Costa no piano, Fernando Demarco no contrabaixo acústico e Edu Ribeiro na bateria. A direção musical é do próprio Teco Cardoso e a engenharia de som de Homero Lotito. Uma inusitada participação no disco fica por conta da cantora Mônica Salmaso, que usa a sua voz sem palavras, como se fosse um dos músicos e o resultado final é excelente. Posto isso, temos, no final das contas, um grande time de músicos com um repertório todo original, feito de melodias vivas, que têm vida própria e não servem apenas aos improvisos dos instrumentistas. São os próprios músicos que compõem e contam como inventaram as suas melodias. Léa Freire, sobre o “Samba da Lana”, que abre o disco, diz que fez para a primeira neta, Lana, “criatura que desde o anuncio ja? mudou a minha vida. E? um partido alto pequenino, com uma melodia no contratempo, que a certa altura transfere o batuque para o agudo enquanto a melodia fica no grave”. Tiago Costa conta que ao brincar com o ritmo de 5 contra 3 construiu “Azul Cobalto”. Já Edu Ribeiro inventou a palavra “Maracatim” para batizar a melodia que compôs para homenagear os músicos do grupo. O ar de leveza e maturidade musical segue disco adentro com revelações tão pessoais quanto musicais, como o Teco que conta ter acordado de madrugada com uma linha de baixo em 7 por 8. “Da cama mesmo fui improvisando linhas melo?dicas sobre ela, que já vinham com uma segunda voz inclusa com cara de Vento em Madeira. Resultado, nasceu o sol e o Sete Almas, que dediquei inicialmente aqueles cujo conhecimento transcende uma so? existência (no caso me lembrei inicialmente do Egberto Gismonti e a medida em que fui trabalhando as vozes e a harmonia, vi que tinha que incluir o Wayne Shorter nesta homenagem tambe?m)”. É, enfim, um daqueles discos instrumentais que passam longe do vetusto, sério, da chatice. É divertido, bonito, elaborado e simples. São músicos raros, daqueles que conhecem a linguagem de maneira profunda e a entregam de mão beijada ao ouvinte. Ao fim e ao cabo, entre o prazer imenso de ouvir o “Arraial”, do Vento em Madeira e a inveja branca de não estar ao lado deles nos intensos momentos de sua feitura, fica a sensação de que eles se divertiram tanto quanto nós, ouvintes, ao colocar o disco pra tocar.

Foto Capa: Walter Carvalho  

Fotos Músicos: Paulo Rapoport