Paulo Coelho diz que, mesmo perdendo leitores, criticar Bolsonaro é um compromisso histórico

O escritor afirmou ainda que sentiu uma certa inveja de Felipe Neto, que distribuiu livros na Bienal: “eu queria ter tido essa ideia”

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O escritor Paulo Coelho, afirmou em entrevista à BBC, publicada nesta quarta-feira (25) que, ao dizer o que pensa sobre Jair Bolsonaro está cumprindo um "compromisso histórico". "O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando", diz, enquanto a esposa Christina Oiticica, que acompanha a entrevista, assente com um leve gesto de aprovação. Paulo Coelho, que vive em Genebra, disse que “as pessoas ficam muito constrangidas em perguntar sobre o Brasil. Elas não perguntam. Eu tenho que dar uma entrada para as pessoas perguntarem. Eles vêm e dizem: ‘Ah, pois é, você viu que ele ofendeu a primeira-dama francesa’. Aí eu tenho que falar alguma coisa. Mas eu procuro evitar a conversa Brasil porque eu não posso no momento falar bem do meu país, e falar mal é muito chato”, revelou. O escritor disse ainda que, aos 72 anos nunca viu nada igual. “Eu já vivi ditadura, democracia, muitas fases do Brasil, mas nunca vi o que está acontecendo agora. É um delírio. Necessitava (Howard Phillips) Lovecraft, um escritor de ficção científica, para descrever o Brasil. Fico muito triste com o que está acontecendo”. Para Paulo Coelho, parece que o Brasil virou um Estado de negação. “As pessoas negam a realidade. ‘Ah, vou me fechar aqui e não quero ver o que está acontecendo’. Isso é muito triste. Veja, você tem um chanceler, Ernesto Araújo, que é um cara completamente despreparado. Não tem maturidade, não tem experiência, não tem nada que justifique a posição que ocupa. E o cara diz qualquer coisa. ‘Ah, eu fui à Itália, estava frio, então não tem aquecimento global’. Meu amigo, um dos sintomas do aquecimento global é o frio”, ensina. Felipe Neto O escritor mais traduzido do mundo revelou também que ficou com uma certa inveja do Felipe Neto, quando o blogueiro comprou 10 mil exemplares de livros com a temática LGBT e distribuiu na Bienal do Livro. “Não só elogiei, senti uma certa inveja positiva. Disse: porra, o cara teve essa ideia e eu não tive. Eu disse, porra, eu queria ter tido essa ideia. Mas aí ele começou a ser ameaçado. E eu resolvi me posicionar para que a pessoa seja defendida. Na época da repressão, digo no governo militar, quando as pessoas eram presas, elas eram agarradas na rua, sei lá, em qualquer lugar, e elas tinham que gritar o nome para que todo mundo soubesse que a pessoa estava sendo presa. Porque uma vez que as pessoas sabem, isso já é um escudo de proteção. A mesma coisa valia para o Felipe Neto. Não vamos deixar que as coisas sejam assim, não”.    

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