Pela primeira vez em mais de dois séculos, Lavagem do Bonfim ocorre sem fiéis

Conheça um pouco sobre o cortejo da imagem e a lavagem da escadaria do Bonfim, a maior festa sincrética do Brasil

11/01/2018- Festejos da Lavagem do Senhor do Bonfim 2018. Foto: Paula Fróes/GOVBA
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Quem já tentou comprar uma passagem aérea para Salvador (BA) às vésperas da lavagem da escadaria da Igreja do Bonfim sabe das dimensões da festa. A cidade literalmente para. O percurso de oito quilômetros do tradicional cortejo de baianas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto do Bonfim, a “Sagrada Colina”, é seguido por uma multidão.

Políticas de todas as tendências, artistas, personalidades de vida baiana e a população em geral seguem o trajeto em contrição, neste que é considerado o maior evento sincrético do Brasil, talvez do mundo.

Pela primeira vez em três séculos, a imagem do Senhor do Bonfim – Oxalá no Candomblé – seguiu seu caminho sem público, nesta quinta-feira (14), por conta da pandemia do coronavírus. O máximo que o devoto conseguiu foi acompanhar o trajeto pela internet.

Origem

O evento, que é fundamental na vida do baiano e, sobretudo, revelador da identidade do povo brasileiro, tem origem em meados do século XVIII, na história do capitão de mar e guerra da Marinha portuguesa, Theodósio Rodrigues de Faria, que chegou a ocupar cargos na administração colonial.

Proprietário de três navios negreiros, Theodósio prometeu que, caso sobrevivesse a uma tempestade, faria um esforço e traria, pessoalmente, uma imagem do Senhor do Bonfim e da Nossa Senhora da Guia para o Brasil.

A promessa foi cumprida e, no dia 24 de junho de 1754, quando as obras internas da Igreja do Bonfim ficaram prontas, a imagem do Senhor do Bonfim foi transferida, em uma procissão, da Capela da Penha para a Colina do Bonfim pela primeira vez na história.

A partir disso, a devoção ao Nosso Senhor do Bonfim tornou-se bastante popular em Salvador. Com o passar do tempo, esse culto foi sendo incrementado por novas tradições, como a prática da lavagem da escadaria e o uso das fitas como amuletos. Uma festa ecumênica.

O Hino

Um caso à parte é o Hino ao Senhor do Bonfim, popularizado em todo o Brasil pela gravação de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes, no lendário álbum “Tropicália ou Panis et Circenses”, de 1968. Ouça abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=7fK7DF8EyDk&ab_channel=LeonardoAssun%C3%A7%C3%A3o

O Hino foi composto em 1923, por Arthur de Salles e João Antônio Wanderley, em comemoração ao centenário da Independência da Bahia, tendo como homenageada principal a Igreja do Senhor do Bonfim, um marco da arquitetura colonial brasileira.

Em um vídeo promocional da prefeitura de Salvador é possível ouvir outra versão do hino e, sobretudo, ver imagens emocionantes da dimensão da festa. Veja abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=ny8GIptbCvM&ab_channel=PrefeituradoSalvador

No final das contas, apesar do cortejo de oito quilômetros puxado pelas baianas cancelado, o acesso à igreja fechado e a imagem desfilando em carro aberto, muito fiéis pelas ruas entrevistados por inúmeras emissoras repetiram o mesmo pedido a Nosso Senhor do Bonfim: a vacina do coronavírus.