Primeira cantora lírica brasileira negra ganha filme-espetáculo

Maria D'Apparecida foi a primeira mulher negra a cantar na Opera de Paris; filme-espetáculo estreia 11 de agosto nas redes sociais do Centro Cultural São Paulo

Foto: Zé Luis/Divulgação
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Conhecida internacionalmente como "a Maria Callas afro-brasileira" e ativa até a década de 1990, a cantora lírica carioca Maria d'Apparecida acaba de ganhar o filme-espetáculo “Maria d'Apparecida: Luz Negra”, que tem estreia marcada no dia 11 de agosto nas redes sociais do Centro Cultural São Paulo (CCSP).

Impedida de fazer carreira no Brasil, D'Apparecida viaja para a França em busca de seu sonho, tornando-se a primeira mulher negra a cantar na Opera de Paris. 

Com dramaturgia e atuação de Dione Carlos, o espetáculo foi gravado em junho de 2021, sob a direção de Luiz Fernando Marques e conta com o ator e cantor Rodrigo Mercadante no elenco.

A dramaturgia foi desenvolvida através de um trabalho colaborativo de pesquisas entre Dione Carlos, Luiz Fernando Marques e Rodrigo Mercadante e foi dividida em episódios da vida da cantora, construída a partir de uma narrativa épica e melódica, em que todo o texto poderia ser cantado.

Cada um dos 5 episódios em que a peça se divide apresenta uma etapa marcante da vida de Maria D'Apparecida, filha da empregada Dulcelina Marques, morta quando Maria tinha sete anos. A cantora lírica foi criada por uma família de classe média da Tijuca (RJ) que, embora tenha lhe oferecido uma excelente educação, jamais a adotou legalmente. Sofrendo com longos episódios de afonia, em que perdia a voz, começou a fazer aulas de canto e teatro, tendo integrado o Teatro Experimental do Negro como atriz. 

Os episódios de “Maria D'Apparecida: Luz Negra” serão transmitidos no YouTube e no Instagram do Centro Cultural São Paulo, de 11 a 15 de agosto. Na estreia (11), às 20h30, haverá ainda um bate-papo com Dione Carlos e Rosane Borges sobre o processo criativo do espetáculo. Na preparação para interpretar Maria D'Apparecida, Dione conta quais foram os desafios enfrentados e como a música e o canto estão presentes nesta construção. 

“Tivemos a Pandemia, que nos obrigou a realizar ensaios virtuais. Para um espetáculo com tantos números musicais, foi um desafio enorme. Felizmente, as dificuldades nos uniram”, afirma. 

“Tive aulas de canto com a Maestrina Ester Freire e muitos ensaios com o Rodrigo Mercadante, que é ator, mas também diretor musical do espetáculo. Lubi foi um grande maestro neste projeto, soube reger tudo, inclusive me deu apoio e me fez sentir segurança para voltar a atuar, algo que eu vinha adiando há anos", diz Dione Carlos. 

Talentosa, Maria D'Apparecida descobriu sua vocação para o canto lírico, arrebatando diversos prêmios, até ouvir de um maestro que "negra não cantava ópera no Brasil". Decepcionada, partiu para a Europa, onde conheceu o pintor Felix Labisse, iniciando um tórrido e duradouro caso de amor. Aplicada e resiliente, tornou-se a primeira mulher negra a cantar na Opera de Paris, na década de 60, substituindo Maria Callas no papel de Carmen, de Bizet. 

O diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi, diz que o aspecto mais marcante no projeto é a desconstrução do esquecimento, tendo em vista todo o apagamento histórico sofrido pela cantora. Ele conta que a ideia de dividir o espetáculo em 5 episódios veio da vontade de apresentar a grandiosidade de Maria D'Apparecida e suas múltiplas facetas: “A cada episódio, o público vai entrar em contato e descobrir uma das facetas de Maria, que é uma artista muito ampla e completa".