Regina Boni inaugura galeria São Paulo Flutuante

Com a exposição “O Templo do Cachorro Azul”, Regina Boni transforma um antigo galpão da Barra Funda em um espaço que se propõe a democratizar o acesso à produção artística e à arte do colecionismo

Regina Boni, Manu Maltez e a obra O Sacerdote Vermelho (Montsagem / Divulgação / Nadja Kouchi e Romulo Fialdini)
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Por Erika Balbino

No próximo sábado, 27 de fevereiro, será aberta a exposição “O Templo do Cachorro Azul”, que assinala a inauguração da Galeria São Paulo Flutuante, que tem à frente a experiente marchand Regina Boni e seu sócio, o artista Manu Maltez, que também é o autor de todas as obras da mostra, as quais resultaram de seu período de residência neste novo espaço de arte da Barra Funda ao longo de toda a pandemia.

No total, são dois murais desenhados em pastel, 11 telas em tinta acrílica, seis esculturas de arame e tecido (com participação de Regina na costura) e cinco esculturas em pedra-sabão. Manu, um paulistano que vive em guerra com a capital e alterna períodos de permanência na metrópole e outros de isolamento em vilarejos distantes de qualquer burburinho.

Avesso ao convencionalismo e à pasteurização da geração dos algoritmos, Manu é um artista multimídia. Formado em Música, foi aluno da desenhista, gravadora e pintora Ely Bueno e do gravador Evandro Carlos Jardim.

Para quem afrontou militares e a extrema-direita em plena ditadura nos anos 60, não seria uma pandemia em escala global que deteria Regina Boni e seu imutável desejo de renovação. Avant-garde, a marchand que trabalhou com Oiticica, Lygia Pape, Caetano Veloso e Gal Costa, continua com seu olhar apurado e sagaz, unindo toda a sua experiência ao frescor de novas produções nesse projeto de galeria itinerante.

“Mesmo sem ter imaginado me tornar marchand nos anos 80, havia em mim a crença na originalidade de uma proposição artística brasileira em diálogo com o mundo. Uma crença da qual não abro mão e, 16 anos depois, aqui estamos com a Galeria São Paulo Flutuante”, diz Regina.

Sobre esse retorno ao mercado, ela afirma que se deve a uma inquietação equivalente à de 1981, o ano da abertura do primeiro espaço.

“Porém, as razões agora são bem diferentes daquelas que vieram à tona nas décadas em que contribuímos com a modernização do mercado e dos elos entre galeristas e artistas. Hoje, sinto-me desafiada pelos rumos – ou desvios – desse mesmo mercado, em suas vertigens de valores abusivos e curadores estelares, distanciados dos caminhos mais soberanos da criação”, complementa.

De acordo com Regina, as galerias tornaram-se espaços frios e distantes. Assim, esse formato de pensamento afastou o ser humano do acesso à arte e exilou o artista de seu próprio meio e de sua produção.

“Ainda bem que pude perceber em tempo, porque eu não concordava com esse tipo de postura e discurso que está se desmoronando. Constatei que poderia voltar, inovar e, o mais importante disso tudo, que a arte tinha resistido a esse formato elitista, que, para mim, não se enquadra”, afirma.

“O mercado vive uma transformação e está cheio de expectativas. Em 80, esse mesmo mercado foi surpreendido pela minha ânsia de querer criar algo novo e, passados todos esses anos, está voltando para o meu colo novamente. Quero caminhar em outras realidades, transitar por outras propostas estéticas, acolher um novo púbico e praticar novos preços”, diz.

Em relação à breve abertura do novo espaço – um depósito de 300 metros quadrados no bairro da Barra Funda que passou por reformas e adaptações para acolher a galeria –, Regina antecipa: “Não estamos anunciamos um retorno eterno, mas efêmero e flutuante, sem as amarras de um endereço fixo: intervenções em lugares ora vazios da capital paulista, vazios também como metáfora de conceitos e conteúdos abandonados na era dos curadores e do marketing a todo custo. Pretendemos regressar às aventuras das linguagens não-domesticadas pelos conceitos da estação. Quero a arte no calor da rua, no seio dos desejos, no meio do redemoinho. É o nosso recomeço em mais uma etapa dessa viagem.”

Em concordância com a marchand sobre os propósitos estéticos e curatoriais do novo espaço, o artista multimídia Manu Maltez tornou-se sócio dela nesse novo desafio. “Nunca fui um artista de galeria. Achava antiquado, não me interessava. Até conhecer a Regina, que gostou dos meus trabalhos. Nossas ideias se convergem, pois ela coloca o coração na arte, o que é, para mim, uma postura das mais louváveis”, diz Manu, que faz questão de afirmar que não se considera galerista nem marchand.

“Nunca serei. Para mim, o que importa é criar. Quanto ao fato de ser sócio, o mais interessante é poder sair da minha área e ir buscar outros nomes e convidá-los para vir para cá. Hoje, tenho um espaço e quero ocupá-lo com artistas que possam contribuir para esse local”, afirma.

Por sua vez, Regina destaca a parceria com Manu. “Ele iluminou a galeria, trazendo um conteúdo para a minha vida e para o novo espaço que, pela minha idade, não teria acesso. Está sendo um grande enriquecimento, pois ele está criando um fluxo entre artistas mais jovens e eu vou observando”, conta, dizendo-se extremamente feliz de voltar para o circuito.

Sobre
O Templo do Cachorro Azul
Individual de Manu Maltez
27 de fevereiro a 20 de abril de 2021

Serviço
O TEMPLO DO CACHORRO AZUL
27/2 a 20/4 de 2021
Inauguração: 27 de fevereiro de 2021 (sábado)
Horário: das 10h às 17h (por conta das medidas preventivas adotadas em relação à Covid-19, o ingresso na galeria será limitado a seis pessoas por vez)
Onde: Galeria São Paulo flutuante
Endereço: Rua Brigadeiro Galvão, 130, Barra Funda, São Paulo/SP
Tels: 11 91036-3054 e 94535-6422
Site: www.saopauloflutuante.com
Instagram: @sp_flutuante
Facebook: spflutuante
Horarios de funcionamento após a abertura: terça a sexta, das 10h às 12h e das 13h às 18h; sábados, das 10h às 12h