Em São Paulo, Sesc Pinheiros recebe a estreia do espetáculo “O Ator e o Lobo”, com Pedro Paulo Rangel

Peça, inspirada na obra de António Lobo Antunes e com direção de Fernando Philbert, marca a comemoração dos 50 anos de carreira do ator, que assina também a dramaturgia

Foto: Reprodução TV GloboCréditos: Reprodução de Vídeo
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Pedro Paulo Rangel, que figura entre os maiores atores do Brasil, celebra (em 2018-19) bodas de ouro com a profissão. Nascido no Rio de Janeiro, Pedro (70 anos) escolheu comemorar as cinco décadas de carreira levando ao palco o projeto: O Ator e o Lobo. A peça, que conta com direção de Fernando Philbert, estreia no Sesc Pinheiros, em São Paulo, dia 13 de março, e no Rio (Teatro Poeira) dia 11 de abril. O monólogo com título fabulesco foi construído por Rangel e Philbert tendo por base os textos do português António Lobo Antunes, escritor, ganhador do Prêmio Camões, cujo primeiro romance foi publicado há exatos 40 anos. Lobo Antunes verte uma prosa cálida e envolvente. Traz uma narrativa que, sem que o leitor perceba, faz-se ouvir com clareza. E esses textos agora ganham vida na voz e no corpo do ator. “Parece que os textos de Lobo Antunes foram feitos para serem ditos”, explica Pedro Paulo. “Ele cria situações, personagens, diálogos consigo mesmo... é instigante, um desafio. Difícil de fazer, mas muito gostoso”, finaliza. Mas não apenas os escritos de Lobo Antunes compõem o espetáculo. Pedro Paulo Rangel, contador de histórias e cronista, mescla alguns textos seus aos do escritor, costurando Brasil e Portugal, palco e livro, narrador e personagens. Atravessa também gerações: Lobo Antunes, família e seus antepassados, e Pedro Paulo, com sua ascendência portuguesa, os avós de coincidente sobrenome Antunes. Foi de Fernando Philbert a ideia de inserir alguns textos do próprio ator que resgatam memórias pessoais e, eventualmente, envereda pela ficção. Como ressalta: “As histórias de Pepê se articulam com a voz de Antunes num conjunto de olhares sobre a memória, a família e a solidão. Fomos elegendo os textos. E é bom que, em certos momentos, a gente não saiba exatamente de quem é aquele trecho. É toda uma delicadeza, uma poesia”. A relação de Pedro Paulo com a escrita é antiga; ele desataca que, como o autor português, escreve e rasga muita coisa: “Lemos mais de 300 crônicas”, diz Pepê, que completa, “fiquei paralisado com a ideia de colocar meus textos, mimetizar o Lobo Antunes, mas acaba funcionando”. Philbert apresentou Pedro aos textos de Lobo Antunes cinco anos atrás e confessa: “Aderbal Freire-Filho, meu mestre, foi quem trouxe esse escritor aos meus olhos. E quando vi Pepê em cena, quando ouvi aquela voz [...] não deu outra: ele também se apaixonou pelo texto”. Os 50 anos de carreira evocam, para Pepê, “muitas cicatrizes reais e imaginárias”. E uma nostalgia temperada com alguma amargura: “Essa profissão [de ator] já foi viável, hoje não é mais. Sucessivos desgovernos, desimportância da educação e da cultura... mas repito sempre o que alguém, não sei quem, disse: somos condenamos à esperança”. Num cenário frugal, de bancos e cadeiras, vestido com calça de garrafeiro, camisa e colete, Pedro Paulo contracena com projeções de fotos sobre o fundo acortinado. Sua interpretação dá vida a dezenas de personagens. Desfilam a comunhão silenciosa de irmãos que fazem xixi lado a lado no jardim; o encontro amargo, dolorido, com um velho amigo no hospital; a histérica amante do Senhor Biscaia; o homem que espera uma mulher na chuva; os mortos que evidentemente não vão embora; o menino que foge de casa porque não queria comer abóbora; a mãe, seu amante de 20 anos e o filho estupefato; a surdez do avô Antunes, a surdez provocada por milhares de tiros de festim. O ator e o Lobo revela uma desconcertante humanidade. O ator Pedro Paulo Rangel traz na bagagem diversos prêmios, entre eles: três Molière, dois Shell, um Mambembe.  “Sou um dileto filho do teatro, um apaixonado embora não correspondido fã de cinema, mas é a televisão que eu cafetinizo e que me deu tudo o que tenho”, escreve ele na apresentação da peça. Sua estreia, no tenso ano de 1968, foi em Roda Viva, de Chico Buarque, direção de José Celso Martinez Correa, com Marieta Severo e Antonio Pedro. Mas, em retrospectiva, destaca as comédias dentre os gêneros teatrais em que atuou. Na televisão, estreou em 1969, na Tupi, e em 1972, na Globo. Muitos personagens encenados por Pedro não saem da lembrança dos brasileiros. No depoimento ao site Memória Globo, conta que, curiosamente, só passou a se sentir confortável com o ritmo da TV na época do humorístico TV Pirata (1989-1992). Fernando Philbert é um premiado diretor, que foi por quinze anos assistente de Aderbal Freire-Filho, enquanto trabalhava na codireção dos espetáculos Depois do Amor, (última direção de Marília Pêra, com Danielle Winits e André Gonçalves), Vianninha conta o último combate do homem comum, Deixa que eu te ame, Na selva das cidades, Macbeth e Medida por medida. Dirigiu os espetáculos O corpo da mulher como campo de batalha, Cabras Cabras, Quero ser Ziraldo uma aventura sobre as obras do autor, Silêncios Claros, Fio da Meada, Antígona e Ces’t la vie. Assinou ainda a direção de Em Nome do Jogo, com Marcos Caruso, O topo da montanha, com Thais Araújo e Lazaro Ramos, Além do que os nossos olhos registram, com Priscila Fantin e Luíza Tomé, Champanhe e confusão, com Silvia Bandeira, e, O Escândalo Philippe Dussaert, com Marcos Caruso. SERVIÇO O Ator e o Lobo Estreia dia 13 de março de 2019. Quarta-feira, às 20h30 De 13 de março a 6 de abril de 2019. Quinta, sexta e sábado, às 20h30 Local: Auditório (98 lugares) Ingressos: R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (meia entrada: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 7,50 (credencial plena do Sesc - trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). Duração: 60 minutos.  Classificação indicativa: 14 anos.  SESC PINHEIROS Endereço: Rua Paes Leme, 195. Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10h às 18h. Tel.: 11 3095.9400.