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[caption id="attachment_139581" align="alignnone" width="700"] Foto: Vitor Abdala/Agência Brasil[/caption]
Por Vinicius Wu*
Quando você for convidado a apresentar sua participação inteligente sobre o obscurantismo do Estado Islâmico, pense no Museu Nacional.
Aqui não precisamos de ISIS ou Talibãs. Nosso desprezo à cultura, ao patrimônio histórico e à memória é bem mais eficiente. E ele se soma aos “ajustes”, aos cortes de verbas, ao corporativismo que suga os recursos públicos, à má gestão e ao cinismo de quem prefere apontar o dedo a assumir responsabilidades e enfrentar as razões de nossa miséria institucional.
Perdemos muito ontem. As chamas no Museu Nacional levaram um pouco de nossa alma e do sentido de existirmos enquanto nação. Talvez, este tenha sido mesmo um recado da História, um alerta a respeito de nossa profunda incapacidade de nos levarmos a sério ou, quem sabe, um prenúncio do que ainda está por vir.
O que mais dói é saber que nada trará de volta as coleções, as relíquias e toda riqueza que havia ali. Nem todo dinheiro do mundo trará de volta Luzia, a “primeira brasileira”, que resistiu por 13 mil anos e se vê agora vencida pelo irrisório orçamento dos museus brasileiros, pelo descaso, pelo abandono e pelo viralatismo de quem enfrenta longas filas pra visitar o Louvre, mas que nunca atravessou o túnel pra levar seus bem educados filhos pra conhecer o Brasil.
O incêndio no Museu Nacional deveria ser motivo de uma profunda reflexão nacional, de um recomeçar, se é que isso é possível. Mas, sabemos que nossa indignação momentânea, logo cederá espaço ao conformismo, ao esquecimento e o máximo que teremos é a transformação oportunista da tragédia em tema da disputa eleitoral. Talvez, arrumem um ou outro bode expiatório. E não iremos muito além disso.
Mas, o inferno são os outros. Ruim mesmo é viver no Iraque ou no Afeganistão. Quem destrói peças de museus, acervos históricos, monumentos e ameaça nossa civilização é o medievalismo do Estado Islâmico. Aqui estamos salvos de todo mal.
Só não estamos salvos de nós mesmos.
*Vinicius Wu é historiador pela UFRJ e mestre em comunicação social pela PUC-Rio