Zélia Duncan de volta ao começo em “Tudo é Um”

Em seu álbum novo, Zélia volta ao que fazia antes de se transformar em outras, em 2004, quando passou a fazer incursões (muito bem-sucedidas) pela vanguarda e nostalgia da nossa canção

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Entre as várias e boas surpresas que a cantora e compositora Zélia Duncan nos prepara desde sempre, a do seu novo álbum, “Tudo é Um” é exatamente o oposto, ou seja, não ter surpresas. Nele, Zélia volta ao que fazia antes de se transformar em outras, em 2004, quando passou a fazer incursões (muito bem-sucedidas) pela vanguarda e nostalgia da nossa canção. Zélia chega à maturidade se dando ao luxo de voltar a ser o que era. Uma cantora pop, apaixonada pela canção folk. Para a empreitada, ela lança mão de parceiros e amigos como Zeca Baleiro, Dani Black, Chico César, Jaques Morelembaum e Moska, quase todos artistas que, de certa forma, sempre estiveram rondando o universo da cantora. “Tudo é Um” é um lindo sinal de quem, ao que tudo indica, está de bem com a vida. Coisa de quem chega naquela idade em que as ansiedades são controladas, as esperas são mais tranquilas. As canções, em sua maioria, são extremamente boas, a começar pela comovente “Canção de Amigo”, feita com o parceiro da antiga, o uruguaio-brasileiro Christiaan Oyens, que também participa na composição, ao lado de Chico César, da faixa-título “Tudo é Um”, além de ser produtor do álbum. E a produção de Oyens é por si só uma espécie de grife. Mago dos pequenos sons que se completam, o músico veste o álbum com precisão, delicadeza, como se as composições tivessem sido feitas para isso. Outra das canções de Oyens, em parceria com Zélia, é a bela “Olhos Perfeitos”. Uma linda balada com breques inesperados e frases de metais, onde melodia, letra e arranjo funcionam perfeitamente. O disco é daqueles que ganham o ouvinte de primeira. As canções, praticamente todas inéditas, dão sempre a sensação de serem velhas conhecidas. E não porque repetem fórmulas, mas sim por serem fluidas, simples e, sobretudo, agradáveis. Versos redondos, melodias angulosas e arranjos feitos sob medida marcam todo o disco. Os metais, a levada e os pequenos detalhes na faixa “Me faz uma surpresa”, ao lado de Zeca Baleiro, é um dos pontos altos. Zélia transborda de bom gosto em suas composições. A outra parceria com Zeca é “Medusa”, que ganhou elementos percussivos em uma melodia mais vigorosa. Outra participação ilustre no álbum é a de Jaques Morelebaum, parceiro do disco anterior da cantora, onde os dois interpretam as canções de Milton Nascimento. Desta vez, Jaques toca seu cello em “Sempre os mesmos erros”, parceria de Zélia com Fred Martins. “Breve canção de sonho”, em parceria com Dimitri, é uma das que tem um certo jeitão de coisa antiga, romântica, derramada. O neo-romantismo segue com Moska, um dos melhores compositores da sua geração, com a bela “Feliz caminhar”. Zélia segue cantando como nunca. Assim como nas canções e arranjos, tudo parece se encaixar de maneira sutil, sem truques nem exageros, apenas talento, muito talento e tranquilidade. A canção que parece ser a chave de tudo chega no final. “Eu vou seguir”: “E assim, acerto vez em quando. Aprendi com você a gostar mais de mim”, com direito a coral no estilo “Hey Jude”. Só uma coisa a discordar. Ela sempre acerta.