Cidadão, não! Um idiota, em formação; por Zé Barbosa Jr.

"Há uma absolutização da hiperindividualidade em detrimento do coletivo, do social, da cidadania. Sim, aquele casal não mentiu. Eles não são cidadãos. Eles não se sentem parte do todo. Eles não são parte do todo. E nem querem ser. Cidadania é um conceito estranho para quem se pensa único no universo"

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Por Zé Barbosa Jr.

Não é de hoje que as famosas “carteiradas” fazem parte do cotidiano brasileiro, mas agora elas foram legitimadas, autorizadas e celebradas pelo não-cidadão que nos governa. É como na canção de Oswaldo Montenegro: “eu já era o que sou agora, mas agora gosto de ser”.

O que impera hoje em nosso país, e isso vindo de cima como exemplo maior, não é mais o coletivo (Ah! Que saudade do meu ex!), mas o individual. Ou melhor, o hiperindividual. Quero, mas quero para mim, e se puder, só para mim. Não importa mais o outro, o próximo, o vizinho, até mesmo o familiar em risco… se eu quero, por exemplo, andar sem a máscara, quem me impedirá? É o MEU direito!

O que importa se médicos do mundo inteiro, a OMS e os maiores especialistas do assunto dizem que a cloroquina não tem efeito contra o Covid-19? Nada! O que importa é que ele, o presidente, tem um objetivo pessoal e individualista com isso. Faz parte da eterna campanha de Bolsonaro (e ele não pode sair da campanha, pois não sabe governar) esta sensação de “eu contra o mundo”. E isso encontra eco entre os seus seguidores.

Há uma absolutização da hiperindividualidade em detrimento do coletivo, do social, da cidadania. Sim, aquele casal não mentiu. Eles não são cidadãos. Eles não se sentem parte do todo. Eles não são parte do todo. E nem querem ser. Cidadania é um conceito estranho para quem se pensa único no universo.

É por isso que um desembargador não se envergonha de chamar um guarda municipal que o interpela de analfabeto. É por isso que a patroa branca e rica não se sente constrangida de obrigar a empregada pobre a furar a quarentena. É por isso que um deputado não está nem aí de organizar festas diárias em sua casa, a despeito de tudo ao redor. É também por isso que um empresário esculacha um policial na porta da sua residência, sem o mínimo de pudor. E ao "sabe com quem está falando?" se acrescenta "o meu presidente me autoriza".

Não importa mais o coletivo. Não existe cidadania. Só existe a afirmação do indivíduo. E o exemplo, agora, vem de cima.

Fruto de uma sociedade vendida à autoajuda fajuta que sempre afirmou essa “unicidade” e também, e porque não dizer, de uma religiosidade que caminha na mesma direção. Há anos no Brasil que prevalece uma “religiosidade de resultado”, essencialmente individualista e interesseira, indiferente às necessidades do outro e, pior ainda, vendo o outro como inimigo, um rival, um concorrente e, se for preciso, alguém a ser humilhado.

É a época da pós-verdade, onde o que importa é o que cada um acredita, a despeito da ciência, dos estudiosos, dos pesquisadores. É a “era do indivíduo”. É tudo o que o capitalismo sempre sonhou: uma sociedade sem a mínima noção de cidadania. E “abençoada por Deus”!

Nos resta o amém ou lutarmos com todas as forças para que se cumpra a palavra do profeta/poeta Beto Guedes:
“Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver”

E assim vamos… juntos! Sempre!

*Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.